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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
O arquiteto português José Mateus, titular do escritório ARX Portugal, conversa com um dos mais renomados arquitetos atuais, Eduardo Souto de Moura, sobre o novo Estádio de Futebol em Braga

english
The Portuguese architect José Mateus, holder of the office ARX Portugal, talk with one of today's most renowned architects Eduardo Souto de Moura, on the new football stadium in Braga

español
El arquitecto portugués José Mateus, titular del estudio ARX Portugal, conversa con uno de los más renombrados arquitectos actuales, Eduardo Souto de Moura, sobre el nuevo Estadio de Fútbol en Braga

how to quote

MATEUS, José. Eduardo Souto de Moura. Entrevista, São Paulo, ano 05, n. 019.03, Vitruvius, jul. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/05.019/3325>.


Arquibancadas junto à pedreira. Estádio de Futebol de Braga, arquiteto Eduardo Souto de Moura

José Mateus: Visitou outros estádios de futebol?

Eduardo Souto de Moura: Comecei a visitar estádios por razões técnicas: em Sevilha vi dois, em Itália vi o estádio que me parecia mais bonito, o de Bari, do Renzo Piano, que tem fortes influências no de Braga. Depois, acabei naquele que se diz ser o “último grito”, o de França, onde eu e os meus colaboradores fomos quatro vezes. Claro que também estudei futebol e comecei a ir ao futebol com cronômetros a medir o tempo de evacuação dos estádios, pois tem de se poder sair em sete minutos. Aproveitava os Boavista-Benfica que eram aqui ao lado, o Porto-Barcelona... Agora sou um fervoroso adepto de futebol. É de fato um espetáculo lindíssimo ao qual nunca tinha ligado.

JM: Muita gente deve ter a idéia de que Souto de Moura faz uns desenhos extraordinários e depois sai um estádio daqueles. Sabemos que as coisas não são bem assim: trabalha-se muito e os resultados vão evoluindo, aos poucos, e com os esforços de uma equipa pluridisciplinar extensa…

ESM: Eu sou, ou era, um arquiteto de escalas pequenas, fazia muitos projetos de casas, e depois apareceu esta oportunidade. As pessoas agora elogiam e pensam que tudo se processou exatamente como eu queria. Não é verdade. É um bocado como os cirurgiões que estão aflitos agarrados ao coração a ver se um tipo não vai à vida, e eu estava aflito com uma maquete e muitas vezes pensava 'isto não cabe, é pequeno, a que escala está?'. Isto não é humildade, não se controlam facilmente aquelas escalas. Braga foi uma oportunidade única, agarrei-a com os dentes todos. Aquele não foi apenas “mais um projeto”. Eu mudei a minha maneira de viver, quero dizer, os tempos eram apertados, a informação faltava... há pessoas que vão para retiros, outras preferem momentos de reflexão junto aos monges na Índia ou no Tibete. Eu fui para o estádio do Braga. Fiz um gabinete só de estrangeiros — não é que eu tenha algo contra os portugueses, mas era preciso trabalhar dia e noite e isso é mais fácil para um japonês que vem trabalhar para o Porto. Havia uma grande intensidade, as pessoas só viviam para aquele projeto. Começamos a viajar e era informação, cinema, televisão, Suíça, UEFA, FIFA, regulamentos, segurança, etc. Uma simples guarda era um problema, pois tinha que suportar as cargas tremendas de uma multidão em tumulto, e tinha de ser calculada pelos engenheiros. Depois, nas viagens, íamos confirmar algumas dessas soluções, 'deixa lá ver como em Paris resolveram essa guarda, ou em Bari…'. E o projeto foi alterado inúmeras vezes durante a obra. Trabalhou-se noite e dia, havia um carro a fazer permanentemente a ligação Braga-Porto, e um grupo de arquitetos que saía do estádio às nove, dez da noite, desenhava durante a noite, e às nove da manhã entrava outra equipa para dar a informação à obra. Mais do que arquitetura, isto é um certo heroísmo.

JM: A minha percepção do estádio é que, sendo desenhado com o sítio, não constrói com ele uma idéia de harmonia...

ESM: Não é nada amável, ele compete com o sítio, mas isso é um tema que eu gosto imenso: a expressão 'natureza e artefato' é uma frase bastante batida mas vêem-se as energias naturais e de como elas se contrapõem à arquitetura, quer em termos de paisagem e silhuetas quer em termos físicos. Mal foi aprovado que o estádio iria ser feito como eu sugeria, fui a Epidauros, na Grécia, porque o tema era aquele. Eu não fazia a mínima idéia do que era a relação com a paisagem, como se faziam os cenários de filtragem... Não há arquitetura aberta, mas há filtros. Há os bosques, que para além de garantirem a acústica criavam um primeiro limite e davam um ambiente, e há a paisagem com a silhueta ao fundo. Coisas que os gregos faziam muito bem. E fui a Corinto, ver o canal. Foi nesses sítios e nas visitas que fiz aos estádios que fui encontrando as sugestões para Braga.

JM: Fala-se do Braga como 'o mais arrojado dos Estádios'. Que arrojo?

ESM: Há vários tipos de arrojo: o do dono da obra, que teve de arranjar o dinheiro para o estádio existir, e mesmo antes disso, por exemplo, tiramos um milhão e quinhentos mil metros cúbicos de pedra. Depois, colocou-se a questão da pala, que em princípio era para ser contínua, e aí a referência era a pala do Pavilhão de Portugal do Siza, mas enquanto a do Siza tem 60 metros, a do estádio tem 220. Existe ousadia por parte do arquiteto por dizer: 'é assim'. Para os engenheiros era 'um problema complicado porque nunca se fez nada igual, seria a maior pala do mundo'.

JM: Se um estádio é um investimento tão grande faz de fato sentido ser pretexto para uma obra significativa...

ESM: Não há ninguém que defenda mais a sua obra que os arquitetos, mesmo entrando em grandes contradições. Reparo que eu, os meus amigos e pessoas com quem eu convivo defendem as obras como os filhos, até ao ridículo quase. É raríssimo um arquiteto abandonar uma obra, só se for chicoteado, porque ele agüenta as humilhações, agüenta que não lhe paguem, agüenta que lhe pintem aquilo de roxo e ele depois tem a esperança de lá ir a um domingo de manhã e pintar da cor que quer. Nas minhas viagens eu percebi que um estádio é também um lugar de atração para as famílias. Quando fui ao Estádio de França vi que as pessoas reservam espaços, vendem livros, etc. Um estádio é uma empresa para dar lucro: paga-se bilhete, come-se lá, vai-se às lojas, e todas as semanas pode haver um evento qualquer, como corridas de tratores, de motas, exposições de casas pré-fabricadas, etc. Portanto, se um estádio for bem gerido, esta idéia de que as vedetes ganham imenso dinheiro mas os clubes estão falidos não tem de ser assim.

Escadaria da arquibancada. Estádio de Futebol de Braga, arquiteto Eduardo Souto de Moura

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