Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Entrevista com Saturnino Braga, primeiro prefeito eleito da cidade do Rio de Janeiro depois da redemocratização após ditadura militar, fato ocorrido em 1985, há 20 anos

english
Interview with Saturnino Braga, first elected mayor of Rio de Janeiro after the re-democratization after military dictatorship, fact occurred in 1985, 20 years ago

español
Entrevista con Saturnino Braga, primer intendente electo de la ciudad de Río de Janeiro después de la redemocratización pos dictadura militar, hecho ocurrido en 1985, hace 20 años

how to quote

BARBOSA, Antônio Agenor. Roberto Saturnino Braga. Entrevista, São Paulo, ano 06, n. 021.01, Vitruvius, jan. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/06.021/3319>.


Saturnino Braga em foto histórica, com Tancredo Neves e Ulysses Guimarães

A trajetória política

Antônio Agenor de Melo Barbosa: Quais os principais cargos que o Senhor já ocupou na política?

Roberto Saturnino Braga: Eu fui primeiro Deputado Federal pelo PSB em 62. Em 1964 eu não fui cassado, mas em 1966 eu tive a minha candidatura à reeleição impugnada e não pude concorrer, pois o SNI não permitiu que eu concorresse. Eu não fui cassado porque eu era um Deputado muito jovem que tinha entrado em 1962 com 31 anos. Eu não tinha expressão na época e em 1964 eu tinha apenas dois anos de mandato.

O SNI com um ofício impugnou a minha candidatura à reeleição em 1966 e o Tribunal Regional Eleitoral aceitou a impugnação. Então eu voltei para o BNDE em 1967, pois eu era funcionário público. E lá fiquei até 1974. Foram quase 10 anos de afastamento. Na eleição de 1970 eu cheguei a cogitar de participar, mas o clima no Brasil era o pior possível. Foi a eleição em que grande parte da esquerda resolveu votar em branco como protesto. Já tinha sido assinado o “AI. 5” em 1968. O clima era péssimo. A vitória da ARENA foi esmagadora, o MDB que era oposição ficou com uma bancada reduzidíssima. Em 1974 eu também cheguei a cogitar me candidatar a Deputado Federal por que o velho Amaral Peixoto insistia muito comigo. E tem o fato de que em 1966 os partidos todos foram dissolvidos e o PSB também. Aí eu fui pro MDB, eu fui um dos fundadores do MDB. Assinei a ata de fundação como deputado do MDB.

Quando eu voltei para o BNDE eu fiquei meio encostado por lá nas minhas funções. Era o regime militar e eu era visto como um político esquerdista. Fiquei na geladeira do BNDE e agüentei o gelo por alguns anos. Mas quando em 1970 e pouco – não me lembro bem o ano exatamente - assumiu a Presidência do banco o Marcos Vianna um engenheiro, mas de formação econômica as coisas melhoraram para mim. Era um homem aberto, inteligente com uma visão interessante. E ele então passou a me chamar para ocupar cargos importantes na estrutura do BNDE. Cheguei até a ser Chefe de Gabinete da Presidência no BNDE. Mas ele sempre me colocava respondendo pela Chefia, eu não cheguei a ser nomeado oficialmente pois se eu fosse nomeado a qualquer cargo de confiança a minha ficha tinha que passar pelo SNI. E não seria aceita certamente a minha nomeação pelo SNI. Mas o fato é que aí eu me senti prestigiado dentro do banco e não estava muito a fim de disputar eleição em 1974.

Para ser fiel aos fatos eu devo relembrar que a fusão do Estado do Rio com a Guanabara já tinha sido decretada, mas as eleições ainda se processaram separadamente e depois é que se unificou a bancada. Ocorre que em setembro de 1974, dois meses antes da eleição, o candidato do MDB a Senador pelo Estado do Rio, o Affonso Celso Ribeiro de Castro, em setembro teve um AVC, um derrame. Por conta disto, ele não pode continuar a campanha. Aí eu, que estava bem no banco e satisfeito com o meu trabalho com o Marcos Vianna, fui chamado pelo velho Amaral Peixoto que era o Presidente do MDB no Estado do Rio. E aí ele me fez aquele apelo. O apelo de quem tinha sido uma espécie de líder político do meu pai. E ele me disse: “Você tem que ser o nosso candidato a Senador. Por que nós não temos outro nome aqui no Estado do Rio. Você foi Deputado e deixou um nome, você também tem o nome forte da sua família e você tem que ser o nosso candidato pelo MDB”.

Aí eu atendi ao apelo do Amaral Peixoto e mesmo com chance zero eu me candidatei. Mas eu ganhei a eleição e com apenas dois meses de campanha e fui eleito Senador naquela eleição. E eu me lembro bem desta conversa com o Amaral Peixoto que foi num dia 13 de setembro que é o dia do meu aniversário. E a eleição foi em 15 de novembro daquele ano. Mas aquela eleição de 1974 foi a primeira eleição em que houve a televisão gratuita no Brasil. O horário político gratuito da televisão era dividido meio a meio entre a ARENA e o MDB. E ele me disse que eu iria ter todo dia cerca de 5 minutos na televisão para eu poder falar. Só que era ao vivo. Não havia gravação e não dava para organizar muita coisa. O fato é que eu fui lá e depois de algum tempo consegui subir no IBOPE, digamos assim, e ganhei a eleição mesmo sendo considerado um azarão no início da campanha. E o meu adversário que era o Marechal Paulo Torres que era já Senador, era o Presidente do Senado, já tinha sido Governador do Estado era o franco favorito. Ganhei com dois terços dos votos.

AAMB: Quem comandava o MDB na época?

RSB: O MDB no Rio era dominado pelo Chagas Freitas que era oposição, mas na prática obedecia inteiramente ao Regime Militar. E fazia este jogo duplo, mas tinha maioria na assembléia e comandava inteiramente a política do Estado. E depois da fusão, mesmo com diferenças, ele acabou se compondo com o Amaral Peixoto. E isto tudo num momento delicado, de ditadura militar, logo após a fusão. Eu confesso que fiquei meio à margem destas costuras e destes acertos na época. Houve certo momento em que Tancredo Neves, que tinha fortes ligações com os militares e influenciado pelos militares, resolveu criar um novo partido junto com o Chagas Freitas para ser uma oposição mais obediente ao regime e fazendo um eixo político “Rio – Minas” que os dois representavam muito bem. Eles saíram do MDB e formaram o PP (Partido Popular). E com isto eu fiquei com uma posição de destaque no MDB do Estado do Rio e cheguei até a ser lançado candidato a Governador pelo Ulisses Guimarães. Isso já em 1980. Mas em seguida Tancredo Neves e Chagas Freitas verificaram a inviabilidade do PP e eles resolveram voltar ao MDB e o Ulisses Guimarães e o Amaral Peixoto aceitaram esta volta mas eu não aceitei.

Aí eu vi que eu ia ser esmagado politicamente com esta volta deles ao MDB. O que eu fiz? Eu fui para um Partido que acabara de ser fundado com a volta de Brizola do exílio que foi o PDT. E me dispus a disputar a eleição da minha recondução ao Senado já pelo PDT na chapa do Brizola na eleição de 1982. Esta que foi a primeira eleição direta para Governador dos Estados e o Brizola foi eleito com maioria esmagadora. Vitória esmagadora e de certa forma também inesperada. Eu era considerado novamente um “azarão” nesta eleição e venci a eleição. E como um bom botafoguense que sou encarei o fato de ser azarão na eleição com naturalidade. Você sabe do ditado que diz que tem coisas que só acontecem com o Botafogo. (risos)

Ganhei a eleição para o Senado em 1982, pelo PDT, e chegou o momento da eleição direta para Prefeitos das Capitais do Brasil – que até então eram nomeados e não eleitos pelo voto direto – em 1985, foi aberta a possibilidade de se eleger Prefeitos para um curto mandato de 3 anos. E aí se repetiu a velha história que já te relatei nos tempos do Amaral Peixoto: quem lançar como candidato a Prefeito naquela importante eleição?

Aí eu fui convocado, naquela ocasião, pelo Brizola que me dizia: “tem que ser você, tem que ser você, eu sei que o seu perfil e a sua intenção é ficar no Senado, mas tem que ser você o nosso candidato a Prefeito.”

AAMB: O senhor então não queria sair candidato a Prefeito pela sua vocação parlamentar?

RSB: Exatamente. Sempre tive a vocação parlamentar, e admito. Eu sempre fui mais das formulações e nunca gostei muito das tarefas rotineiras que, em geral, o Poder Executivo nos impõe naturalmente. O dia a dia do Executivo nunca me atraiu, ocupar-me com coisas que não tinha muito interesse. Ao contrário, a minha vocação e o meu empenho e interesse sempre foi o Parlamento onde podia formular, pensar e legislar a longo prazo sem as tarefas rotineiras – de curto prazo - que a prática do Poder Executivo exige. Mas aí cedi às pressões partidárias e ao chamado do Brizola e fui candidato a Prefeito.

AAMB: O senhor era “azarão” também?

RSB: Não. Não. Aí eu era franco favorito nesta eleição. E fui eleito com quase 40% dos votos disputando com 19 candidatos. Fui eleito em 1985 e exerci o meu mandato de 1986 a 1988. E aí vivi o drama angustiante e a pior fase, o pior momento da minha vida política que foi a crise financeira do município do Rio nos seis últimos meses da minha gestão. Ali a Prefeitura entrou em falência e isto ficou como um carimbo no finalzinho da minha gestão. Um carimbo de ineficiência na gestão das finanças e também de incapacidade e de ineficácia para resolver tais problemas. Felizmente, não foi nada que atingisse a minha honradez e a minha integridade, mas ficou sim como uma marca ruim do meu Governo. Bem, paciência. Enfrentei o problema de cabeça erguida e creio que dei a volta por cima, pois algum tempo depois saí candidato a Vereador e fui eleito aqui no Rio e depois ainda fui reconduzido pelo povo ao Senado no atual mandato que estou exercendo atualmente como Senador do PT pelo Estado do Rio.

AAMB: A sua trajetória política também não foi nada planejada, certo?

RSB: Sim você está certo, não foi nada planejado.

comments

021.01
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

021

021.02

Jorge Wilheim

Marcelo Corti

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided