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interview ISSN 2175-6708

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Nesta entrevista, Nuno Teotónio Pereira, um dos mais importantes arquitetos portugueses, comenta seu trabalho e seu modo de projetar que vê os edifícios como uma oportunidade para expressar e questionar essa condição humana

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GUIMARÃES, Carlos; CRISÓSTOMO, João; LOUREIRO, Luís. Nuno Teotónio Pereira. Entrevista, São Paulo, ano 09, n. 034.01, Vitruvius, abr. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/09.034/3288>.


Edifício Frajinhas. Prêmio Valmor 1971. Arquitetos Nuno Teotónio Pereira e J. Braula Reis, Lisboa, 1965-1967
[fonte: www.ulisses.cm-lisboa.pt]

NU: Gostaríamos de abordar essa questão dentro do seu atelier – a complexidade que se fala que o projecto adquiria, fazia parte da solução do problema. De que forma é que essa multidisciplinaridade e os diferentes elementos do seu atelier, com a sua individualidade própria, proporcionavam essa complexidade ao projecto. Como é que se obtia a singularidade e a essencialidade do projecto que era fundamental. Como é que através desse espírito de grupo e de trabalho formando um pensamento complexo se obtinha a essencialidade do projecto que é tão importante.

Nuno Teotónio Pereira: Bom, uma coisa que sempre fizemos foi discutir muito as soluções em grupo, respeitava-se muito a criatividade dos colaboradores. Quando apareciam soluções interessantes que não eram minhas, eram de colaboradores mais jovens, essas soluções impunham-se pelo próprio valor e era assim que se ia desenvolvendo cada projecto. Em ateliers de muitos colegas nossos há o mestre que tem as ideias todas, que concebe, que cria e depois há os colaboradores que desenvolvem, pormenorizam. E eu como não tenho esse espírito de grande criador, isso deu a possibilidade de se afirmarem criações de outros colegas, muitas vezes mais jovens.

NU: Esse ambiente de atelier, de conversa, de confronto, enquanto estudante, é muito importante que aconteça nas escola, durante as aulas e não só. O trabalho evolui claramente quando se discute com os colegas; isso é essencial, não só por vezes se resolvem problemas que sozinho demoraria muito mais tempo, como se ultrapassam clichés em que às vezes acabomos por cair quando ficamos muito agarrados a uma ideia desenhada ou a uma solução já encontrada.

NTP: E vocês conseguem isso na escola…

NU: Sim. No fundo somos professores uns dos outros.

NTP: Exactamente, eu gosto muito dessa expressão. Eu já utilizei essa expressão em relação aos colaboradores, e dizer-lhes “aqui não há o mestre que manda, que dita…”

NU: Também é muito frequente estarmos em casa a trabalhar, a preparar uma entrega, em que estamos mais apertados e há que resolver.

NTP: Também é preciso, o trabalho individual também é necessário. Havendo colaboradores com uma personalidade tão individual e também pensando no contexto pós 25 de Abril, em que o volume de encomendas era muito reduzido, perdia-se muito tempo numa obra que passa pela mão de tantos colaboradores. Ou seja, a crítica dessas partes já e plural e já não encontra uma crítica externa e desligada do processo. Ou seja chega-se a um ponto em se pode entrar num círculo vicioso em que o projecto se começa a fragmentar.

Há uma coisa na nossa profissão que ajuda, que é a questão dos prazos… os clientes não podem estar à espera e então isso dá lugar a noitadas. Nós trabalhávamos uma noite inteira e fins-de-semana e essa necessidade de avançar eu acho que tem aspectos positivos para o trabalho, porque é preciso vencer os impasses, é preciso andar para a frente, é preciso concretizar. Há discussões, há hesitações, há pontos de vista diferentes mas é preciso concretizar. Agora está-se numa época em que se exigem prazos absolutamente parvos, os projectos têm de ser feitos em poucos meses por causa da concorrência. O nosso trabalho agora é entendido como uma espécie de mercadoria, faz-se uma encomenda e essa encomenda tem x meses para ser feita e esses prazos demasiadamente curtos são muito nocivos para a qualidade do trabalho, porque o trabalho tem de ser desenvolvido, tem que nascer, tem de amadurecer. É ir para casa a pensar nele, nós temos insónias “amanhã no atelier tenho de rever isto porque não está a sair bem…” e outras vezes temos de fazer pausas, esquecer um tempo, deixar o trabalho parar e isso agora quase sempre não é possível, faz parte da sociedade actual…

Outro aspecto muito negativo que há agora é o controle financeiro da obra; o Siza de vez em quando fala nisto. Não nos deixam fazer alterações. Nós vemos a obra a crescer e a certa altura dizemos “isto aqui tem de ser modificado, porque não fica bem exactamente como está no projeto” – isso agora é praticamente impossível. Por exemplo, no atelier tínhamos trabalho redobrado, trabalhávamos com desenhos gerais à escala 1/100 ou 1/50, alguns aspectos à escala 1/20 e depois tínhamos os pormenores de caixilharias e cozinhas. E depois desenvolvíamos muito uma coisa que nós chamávamos os pormenores para a obra. À maneira que a obra ia crescendo nós íamos fazendo certos pormenores que não tinham sido pensados ou que tinham ficado esquecidos de acordo com aquilo que sentíamos, já com a obra em andamento. E isso no fim de tudo é que dava um volume enorme de desenhos. Agora tem-se de entregar tudo completamente desenhado e não pode ser nada alterado e a mim custa-me bastante adaptar a essa imposição.

Edifício Frajinhas. Prêmio Valmor 1971. Arquitetos Nuno Teotónio Pereira e J. Braula Reis, Lisboa, 1965-1967
[fonte: www.ulisses.cm-lisboa.pt]

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