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interview ISSN 2175-6708

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Na entrevista concedida à Ana Rosa de Oliveira, o arquiteto Fernando Tábora conta a experiência de ter trabalhado de 1955 a 1964 na sociedade Roberto Burle Marx e Arquitetos Associados

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OLIVEIRA, Ana Rosa de. Fernando Tábora. Entrevista, São Paulo, ano 09, n. 036.01, Vitruvius, out. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/09.036/3283>.


Parque do Flamengo

Ana Rosa Oliveira: Como era o Grupo de Trabalho?

Fernando Tábora: O grupo surgiu do seguinte: Carlos Lacerda deu à Lota, sua grande amiga, o papel de coordenação e direção geral do projeto. Ela era a chefe do projeto e foi quem selecionou o grupo. Existiam quatro grandes equipes, uma era encarregada do desenho do parque e estava a cargo de Roberto Burle Marx e Arquitetos Associados. A outra estava encarregada pelas vias de circulação e de toda engenharia e infra-estrutura, sob responsabilidade da SURSAN. A equipe de arquitetura estava a cargo do Jorge Machado Moreira e do Affonso Reidy (1) e, finalmente, as questões associadas à vegetação e solos foram encarregadas a Luiz Emygdio de Mello Filho que assessorava a equipe do Burle. O Burle estava muito interessado em introduzir neste parque espécies que nunca haviam sido utilizadas em paisagismo. Nós fomos a Cuba, de lá trouxemos uma grande quantidade de plantas do Jardim Botânico de Cienfuegos, que tinha pertencido à Universidade de Harvard, mas naquele momento pertencia ao governo cubano, pois Fidel Castro havia tomado conta de tudo. Mesmo assim, eles nos deram sementes e plantas, entre elas as famosas palmeiras das folhas enormes, as Coryphas toreanas e também as bombacáceas, Bombax ellipticum (2). Essas importações foram importantes, porém, maior relevância é devida às plantas provenientes das coleções derivadas das expedições que Burle Marx fez ao Espírito Santo e Rio de Janeiro.

ARO: Que plantas foram introduzidas?

FT: Eram principalmente plantas que se adaptassem aos ventos do mar e a salinidade do solo. O aterro tinha sido feito com lama salgada do fundo da Bahia. Por isso, tudo era um grande experimento, não se sabia o que ia acontecer. Também foi utilizado um composto feito a partir do lixo do Rio de Janeiro, que embora não fosse perfeito, ao ser misturado com a terra permitiu o plantio das árvores. Apesar de ter sido uma área problemática, o resultado final foi muito bom.

ARO: O confronto entre Burle Marx e Carlota surgiu da redução gradativa do poder de decisão dele?

FT: Sim, a Lota e o Burle começaram a separar-se quando a Lota encarregou a outros profissionais projetos que Burle tinha como seus principalmente os playgrounds. A ruptura total ocorreu quando Júlio César Pessolani deixou o Burle para trabalhar diretamente com a Lota e a Prefeitura, abandonando a sociedade.

ARO: Era o arquiteto Júlio Pessolani quem tomava as decisões?

FT: Depois que a equipe produziu o desenho do Plano Diretor, eu e o John passamos a morar na Venezuela. No Rio ficou o Pessolani. A Lota era a figura principal, era ela quem tinha a incumbência de fazer o parque. Isso continuou depois de 1964, mesmo quando o Lacerda terminou seu mandato e foi substituído pelo Negrão de Lima. O Pessolani, logicamente, tinha que resolver os problemas da implementação do projeto do parque e articular-se com os encarregados pelo urbanismo e serviços. Burle Marx sempre esteve encarregado dos plantios e desenho de certos elementos formais como muros, bancos etc, que eram detalhados por Pessolani.

ARO: O senhor acha que a Carlota respeitava o Grupo de Trabalho?

FT: Sim, ela não impunha nada. O problema foi o mesmo que ocorreu com o Parque del Este. O Aterro, em muitas áreas estava fora do alcance do Burle Marx como indivíduo. Era necessário um trabalho de equipe, não só dele individualmente, apesar do seu valor. Todo mundo pensa que ele fazia tudo sozinho, era impossível. Com a sua formação, e um projeto com tantos elementos que ele não podia controlar, era indispensável um trabalho de equipe. Isso não tira, em absoluto, a genialidade do Burle. O problema era o seu terrível ego de artista o qual não aceitava que, em um momento determinado, a equipe tivesse o mesmo valor que ele. O Grupo de Trabalho sempre foi respeitado por Lota. A única vez que se opôs a um de seus arquitetos foi contra o projeto de Sérgio Bernardes para o restaurante, que considerou fora de escala.

Outros fatores também contribuíram para a dissolução da equipe, como por exemplo: a ditadura no país. A minha última viagem ao Brasil com o Burle foi para Brasília, justamente no dia em que o Jânio Quadros renunciou à presidência. Tínhamos as passagens marcadas para ir à Brasília assinar os contratos referentes aos planos das áreas verdes da cidade.

Foi a única vez que vi gente com metralhadora para que pudéssemos subir no avião. Chegamos lá e assistimos no Palácio, as votações para que o Jango voltasse. Estivemos na história. Naquele momento, o Lúcio pretendia fazer um parque inglês em torno da Esplanada dos Ministérios. O Oscar queria um mall inglês, que foi o que se manteve.

notas

1
Além de Hélio Mamede (arquitetura), Berta Leitchic (engenharia)

2
Pseudobombax ellipticum, pincel-de-barba. Árvore ornamental caducifólia, de elevado porte e tronco verde, de madeira mole, de 15-25 m de altura, nativa desde o sul do México até o norte da América do Sul. Cfr. LORENZI, 2000, p.218.

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