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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Leia a entrevista concedida por Álvaro Santos a Felipe Contier de janeiro e julho de 2009, em que o geólogo formado na FFLCH-USP fala sobre a relação da geologia com a arquitetura e o urbanismo

english
Read the interview by Alvaro Santos to Felipe Contier between January and July 2009, in which the geologist from the USP-FFLCH talks about the relationship between geology, architecture and urban planning

español
Lea la entrevista concedida por Álvaro Santos a Felipe Contier de enero a julio de 2009, en donde el geólogo formado en la FFLCH-USP habla sobre la relación de la geología con la arquitectura y el urbanismo

how to quote

CONTIER, Felipe de Araujo. Álvaro Rodrigues dos Santos. Entrevista, São Paulo, ano 10, n. 039.01, Vitruvius, jul. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/10.039/3279>.


[fonte: Acervo Toledo & Meinhofer]

Felipe Contier: No caso das enchentes de Santa Catarina, que causaram mortes e desabrigaram milhares de pessoas, onde o homem errou? Foram falhas da engenharia das cidades ou os problemas são globais? O que poderia ter evitado a tragédia?

Álvaro Rodrigues dos Santos: É preciso ficar claro a todos que a tragédia de Santa Catarina, como outras tragédias similares, não tem absolutamente nada a ver com problemas ambientais planetários, como o aquecimento global. Os que fazem essa associação estão agindo de má fé, procurando uma forma de esquivar-se de suas responsabilidades frente a esses eventos.

Invariavelmente em nosso país as expansões urbanas têm se pautado pela completa ausência de planejamento e qualquer critério técnico mais adequado às características geológicas dos terrenos ocupados. Não por outro motivo, como verdadeiras e ostensivas agressões à Natureza, têm composto o cenário de graves acidentes geológicos associados a escorregamentos e enchentes. Os milhares de cidadãos brasileiros que em tempos passados e contemporâneos já morreram soterrados por essas avalanches de lama e rocha deveriam ao menos representar para todos o eloqüente aviso que a própria Natureza nos passa já há séculos: em nossas regiões tropicais e subtropicais úmidas de relevo acidentado há encostas que não devem ser ocupadas de forma alguma e há trechos de encostas que podem ser ocupados, mas desde que obedecidos rígidos critérios técnicos a elas adequados.

Ou seja, tragédias como a de Santa Catarina ocorrem por culpa exclusiva da ação humana, não há nada de errado com as chuvas e a geologia, o crime é exclusivamente humano. É um crime comandado pela incompetência e pela irresponsabilidade com que nossas administrações públicas lidam com as ações urbanas de uso e ocupação do solo.

FC: A engenharia da época poderia prever os resultados que conhecemos nos edifícios do litoral de Santos? E o caso do desabamento do metrô de São Paulo? O que mudou na tecnologia de prospecção do solo no último século no Brasil?

ARS: Especialmente da década dos anos 60 do século 20 para cá a Geotécnia brasileira, promovida pela Geologia de Engenharia e pela Engenharia Geotécnica, tiveram um avanço revolucionário de conhecimentos. Nesse campo temos no país competência técnica e científica que em nada fica a dever à competência instalada nos países adiantados. Os acidentes que ocorrem em obras civis em nosso país têm sua explicação em fatores fora da área técnica, muitas vezes associados a um objetivo empresarial em se conseguir margens de lucro desmesuradas. Há outros fatores que colaboram para a ocorrência desses acidentes, mas todos fora da componente técnica.

FC: No quesito transporte, a engenharia enfrenta grandes desafios não apenas para o problema do trânsito nas grandes cidades, mas também para a integração nacional de um território vasto como o brasileiro. Quais as soluções de transporte mais adequadas para nossa realidade geográfica e geológica, levando em consideração os fatores técnicos e econômicos?

ARS: O total abandono da estratégia ferroviária foi um dos maiores erros cometidos pelo país. Francamente não saberia dizer se há como corrigir esse erro, com toda uma logística de transportes rodoviários já implantada e toda uma estratégia de transportes de carga baseada em caminhões. Confesso que a mim parece que as decisões brasileiras em transportes foram se dando como decorrências de grandes jogadas de interesses privados. Veja que com toda a extensão de costa que temos, e com os grandes centros econômicos quase todos junto ao litoral, nosso transporte de cabotagem ainda é uma vergonha. Como explicar isso senão como uma conseqüência de grandes tramas comerciais?

FC: Conte-nos um pouco de sua pesquisa sobre Cubatão e a rodovia dos Imigrantes. Qual o papel do fator geológico no desenvolvimento histórico e econômico de cidades?

ARS: Formei-me em 1968. No início de 69 já estava contratado pelo IPT para trabalhar na definição do traçado da Rodovia dos Imigrantes. Nessa ocasião internei-me por 2,5 anos na Serra do Mar. Conheci-a em seu âmago, em todas suas belezas, em seus segredos. Daí a paixão e reverência com que dediquei boa parte de minha vida profissional ao entendimento de suas leis naturais próprias, de sua história e de seu comportamento geológico. Conhecimento que registrei em meu livro A grande barreira da Serra do Mar – da trilha dos Tupiniquins à Rodovia dos Imigrantes.

Do ponto de vista das transposições viárias da Serra do Mar, como das obras civis a elas similares, a segunda pista da Rodovia dos Imigrantes implantou um referencial de conceitos de projeto e planos de obra de excelência ímpar, totalmente adequado às sensíveis características geológicas naturais da Serra, particularmente à sua extrema suscetibilidade a escorregamentos. Esse referencial constitui hoje um paradigma tecnológico, uma garantia para que eventuais novas obras viárias, ou similares, de transposição da região não cometam os graves erros do passado e também se pautem por inspirar seus projetos no próprio comportamento natural da Serra e suas encostas.

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