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interview ISSN 2175-6708

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Isa Clara Neves entrevistou Eduardo Souto de Moura no ano de 2012, um ano depois de ter ganho o Prêmio Pritzker. A conversa ocorreu no ateliê do arquiteto, na cidade do Porto, Portugal.

how to quote

NEVES, Isa Clara. Entrevista com Eduardo Souto de Moura. Entrevista, São Paulo, ano 16, n. 063.03, Vitruvius, jul. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/16.063/5603>.


Museu Paula Rego, Cascais, Portugal, 2008. Arquiteto Eduardo Souto de Moura
Foto Luís Ferreira Alves [website Pritzker Prize]

Isa Clara Neves: Afirmou recentemente o seguinte: “A minha posteridade é a atual, só me interessa o presente.” Consegue viver o presente com tanta intensidade? Não se preocupa com o futuro?

Eduardo Souto de Moura: Não. Há uma frase que explica bastante bem essa minha questão – não é pela frase que eu sou assim –  é do Einstein que diz:  “o futuro chega demasiado depressa”. Não vale a pena pensar como é que vai ser o futuro. É uma constatação, portanto, o futuro é praticamente o presente.

Segundo, com a idade, uma pessoa vai percebendo algumas regras do jogo – não queria usar a expressão “à medida que se fica velho” – mas com a idade, com a experiência, percebe-se que o futuro, as vanguardas não são assim tanto rupturas com o passado, e que a arquitetura é uma coisa muito lenta e pode ter um aspecto de imagem muito diferente, mas tem um suporte e uma compreensão muito semelhante entre as várias épocas e as várias linguagens, que são as alterações de materiais, sistemas construtivos, etc. Há uma espécie de conceito, de ideias base de arquitetura, de casas, de portas, e de janelas, etc. Portanto, eu sei que aquilo que vem aí não vai ser muito diferente do que se tem feito. Andou aí num jornal uma pergunta qualquer sobre como vai ser o mundo daqui a 20 anos. Vai ser muito parecido com o que é agora, porque nós estamos em 2012, e se virmos um filme de há 20 anos é tudo igual. Ainda no outro dia vi o Blow Up, do Antonioni, o tema é atualíssimo, e até reparei no modo das pessoas se vestirem...o filme tem uns 40 ou 50 anos e podia ser passado hoje, quer pelos carros, quer pelas roupas, que é uma coisa que data muito os filmes...As pessoas com as calças à boca de sino, uns bigodes, umas patilhas. E, portanto, há esses artistas, ou realizadores, ou arquitetos, quase universais, que não têm data... isso eu vi... portanto o que interessa não é o presente, é resolvê-lo . E não queria ser saudosista, porque acho que o mundo, com todos os defeitos, muda para melhor. É uma frase um pouco preocupante, parece que estou conformado e não estou, mas o que é certo é que as gerações posteriores não são piores. O balanço não é assim tão negativo. Aquilo que interessa no presente é continuar a fazer o melhor possível, para que depois mais tarde não me arrependa de dizer “podia ter feito assim e não o fiz por isto ou por aquilo, ou por comodismo, ou por aí fora”. Portanto, vivo um bocado obcecado pelo presente, como se fosse, não digo o último dos momentos, não nesse dramatismo, mas pode ser uma maneira para fazer aquilo ou tratar daquilo. Depois, no dia seguinte, não sei se posso tratar e se vai ficar mal.

ICN: E, para terminar, vejo na sua postura um jeito algo monolítico nesse interesse do presente, ou seja, o modo de estar com um projeto e estar a fazer uma coisa só, inteiramente.

ESM: Sim, eu acho que aquilo que faço – aí pode-se dizer que sou orgulhoso – gosto de fazer bem. As pessoas pedem-me para fazer bem e eu peço-me, sou exigente comigo próprio. E mesmo assim um tipo espeta-se, imagine se não for assim. Pode dizer-se que esse culto de excelência está ligado a uma certa vaidade, de querer que as coisas fiquem bem. Mas eu não vejo outra maneira de fazer as coisas, porque ou não se faz, ou se tenta fazer bem. É um tributo que as pessoas nos pedem, nos vários campos de atividade, eu admiro essas pessoas que se exigem. Para acabar digo aquela coisa maravilhosa: perguntaram ao Oscar Wilde o que é que ele fazia e ele disse que era escritor. E o tipo muito admirado disse:

— Ai é? E o que é que fez hoje?

— Eu hoje de manhã pus uma vírgula.

— E o que vai fazer de tarde?

— Vou tirar a vírgula.”

É isto, a obstinação. Até chegar lá.

Edifício Burgo, Porto, Portugal, 2007
Foto Luís Ferreira Alves [website Pritzker Prize]

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063.03
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