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my city ISSN 1982-9922

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JAULINO, Daniel Delvaux. Rios do Rio. Minha Cidade, São Paulo, ano 05, n. 050.01, Vitruvius, set. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/05.050/1999>.



A cidade do Rio de Janeiro tem como cartão postal suas praias, suas montanhas que lhe dão contorno, já uma vez definidas por Oscar Niemeyer como barrocas. Mas, além disso, guarda ainda em si muitas belezas e facilidades pouco ou mal utilizadas, desconhecidas de muitos e, pior, degradadas. E é sobre uma destas que quero falar: os rios e lagoas do Município. Os primeiros já foram responsáveis pelo abastecimento de água da cidade inteira. Hoje, ainda alguns bairros se beneficiam dos mananciais da cidade, mas são poucos, como são cada vez menos os que estão em bom estado.

São, ao todo, 660km de rios divididos em 233 cursos d’água e 15,24 km² de lagoas para os quais a cidade deu as costas. São 78,4 km de praias contra 69,4km de orla de lagoas, além de 14,74 km² de manguezais. Apesar disso, a cidade preferiu voltar-se unicamente para o mar. Concretou e escondeu seus cursos d’água. É um privilégio para uma cidade ter praias tão belas. Mas não creio ser sensato ignorar espaços com tantas possibilidades. Imaginem quão agradável poderia ser um passeio ao longo de um córrego ou uma remada numa lagoa tranqüila. E quando os temos bem no interior de um grande centro urbano? Que possibilidades estamos jogando fora! Uma cidade no interior do continente, cuja única atração é o rio que a corta ou um lago nas suas imediações não faria o mesmo. O Rio, ao contrário, os ignora, os esconde, os transforma em esgotos, a céu aberto ou fechados como as redes de esgoto costumam ser. Dos ricos aos pobres (sem esquecer do governo), todos parecem preferir conviver com o mau cheiro a buscar dar o destino correto a seus dejetos. Rios e lagos apenas têm lugar em manchete quando responsabilizados por inundações ou outros desastres ambientais, quando não pela poluição das praias.

O panorama poderia ser outro: um sistema de parques cortando a cidade em todas as direções, ligando os maciços cariocas às praias. Longas trilhas, longas ciclovias, sistemas alternativos de transportes nas lagoas não são sonhos impossíveis muito menos apenas um fim mas meios para se conscientizar a população. Uma população que conhece as belezas de sua cidade, que as vê no cotidiano, que sabe que pode utilizá-la a qualquer hora e vê que o poder público se faz presente mantendo a ordem, colabora cuidando bem do que também é seu. Se, ao invés disso, vê que o local não é cuidado, lhe falta ordem, não se anima a cuidá-lo pois se sente incapaz de sozinho mudar a situação. A urbanização do trecho da Praia da Reserva, na Barra da Tijuca e a implantação de equipamentos na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas são exemplo de que a organização do espaço traz benefícios.

Outro bom motivo para o aproveitamento dos rios para o lazer está na possibilidade de através de parques se criar uma proteção contra os freqüentes alargamentos de leito durante as chuvas de verão. A ocupação de suas margens deve ser controlada. Os parques marginais podem funcionar como barreiras à ação danosa das águas formando bacias de acumulação com áreas previamente planejadas para serem inundadas de modo a evitar que a água atinja áreas habitadas. Sistemas de pequenas barragens poderiam ser usados para retardar a descida das águas, tudo com um tratamento paisagístico adequado e com o correto apelo à população.

É verdade que temos no Rio áreas densamente povoadas já há muito consolidadas nos entornos de rios e lagoas que impedem a implantação ao pé da letra destas idéias. Mas também é verdade que existem ainda grandes extensões de terra a serem ocupadas que poderiam dar a seus futuros habitantes um padrão de vida melhor se estas preocupações forem observadas. E, mesmo nas áreas já consolidadas, há sempre espaço para melhorias. Há situações insustentáveis que requerem ações que não podem ficar para depois.

O ponto é então recuperar o que está degradado e convidar a população a conhecer e usar o espaço ´criado´. Assim, é preciso que haja um pontapé inicial que não pode partir senão do poder público.

No sentido de conscientizar a população da importância dos rios, a Prefeitura vem instalando ao junto a eles, placas com seus nomes, comprimento e local de deságüe. É um início, mas ainda não é o suficiente.

sobre o autor

Daniel Delvaux Jaulino é arquiteto formado pela UFRJ em 2001.

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