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minha cidade ISSN 1982-9922

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GUIMARÃES, Arthur Marcel Brasileiro. Projeto de Oscar Niemeyer para João Pessoa. Turismo e degradação da paisagem natural. Minha Cidade, São Paulo, ano 06, n. 062.02, Vitruvius, set. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/06.062/1968>.


 

Um dia destes recebi um e-mail com um texto da Internet que dizia o seguinte:

“Obra de Niemeyer na Capital João Pessoa já uma das cidades de mais acesso turístico do Nordeste. E para comemorar os seus 420 anos Ricardo Coutinho apresentou hoje à população um projeto criado por Oscar Niemeyer voltado para a cultura e arte que poderá colocar nossa cidade num patamar mais alto ainda.

Se isso acontecer vai ser muito bom para a cidade! Ricardo Coutinho está melhorando e inovando toda a Av. Beira Rio, disse que vai secar e limpar a lagoa e vai fazer muito mais.

Pra quem não sabe Niemeyer é considerado o melhor arquiteto do Brasil, o projeto de Brasília tem sua assinatura bem como outras obras belíssimas!”

Mas a realidade não se resume a isto e outros fatos precisariam ser discutidos para se ter uma opinião mais balizada da conveniência ou na do projeto.

Ricardo Coutinho, em sua campanha eleitoral, mereceu o apoio de arquitetos e urbanistas por apoiar reivindicações legítimas, como é o caso da não implantação dos espigões na orla marítima de João Pessoa e de todo o Estado da Paraíba, e da realização de concursos públicos para projetos de grandes obras urbanas.

Após sua eleição, isso tudo mudou! E agora Ricardo Coutinho quer construir um conjunto enorme de edificações, justamente na área de maior risco de extinção no litoral paraibano: a falésia do Cabo Branco.

A vereadora Paula Francinete – defensora do meio ambiente e que se colocou contra a implantação de um flat próximo ao restaurante Marinas, na gestão Cícero Lucena devido sua localização – tem alertado sobre os riscos ambientais provenientes da erosão naquela área. Como é possível aprovar um “homicídio” de uma das áreas de maior interesse em toda a Paraíba?

Ainda com relação ao fator ambiental, como se pode construir um complexo de 5.000 m² na barreira do Cabo Branco, uma falésia viva em processo contínuo de modificação devido ao processo natural de erosão? Vale salientar ainda que não existe solução para tal impacto.

Outro fato que temos que levar em consideração é que as obras de Oscar Niemeyer são muito pesadas, com uso intensivo de concreto armado, que no meu ponto de vista não é o material mais indicado, pois as fundações de edificações deste porte precisam em geral ser profundas, o que poderia agravar violentamente a degradação da área. Além disso, o uso de materiais como o concreto armado e o vidro é totalmente contra-indicado devido às características climáticas do Nordeste.

Em termos turísticos, concordo que esse empreendimento seria mais um atrativo para a cidade, mas existe um outro fator a ser considerado que é o fluxo viário na área. Se o projeto for realizado e os turistas começarem a chegar de todas as partes, a freqüência de automóveis irá aumentar e isto poderá acelerar o processo de degradação da barreira.

Quem sou eu para desmerecer o maior arquiteto do Brasil e a equipe de arquitetos, que devem ter sido escolhidos a dedo pelo próprio Niemeyer, mas penso que deveria ser realizado um concurso público nacional, ou até mesmo internacional, onde Niemeyer também participasse. Isso poderia estimular ainda mais o marketing turístico da área que é o "Ponto mais Oriental das Américas", trazendo arquitetos de renome nacional e até mesmo internacional que estivessem interessados em desenvolver projetos para essa área, do que simplesmente convidar Niemeyer (por causa da grife que se tornou seu nome), tirando a chance de muitos arquitetos bons do Nordeste revelarem seus talentos.

O prefeito Ricardo Coutinho deveria levar em consideração tais questões, pois ainda está em tempo do projeto ser reavaliado, formando-se uma equipe de profissionais (que conheçam os problemas de nossa cidade) de todas as áreas envolvidas direto e indiretamente em um empreendimento deste tipo– arquitetos, urbanistas, ambientalistas, geógrafos, etc.

Além disso, já existe uma área que poderia ser destinada ao programa da "Estação Ciência, Cultura e Artes", que seria a fábrica Matarazzo, local que está desativado há vários anos e à qual ninguém dá valor, mas que representa um importante período da industrialização de nossa cidade. Trata-se de um importante patrimônio histórico que poderia ser restaurado e reciclado para instalação desse programa, a exemplo do projeto de Lina Bo Bardi para a fábrica SESC Pompéia.

Não é minha intenção desmerecer o prefeito e sua equipe, todos seguramente movidos por boas intenções. Mas ele deve ser esclarecido dos imprevistos que podem inviabilizar a obra. Mas a solução para os problemas de nossa cidade não é apenas criticar o que o governo está fazendo ou deixando de fazer, mas avaliar o que deve ser feito ou não, de acordo com as necessidades da população. E esta obra, por mais importante que seja para nossa cidade, não deveria ser realizada tendo-se em vista as conseqüências ruins que ela pode nos trazer, especialmente no que se refere ao impacto ambiental sobre a barreira do Cabo Branco.

sobre o autor

Arthur Marcel Brasileiro Guimarães é aluno do 7º período de Arquitetura e Urbanismo da UNIPÊ, João Pessoa PB.

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