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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
O artigo traz indagações a respeito da ocorrência do 46º Congresso da IFLA no momento de comemoração da dobradinha Copa 2014-Olimpíadas 2016, em que se pode discutir a qualidade urbana e ambiental dos novos estádios

english
The article brings questions about the occurrence of the 46th Congress of the IFLA at the time of double commemoration of 2014 World Cup-Olympics 2016, at which time we can discuss the urban and environmental quality of the new stadiums

español
El artículo trae indagaciones respecto del acontecimiento del 46º Congreso de la IFLA en el momento de conmemoración de la doble Copa 2014-Olimpíadas 2016, en que se puede discutir la calidad urbana y ambiental de los nuevos estadios

how to quote

BARRA, Eduardo. Copa 2014: welcome to Congo! Minha Cidade, São Paulo, ano 10, n. 111.02, Vitruvius, out. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/10.111/1831>.


Estádio do Engenhão, Rio de Janeiro
Foto Nelson Kon


Arena de Salvador. Setepla e Schulitz + Partner [Portal Copa 2014 ]

Projeto Cidade da Copa, Recife. Comitê do Recife 2014 [Portal Copa 2014

Adequação do Estádio Beira Rio, Porto Alegre. Hype Arquitetos [Portal Copa 2014 ]

 

De 21 a 23 de outubro, a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap) sediará no Rio de Janeiro o 46º Congresso da International Federation of Landscape Architects (Ifla), trazendo como tema central Infraestrutura Verde: Paisagens de Alto Desempenho. O encontro cai como uma luva nesse momento de comemoração diante da dobradinha Copa 2014-Olimpíadas 2016, uma vez que cerca de 600 profissionais de todo o mundo estarão reunidos para discutir questões como planejamento da paisagem e dos sistemas de áreas verdes das cidades, implantação de obras com respeito ao meio ambiente e aos recursos naturais, e inserção dos arquitetos paisagistas nas equipes multidisciplinares que pensarão as intervenções urbanas dos próximos anos, tendo como premissa a incansável busca da sustentabilidade e do alinhamento aos mais eficientes parâmetros de aproveitamento das potencialidades locais.

Para a Copa de 2014, não desejamos mais estádios-OVNIs pousados em tecidos urbanos conflituosos, verdadeiros alienígenas alienados de questões elementares de planejamento urbano, ambiental, de transporte de massa e de compatibilidade com o entorno. A preocupação pode soar exagerada, mas ainda é preciso tocar no assunto, já que os estádios projetados para várias capitais brasileiras continuam sendo apresentados como objetos autistas, totalmente desvinculados da realidade envolvente. Não queremos mais hotéis e acomodações das delegações assentadas sobre áreas de proteção permanente dos cursos d’água. Pretendemos ter aeroportos operando de acordo com suas capacidades de segurança, com conforto para os usuários e voos pontuais. Contamos com estradas asfaltadas e sinalizadas, e cidades livres de esgoto a céu aberto, famílias sob viadutos e assaltantes desenvoltos, já que as questões sociais, de saneamento básico e de segurança pública estarão equacionadas ou, pelo menos, encaminhadas.

Nesses próximos anos, sonhamos com uma atuação governamental – e da sociedade em geral – pautada pelo planejamento. Planejamento dos investimentos, das ações e das próprias cidades, nos seus aspectos funcionais, sociais, ambientais e paisagísticos. Planejamento em sua essência semântica e em profundidade “pressálica”. E, no contexto de ações integradas e ponderadas, os arquitetos paisagistas têm muito a contribuir, pois não se admitem mais cidades sem planejamento criterioso de seus sistemas de parques e áreas verdes em geral, sem praças, parques e ruas que possam ser efetivamente utilizados pela população. Não se tolera mais a transformação dos rios em calhas de convergência de todo o lixo urbano, da garrafa PET ao sofá. Não se entendem mais os vazios urbanos como espaços vazios de significado e de função na organização das vizinhanças. Não faz mais sentido o desperdício de áreas significativas pela falta de saber o que fazer com elas. Não se quer mais espaços públicos que não se mostrem sustentáveis e participantes do equilíbrio ambiental local. Não se admite mais o entorno das grandes edificações – como estádios de futebol – como um enorme “nada”, que não contribua para a transição harmônica entre a imponência e a atratividade da obra e a escala do bairro em que se situa.

Não podemos deixar que a euforia nos contamine com a impressão de que a única “saída” para o Brasil são as competições esportivas e que, portanto, o que importa é garantir boas instalações esportivas, à revelia de todas as outras questões envolvidas. Esse raciocínio transamazônico não se aplica mais na democracia do novo século. As possibilidades de bem-aventurança não podem nos dopar a ponto de esquecermos que nada mudou em 2007 com os Jogos Pan-Americanos – comprovadamente, os mais caros de toda a história do evento.

Com o Pan, gastamos de 4 a 8 vezes (o dado oscila de acordo com a fonte) além do previsto, e o legado para a cidade do Rio de Janeiro foi pífio: um estádio alugado a preço de banana podre para um clube de futebol falido, uma arena olímpica concedida por décadas para uma empresa de eventos, e um parque aquático entregue de bandeja para o COB, estratégia adotada pela prefeitura para se livrar de seus elevadíssimos custos de manutenção. Metas de melhoria de transporte público, de despoluição de rios e lagoas e de ampliação dos sistemas de saneamento foram simplesmente ignoradas, sem que os órgãos internacionais tivessem tempo de nos punir com a transferência dos Jogos para outro local.

Teve também a estapafúrdia tentativa de utilizar o Pan como pretexto para construir garagens para barcos e atracadouros na Marina da Glória, devidamente acompanhados de centro de convenções e shopping center, ambientes, como se sabe, imprescindíveis para a prática do atletismo. Por sorte, entidades que congregam paisagistas, arquitetos, órgãos de defesa do patrimônio, advogados, ambientalistas, jornalistas e cidadãos das mais diversas procedências e formações se opuseram ferrenhamente ao projeto e conseguiram embargar as obras.

Por último, não se pode deixar de citar os tristes blocos de arquitetura “soviética” construídos na região do Autódromo, empilhados sem nenhum respeito às questões ambientais ou aos seres humanos condenados a ocupá-los posteriormente. Tudo isso regado a inexistência de licitações, denúncias de favorecimentos, superfaturamentos e algumas das maracutaias mais típicas do país. A situação tornou-se tão esquisita que o presidente da república, vaiado com tal perseverança na abertura da competição, foi convidado a se esquivar de discursar.

Para as Olimpíadas de 2016 no Rio, já se fala na retomada das obras na Marina da Glória, agora capitaneadas por Eike Batista, o novo salvador (?) de plantão, que tenciona injetar quarenta milhões de reais na enseada para “adequá-la ao padrão olímpico”, sem parecer compreender que aquele ambiente já se encontra perfeitamente adequado ao padrão urbanístico carioca. Como não se joga futebol com barcos, imaginamos que esse cartão-postal brasileiro venha a ser poupado pela Copa, e talvez valha a pena deixar o assunto para outro fórum. Mas não invalida a abordagem de tudo isso, na expectativa de que o passado recente sirva de lição. Realmente, o Congo não merece tal comparação!

[o presente artigo foi publicado originalmente em www.copa2014.org.br]

sobre o autor

Eduardo Barra é arquiteto paisagista, ex-presidente (2005-2008) da ABAP – Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas

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