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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Cecilia P. Herzog fala do conceito de revitalização e seu entendimento do que deveria ser feito levando em consideração os mais diversos aspectos que envolvem essa ações desse cárater no âmbito da cidade do Rio de Janeiro

how to quote

HERZOG, Cecilia P.. Revitalização ou maquiagem urbana? Minha Cidade, São Paulo, ano 11, n. 129.01, Vitruvius, abr. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.129/3828>.


Parque Chemin d’Ile, Nanterre, França
Foto Cecilia Herzog


Parque Chemin d’Ile, Nanterre, França
Foto Cecilia Herzog

 

Revitalização, segundo o dicionário Aurélio significa “Conjunto de medidas que visam criar novo grau de eficiência (para um) conjunto urbanístico, de uma região”. Atualmente, esse termo tem sido banalizado em intervenções urbanas apresentadas para a cidade do Rio de Janeiro, independentemente de ser realmente uma proposta eficiente, holística e sistêmica. A eficiência de uma revitalização passa pelos seus múltiplos usos e benefícios abióticos, bióticos e sócio-culturais concretos e inovadores, de modo a que venha a ter um alto desempenho e baixo impacto na paisagem no longo prazo. Em outras palavras, uma intervenção urbana deve prestar inúmeros benefícios além de lazer e recreação. Como por exemplo: minimizar enchentes e inundações; reduzir o escoamento superficial das águas das chuvas, promovendo sua filtragem antes de alcançar os corpos d’água, com a melhoria da qualidade do ar, das águas e do solo; contribuir para a captura de carbono e a amenização das temperaturas locais; fornecer habitat para a biodiversidade; melhorar as condições de uso de ciclovias sombreadas, com mais conforto e segurança, entre inúmeros outros.

A construção contínua de uma cidade sustentável e resiliente requer, antes de tudo, que haja de fato um processo participativo, transparente, e que possa ser monitorado com ampla visibilidade, para a sociedade organizada acompanhar o seu desenvolvimento. O que é um requisito do Estatuto das Cidades.

Nada mais acertado do que propor planos e projetos em escalas de bacias hidrográficas urbanas. Contudo, o estabelecimento de comitês gestores para as diversas bacias de drenagem da cidade não basta. Na reunião realizada em 10 de fevereiro, para a instalação do comitê gestor da orla da Lagoa, foi apresentada uma proposta de intervenção em pontos específicos, com o asfaltamento de 31 mil metros quadrados de ciclovias (1). Na abertura foi enfatizada gestão integrada e a visão holística. O que não se verifica na intervenção em si, que se propõe a dar soluções pontuais a uma área de altíssima visibilidade e estima, de toda a população carioca e de seus visitantes. Nesse encontro não houve abertura para contribuições, apenas aconteceram manifestações isoladas uma vez que a reunião foi só para a apresentação de idéias já prontas para implantação. Perde a cidade e seus moradores, que serão os financiadores de mais um projeto cosmético para uma área que se encontra em estado avançado de degradação, e que não considera o tremendo potencial paisagístico-ambiental que a área possui.

É uma grande oportunidade que se apresenta para levar o conceito de revitalização ao seu potencial máximo. O Rio tem qualidades paisagísticas que devem ser aprimoradas com projetos que tornem a cidade mais sustentável e resiliente (2). A participação efetiva de profissionais de diferentes campos de conhecimento e representantes dos diversos grupos que compõem a sociedade local é de fundamental relevância para que os investimentos feitos revitalizem a cidade em prol de seus moradores, em primeiro lugar. E com isso, possam atrair mais visitantes e investimentos. Perde-se o foco, ao se investir 8,3 milhões em uma maquiagem urbana, ao invés de ir mais fundo em busca de soluções multifuncionais de longo prazo. A revitalização da Lagoa não deveria ser apenas tratada como orla, mas sim como bacia contribuinte da Lagoa, com um planejamento para recomposição de seus cursos d’água, revisão do sistema viário como um todo, com a priorização de transporte de massa de qualidade e alternativo não poluente seguro e confortável (bicicletas e pedestres). O objetivo deve ser devolver a cidade para as pessoas, resgatar as áreas impermeabilizadas, quentes e poluídas transformando-as em áreas de convívio: entre as pessoas e a natureza, com projetos arrojados “século XXI”, baseados em conhecimento científico.

notas

1
Dado publicado em matéria do jornal O Globo, 24 fev. 2011.
2
Dentre os muitos exemplos de sucesso, podemos citar o Parque Chemin d’Ile, em Nanterre, que se estende ao longo da margem do Senna como um corredor verde, com hortas urbanas sob a rede elétrica. O parque mimetiza os processos naturais, com o projeto de alagados construídos multifuncionais. Além de filtrar as águas poluídas de forma naturalizada, também oferece outros serviços ecossistêmicos como habitat de biodiversidade, amenização do clima, redução do ruído da auto-estrada que passa em cima, possibilita educação ambiental e contato direto das pessoas com os fluxos naturais ao dar visibilidade para os caminhos das águas sobre passarelas. Existem áreas de recreação e lazer ativo e outras para relaxamento e contemplação para todas as idades. Está conectado com outras áreas urbanas através de um corredor verde também multifuncional (veja as fotos)

sobre a autora

Cecilia Polacow Herzog é paisagista urbana, mestre em urbanismo, presidente da ONG Inverde, consultora da AMAJB.

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