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my city ISSN 1982-9922

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A Avenida Jerônimo Gonçalves perdeu seu caráter bucólico e assumiu desde a década de 70 a função rodoviarista no Centro de Ribeirão Preto, com um espaço público deficiente. Um novo plano urbanístico pretende irradiar qualidade urbana para a região.

how to quote

NASCIMENTO, Silvio. Antecipar a discussão. Antecipar a discussão entre o esvaziamento do centro e a expansão urbana de Ribeirão Preto. Minha Cidade, São Paulo, ano 12, n. 142.01, Vitruvius, abr. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/12.142/4320>.



Aqui está um dos mais polêmicos marcos históricos de Ribeirão Preto, a Avenida Jerônimo Gonçalves e o córrego Ribeirão Preto, retificado e canalizado no início do século XX, sem não antes receber propostas de projetos de uso comercial, cultural e agora em 2011, antienchentes.

Hoje podendo ter uso – juntamente com outros equipamentos que faz parte da paisagem – abre-se espaço para um novo projeto, que engloba um estudo da cidade e do entorno urbano, levando em conta a ocupação e uso do centro com habitação, universidade, auditório, biblioteca, edifício de esportes, piscinas públicas e praia urbana. É o Plano Urbanístico do Centro de Ribeirão Preto que pode ser implantado pela Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto em até dez anos – pelo menos é o que podemos pensar para esta região que já vimos muitos outros projetos serem engavetados e abandonados.

O projeto inclui um bolsão de estacionamentos e um centro de compras, propõe mudança na infra-estrutura urbana com represas de retenção, uma praia urbana, ciclovia e alterações no sistema viário incluindo um edifício de esportes sobre o córrego Ribeirão Preto.

Além da área central, o projeto avança seus limites propondo outras possibilidades a partir dos cursos d’agua existente, assim, devendo irradiar a qualificação urbana para outros bairros da cidade. O desafio é grande: a região central, desde a década de 1970, transformou-se em nó de transportes, seu caráter de espaço público foi dissolvido efetivamente: hoje um parque urbano existente, o Parque Maurílio Biagi, não é permeável aos transeuntes, espaço difícil acesso e perigoso em alguns momentos ao pedestre e utilizador do transporte público – aqui fica um dos principais pontos de partida e de passagem para outras zonas, fazendo do Centro uma profusão de fluxo de carros e transporte público e pontes.

Não podemos negar o passado a partir do zero. Por isso uma das principais preocupações foi equilibrar os equipamentos existentes, dando-lhes melhor acessibilidade e funcionalidade, liberando a maior quantidade possível de solo para recuperar permeabilidade e garantir a qualidade de espaço público. O plano também considera a presença de edifícios tombados pelo Patrimônio Histórico, hoje essenciais para a caracterização do Centro de Ribeirão Preto.

Reconhecendo, por exemplo, o caráter irrevogável de nó de transporte público e abandono da região, o plano busca propostas para racionalizar os modos de transporte: no projeto, denominam-se os corredores verdes que se organizam a partir das calhas existentes das avenidas os ônibus, VLT (Veículos Leves sobre Trilhos), ciclovia e malha viária dos automóveis.

Plano urbanístico do centro de Ribeirão Preto
divulgação

Hoje, falta eficiência: aqui fica o terminal rodoviário e terminal de ônibus com 30 mil usuários diários. Tudo isso sem alguma conexão com o Centro Histórico, que também fica na região.

O terminal rodoviário deve ir para a zona de região do aeroporto e estação ferroviária, criando assim um terminal intermodal, o terminal de ônibus se diluirá em vários pontos na região central. Na estrutura do terminal rodoviário um novo programa funcional: uma universidade que se articulará com o Parque Maurílio Biagi, auditório, bolsão de estacionamentos, centro de compras, Praça Schimdt, antiga praça da estação, e o córrego Ribeirão Preto, uma integração efetiva.

Os novos programas é uma resposta à função primordial do Centro de Ribeirão Preto hoje e deve ganhar o papel catalisador das transformações de todo o centro – afinal, a multifuncionalidade é o princípio básico do projeto, principalmente ao mesclar infraestrutura culturais, habitacionais, esportes, eventos, lazer e de transporte com funções urbanas.

Esta região central fica no ponto estratégico do ponto de vista da reorganização espacial pois, estabelece um novo parâmetro para a articulação dos demais equipamentos, para as novas relações com outros espaços da área e ainda cria um percurso confortável para os usuários que fazem conexões entre diversos modos de transporte e alivia a área de presença disseminada dos carros e ônibus.

O córrego

O parque e a praça ao lado da universidade, de alguma forma já existente hoje, serão melhoradas, colaborando para criar a condição de travessia, evitando barreiras físicas que impeçam a livre circulação na região. O córrego, ocupando os espaços historicamente alagáveis da várzea do córrego Ribeirão Preto e Retiro, a Avenida Jerônimo Gonçalves e região estão sujeitos a inundações freqüentes, com diversos pontos de alagamento. O projeto, então, propõe um sistema de lagoas de retenção. Será uma praia urbana, podendo ser água tratada por plantas aquáticas com possibilidade de armazenamento de águas pluviais.

O sistema de retenção deve interceptar a drenagem do entorno, possibilitando o controle da vazão com um volume variável de amortecimento que possibilite restituir escoamentos de forma atenuada e retardada ao canal do Ribeirão Preto. Associado a reconfiguração dos demais sistemas de infraestrutura, as lagoas devem contribuir à nova configuração paisagística do parque, praça e avenida – e a presença do córrego passa de canal a equipamento de lazer. De acordo com o nível da água, que varia com a época do ano, o espaço, pode revelar, por exemplo, uma arquibancada ou um novo piso.

O Terminal Rodoviário transformado em uma Universidade, Auditório e Biblioteca, deve ser elementos catalisadores das transformações do Centro atestando a multifuncionalidade como princípio do projeto
divulgação

O entorno

O entorno, o Plano Urbanístico trabalha com uma diretriz pré-estabelecida pela pesquisa. Foi considerada inicialmente uma rede verde, denominada a partir dos cursos d’agua existente e bacia hidrográfica do Rio Pardo.

A idéia é que o projeto irradie qualidade urbana para toda a cidade incentivando o adensamento na região central, nas áreas de Zeis – Zonas de Interesse Social, porções do território destinadas, prioritariamente, à recuperação urbanística, à regularização fundiária e a produção de Habitações de Interesse Social (HIS).

O plano trabalha com algumas condicionantes, definidas pelo levantamento: o controle da expansão urbana pelos condomínios horizontais e verticais. O estudo mais detalhado da habitação de interesse social compreende a nova quadra explorando a possibilidade de adensamento do Centro. Dentre as quadras, está um trecho da rotatória Amin Calil que serve de exemplo  deste novo desenho. Constatou-se ali uma subutilização de uma área da cidade, desenvolvendo ações de aplicação imediatas a ações complementares de curto e médio prazo associadas a iniciativas privadas.

Além das edificações de uso habitacional, é projetado edifícios comerciais e de serviços para assegurar o uso misto da área e garantir vida diurna e noturna. O fortalecimento do uso habitacional deve, inclusive, corrigir o contraste dessa região que freqüência intensiva durante o dia, mas esvaziam-se completamente à noite.

Outro ponto importante é o resgate da relação do Mercado Municipal e o Camelódromo com a área do córrego e universidade e biblioteca, auxiliando com a implementação da ligação em nível com o a outra margem do córrego e avenida.

Na proposta, não só os edifícios tombados serão preservados como também se manteriam outros edifícios com boa conservação e de uso habitacional, além do acréscimo de 300 unidades no trecho. As novas edificações se acoplariam as antigas respeitando forma e gabarito.

Outra premissa importante foi a necessidade de articulação dos espaços públicos existentes com os espaços públicos propostos no plano, com novas conexões de pedestres. A área de comércio será reforçada, com 600 vagas de estacionamento subterrânea.

Futuras intervenções
divulgação

O centro

O centro é caracterizado pela presença de importantes galpões e prédios históricos, como a Cervejaria Antártica (1911), e Estúdio Kaiser de Cinema (1917), antigos Galpões Industriais, o Hotel Brasil (1933), o Quarteirão Paulista (1937) que compreende o Teatro D. Pedro II, Pingüim e o Hotel Continental, Praça XV de Novembro. Hoje, a desarticulação urbana do conjunto se sobrepõe aos usos e, apesar da proximidade física dos prédios, o isolamento é completo.

A Cervejaria Antártica, por exemplo, embora ocupe toda a quadra, está constrangido em seu entorno, com dificuldades de acesso e permeabilidade urbana. A proposta inclui o uso com programas culturais e eventos não o descaracterizando do seu estado histórico e demolindo outros que não possui valores e características históricos, ampliando o espaço livre contíguo ao edifício e o integrando as piscinas públicas, córrego e praça. Essa opção é reforçada por ações, como o rebaixamento destas áreas conquistadas em patamares aproveitamento o perfil natural do terreno.

É aqui que estão as áreas mais polêmicas: as originalmente ocupadas pela antiga fábrica da Cervejaria, essa área juntamente com outras pequenas adjacentes, recebe as piscinas públicas e o balneário – nas quais uma ciclovia corte o térreo do edifício e ligando por uma rampa que dá acesso as piscinas e edifícios de esporte que passa sobre o córrego Ribeirão Preto e pousa com apenas dois apoios estruturais como uma nave. O edifício potencializa o outro lado do córrego com o uso das quadras no térreo e uma praça de eventos ao lado. A criação destes equipamentos, além de incremento de um programa de caráter público, abre uma nova possibilidade de articulação urbana, não só entre os edifícios existentes, mas da própria praça com a cidade.

Nesse sentido, o Estúdio Kaiser de Cinema, antigo prédio da Cervejaria Paulista, é um prédio que implantado do outro lado do córrego estabelece relações de frente e lado, criando situações pouco desejáveis. A implantação dos novos equipamentos, a partir do seu gabarito estabelecido pelo próprio Estúdio Kaiser de Cinema, supõe a transformação a lateral do prédio numa nova frente, rompendo a própria lógica de autoisolamento desses programas. Da mesma forma, os novos edifícios se articulam com o Mercado Municipal, Camelódromo por uma nova ponte e rampas que desembocam no Parque Maurílio Biagi e Praça Schimdt.

Foi buscada uma relação escalonada e volumétrica com o Patrimônio Histórico (Chaminés e Prédio principal das Fábricas de Cerveja), estabelecendo um diálogo com o entorno. Entre a universidade, parque e biblioteca, por exemplo, há uma rampa e passarela marquise. O esquema proposto, os dois edifícios escapam do isolamento do parque e se apresentam como algo que convida e ampara a circulação de pedestres.

A implantação

A implantação do projeto é pensada em etapas, para que o funcionamento dos equipamentos do centro e das vias de trânsito não fossem prejudicados. A primeira seria o deslocamento das vias e extensão da Avenida Saudade e Marechal Costa e Silva, criando rótulas de conexão para outras regiões da cidade. Logo em seguida vem a demolição gradual dos prédios sem valor histórico da Cervejaria Antártica e outros, logo em seguida seria a retirada do Terminal Rodoviário possibilitando a abertura do canal do córrego Ribeirão Preto e seu rebaixamento deixando as lagoas de retenção para a última etapa.

Por seu nível de complexidade, larga escala e longo prazo, projetos como este muitas vezes não são construídos em sua totalidade, particularmente em Ribeirão Preto, de crescimento desordenado e palco de conflitos de interesses eleitoreiros e privados. Demandas emergenciais são privilegiadas, o que resulta na fragmentação e descaracterização do planejamento urbano da cidade. A esperança é que um plano nesta escala seja implantado como idealizado, sem interrupções, adaptações ou adiamentos, melhorando a qualidade urbana da cidade.

sobre o autor

Silvio do Nascimento arquiteto urbanista (Escola da Cidade, São Paulo), colaborou com Ciro Pirondi, Paulo Mendes da Rocha e Fabio Penteado, entre outros. Mantém escritório próprio, onde projeta obras de caráter urbano e habitacional.

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