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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
A atual sociedade vivencia um momento em que realiza várias modificações nas tipologias construtivas de conjuntos habitacionais no anseio da moradia ideal. Devido suas ou percepções de mundo, ou na busca demonstração de poder de suas residências.

english
The current society experiences a moment that makes several changes to the building typologies of housing in the housing yearning ideal. Due to their perceptions or world, or demonstration of power in the pursuit of their homes.

español
La sociedad actual vive un momento que hace varios cambios en las tipologías de construcción de viviendas en el ideal anhelo de la vivienda. Debido a su percepción o el mundo, o demostración de poder en el ejercicio de sus hogares.

how to quote

SANTOS, Clécio do Nascimento. Entre o real e o ideal: identificação das tipologias construtivas no Conjunto Salvador Lyra. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 157.03, Vitruvius, ago. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.157/4848>.


Localização do Conjunto Salvador Lyra, em Maceió [google]


Uma das buscas da sociedade atual é o viver ideal. A busca pelo bem estar, sentimento de prazer, satisfação. E para tornar real esse anseio pelo ideal, são impressas percepções, visões de mundo, atitudes e valores, construções históricas nas tipologias construtivas. E que de certo modo, vão se configurar na morfologia da cidade.

O presente trabalho desenvolve uma abordagem para identificar os motivos que levaram os residentes a modificarem as tipologias construtivas no conjunto Salvador Lyra na cidade Maceió-AL. E assim, entender a morfologia urbana a partir da percepção dos moradores do conjunto na busca pela habitação ideal.

A maioria das residências do conjunto Salvador Lyra foram alteradas de seu padrão inicial. Sua implantação data de 1976 através de financiamentos de programas governamentais como o Instituto de Pensão e Aposentadoria do Estado de Alagoas (IPASEAL) e a Companhia de Habitação Popular de Alagoas (COHAB) que promoveram a implantação de conjuntos habitacionais na cidade de Maceió e no estado de Alagoas, esses vinculados ao Banco Nacional de Habitação (BNH) e ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), integrados ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH) que impulsionou o processo de urbanização e construção de conjuntos habitacionais em todo país.

O conjunto Salvador Lyra foi construído no bairro Tabuleiro do Martins como resultado da expansão urbana da cidade de Maceió. Foram implantadas 30 quadras com 818 lotes em uma área de 327.440 m, cada lote com 200 m. Apesar da construção do conjunto datar de 1976 a maior parte dos moradores começa a residir a partir da década de 1980. Isso se deve há uma tendência nacional do processo de urbanização com imenso fluxo de migrantes das áreas rurais para as urbanas. É importante destacar que a década de 1980 foi a que teve maior número de construção de habitação popular financiada pelo BNH, com um total de 345 mil em todo o país. Nesse período foram implantados 41 conjuntos habitacionais na cidade de Maceió, dentre esses, sete no bairro Tabuleiro do Martins.

O conjunto Salvador Lyra também se destaca por ser o primeiro construído no presente bairro. Os residentes em sua grande parte advêm de regiões interioranas, caracterizando o intenso fluxo migratório rural – urbano da década. Todas as residências foram entregues aos moradores com igual tipologia construtiva e que ao longo dos anos sofreram diversas modificações.

Sobre o intenso fluxo migratório, vale ressaltar a ideia vigente nas décadas finais do século XX como sendo a cidade o ambiente ideal para realização da vida, reprodução e realização social ao invés do campo. O ambiente urbano começa a ser caracterizado como o local desejado no imaginário das pessoas. O número de residentes começa aumentar cada vez mais na cidade de Maceió, aumentando também sua área periférica, como se caracteriza o conjunto Salvador Lyra.

É a partir desse contexto que surge a topofilia entre o ambiente físico e os residentes do conjunto? Compreendendo topofilia como “o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. Difuso como conceito, vívido e concreto como experiência pessoal.” (1)

Conjunto Salvador Lyra, com destaque para as quadras 14 e 17
Desenho Clécio Santos

Com isso, será feita uma análise de residências das quadras 14 (constituída do maior percentual de modificação tipológica) e a quadra 17 (com o menor percentual de alterações).

À esquerda, quadra 17, que detém o menor percentual de alterações nas tipologias construtivas do conjunto. À direita, quadra 14, que detém o maior percentual de alterações nas tipologias construtivas do conjunto
Desenho Clécio Santos

Algumas incoerências foram verificadas na implantação do projeto no sítio urbano de Maceió. O conjunto Salvador Lyra está localizado na menor cota altimétrica do bairro Tabuleiro do Martins e se configura como uma bacia evaporimétrica ou endorreica. Durante os períodos de maior índice pluviométrico, ou seja, nos meses de junho, julho e agosto, estação de inverno no hemisfério sul, os residentes sofrem com enchentes e alagamentos, consequentemente foi necessário uma série de medidas mitigadoras como, por exemplo, alterações nas tipologias originais do conjunto para sanar uma dinâmica natural e uma falta de planejamento ambiental. Desse modo, (2) Pereira (2012) relata que o tipo deve ser estabelecido em função da topografia e condicionantes naturais assim como também do projeto urbano e então a partir do exame das necessidades que deveriam atender.      

A natureza específica de um lugar pode ser vista, em nossos dias, como resultado seja das ações e dos desejos humanos, seja da estrutura geológica original (3). Daí a importância da topografia na análise da morfologia urbana.

O entendimento de tipologia permeia a ideia de um elemento que desempenha um papel próprio na constituição da forma que é uma constante, ou seja, uma repetição, e consequentemente realiza uma função. E a descrição da forma constitui o conjunto de dados empíricos de um estudo e pode ser realizada mediante a observação. Em parte, isso pode ser compreendido como morfologia urbana – a descrição das formas da cidade (4).

A cidade é um organismo vivo e que a todo momento está se metamorfoseando. Para percebê-la não basta realizar uma análise estática de sua imagem atual, mas faz-se necessário a utilização de um movimento ascendente da cronologia dos anos para então compreendê-la.

Nesse contexto, a percepção da cidade é fragmentária e todos os sentidos estão constantemente em operação, mas atualmente a imagem ou seja o sentido da visão é o mais explorado. No entanto, a imagem de uma determinada realidade varia significativamente entre seus observadores. Pois esses compreende as formas visíveis com diferentes significados, isso também vai depender de sua realidade histórica.

As formas deverão ser agradáveis ao olhar, organizar-se em diferentes níveis no tempo e no espaço e funcionar como símbolo da vida urbana. A forma deve ser adaptável aos objetivos e percepções de seus habitantes (LYNCH, 1999).

Nesse sentido, o tipo se torna a chave para compreender a conexão entre os elementos individuais e as formas urbanas. A análise da cidade deve ser realizada a partir da relação entre tipologia construtiva e morfologia urbana. Compreende-se como morfologia urbana o estudo das formas da cidade (ROSSI, 2001).

Para Pereira (2012) a tipologia construtiva é o estudo dos tipos de construção. Ambas as áreas estudam duas ordens de fatos homogêneos, além disso, os tipos construtivos que se concretizam nos edifícios são o que constitui fisicamente a cidade. O termo “tipo” não simboliza algo que deve ser copiado ou imitado perfeitamente em sua essência, mas o modelo é um objeto que deve se repetir tal como é, enquanto que o tipo, um objeto segundo o qual cada um pode conceber obras que não se assemelharão entre si.

Tipologias construtivas com padrão original do conjunto. À esquerda, destaque para a construção do muro. À direita, destaque para a construção do muro e elevação do piso por conta de inundações
Fotos Clécio Santos

O tipo vem a ser constante e vai demonstrar características de necessidades, mas, mesmo determinadas, elas vão diferir de acordo com as técnicas, com as funções, com os estilos, com o caráter coletivo, com a percepção, com as atitudes, com as visões de mundo, com as formações culturais e o momento individual do fato arquitetônico.

O geógrafo Yi-Fu-Tuan (1980) conceitua três importantes termos apresentados acima: percepção, atitude e visão de mundo. A percepção é compreendida como “(...) a resposta dos sentidos aos estímulos externos, e a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto que outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados.”, ou seja, o que é percebido tem valor para sobrevivência biológica e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na cultura. A atitude “é primeiramente uma postura cultural, uma posição que se toma frente ao mundo.” Não está restrita apenas a percepções, mas experiências, uma sucessão de percepções que ajudam a construir uma visão de mundo. A visão de mundo “é a experiência conceitualizada. Ela é parcialmente pessoal, em grande parte social.”, ou seja, engloba os conceitos anteriores e implica atitudes cotidianas e sistemas de crenças.

Então as formas das tipologias manifestarão percepções, formação cultural, visões de mundo de cada indivíduo em particular, numa lógica incessante por uma realização pessoal, pela busca da vivência ideal, ou seja, constituição de um lar.

O lar para (5) Hall (2005) “não é simplesmente um apartamento ou uma casa, mas uma área localizada na qual se vivenciam alguns dos aspectos mais significativos da vida.”. Assim como também Tuan (1980) ressalta que muitos residentes podem idealizar o lar como uma casa rodeada de gramado e separada do mundo das ruas. Já para as crianças o lar perpassa os muros das residências. Está ligado à vitalidade e ao cotidiano da rua, englobando aspectos de recreação e lazer.

Com os novos modos de viver, novos modismos, destacando até mesmo tendências em escala global, as tipologias construtivas vão ganhando novas formas, novas cores, novas funções, pois na arte da arquitetura, a residência é certamente o que melhor caracteriza os costumes, os gostos e os usos de um povo, sua ordem, assim como sua distribuição, e as modificações vão sendo realizadas no decorrer dos anos.

A morfologia urbana é sempre a forma de um tempo da cidade, e existem muitos tempos na forma da cidade. Consequentemente o tipo vai se constituindo de acordo com as necessidades e com as aspirações de beleza, único, mas variadíssimo em sociedades diferentes, não está ligado somente à função ou à forma como também aos modos de vida dos residentes e suas percepções de ideal.

A percepção de real e ideal é constituída de enorme relatividade. Levando em consideração o imaginário de cada sujeito em sua localidade e momento histórico. A morfologia da cidade vai se metamorfoseando de acordo com as necessidades da sociedade, e a construção de determinadas tipologias construtivas a partir dos anseios particulares de cada indivíduo. Diante disso, qual seria a tipologia construtiva ideal?

Para se implantar uma tipologia construtiva deve ser levado em consideração uma série de variáveis, entres elas as naturais: localização geográfica, topografia, geomorfologia, geologia, clima; assim como também características sociais: momento histórico e classe social. Além das características atmosféricas em diferentes momentos do ano.

Os arranjos físicos, as geometrias e a forma são meios arquitetônicos de uma residência para expressar o ideal da sociedade num determinado momento histórico.

Uma tipologia implantada em regiões temperadas pode não ser conveniente em regiões tropicais, assim como também uma construção direcionada para uma classe social menos privilegiada não será benquista entre os mais privilegiados economicamente. Pois a percepção de real e ideal é extremamente relativa. O ideal aqui é compreendido como algo necessário para realização pessoal, sinônimo de bem estar, e o real como o concreto, ou seja, a realidade.

As modificações nas residências se dá de acordo com as necessidades momentâneas de cada indivíduo, ou grupo social, e realizam transformações técnicas e funcionais, por exemplo, uma família que gerou uma criança necessita de um maior espaço. O casamento de um filho jovem que pretende morar com os pais necessita da construção de mais um quarto. A chegada de um parente que morava em outra cidade, influenciada por motivos de estudos ou trabalho. A aquisição de um veículo, que culmina na construção de uma garagem.

Tipologias construtivas do conjunto na quadra 14 com várias alterações. À esquerda, destaque para o segundo piso, cerca elétrica, varanda e garagem. À direita, destaque para ampliação de dormitórios, cerca elétrica e garagem.
Fotos Clécio Santos

Mas também as alterações ocorrem por questões de segurança, como o aumento da altura dos muros, implantação de cercas elétricas. E também por questões ambientais naturais, com a ocorrência de enchentes vários residentes aumentaram a altura do piso de suas residências para não danificar seus móveis e outro objetivos.

Alguns moradores também anseiam que suas residências se torne um marco dentro de uma lógica do igual e o diferente. Anseiam uma diferenciação dos demais residentes de sua localidade, mostrar a particularidade e singularidade da forma de sua residência. Entendendo que um marco parte da escolha de um elemento dentre um conjunto de possibilidades, ou seja, algo que sobressai, demonstra um contraste com os elementos vizinhos (LYNCH, 1999).

Considerações finais

Apesar de todas as diferenças, mudanças, alterações todos estão satisfeitos com suas residências, tanto aqueles que realizaram alguma modificação quanto os que mantém as tipologias construtivas originais.

Desse modo, a forma das tipologias construtivas deverão ser agradáveis ao olhar, organizar-se em diferentes níveis no tempo e no espaço e funcionar como símbolo da vida urbana, ou seja, deve ser adaptável aos objetivos e percepções de seus habitantes. Constituindo um sentimento de pertencimento, se tornando um lugar, um lar.

A topofilia assume várias formas, pode ser apego ao lar, ao lugar, prazer estético efêmero ou até mesmo sentimento de posse. A busca pelo ambiente ideal permeia a remoção das inconveniências do mundo real. Os lares manifestam as personalidades de cada indivíduo suas dimensões culturais.

notas

1
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Difel: São Paulo, 1980.

2
PEREIRA, Renata Baesso. Tipologia arquitetônica e morfologia urbana: uma abordagem histórica de conceitos e métodos. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.146/4421> Acesso: 22 fev. 2013.

3
LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 

4
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. Martins Fontes: São Paulo, 2001. 

5
HALL, Edward. A dimensão oculta. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

sobre o autor

Clécio do Nascimento Santos é mestrando em Dinâmicas do Espaço Habitado – DEHA/FAU/UFAL. Colaborador do Grupo de Estudos Morfologia dos Espaços Públicos – MEP. Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Atualmente é professor da Secretaria Municipal de Educação do município da Barra de Santo Antônio. Professor Temporário da Secretaria Estadual de Educação de Alagoas - SEE/AL.

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