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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Este artigo é fruto de Trabalho de Conclusão de Curso em Arquitetura e Urbanismo, e alerta para a necessidade emergente de alternativas para o destino final dos Resíduos Sólidos Urbanos, com soluções que alcancem as esferas ambiental, social e econômica.

english
This article is the result of Undergraduate Thesis in Architecture and Urbanism, and alert to the emerging need for alternatives for final disposal of Urban Solid Waste, with solutions that meet the environmental, social and economic spheres.

español
Este artículo es el resultado de la Tesis de Pregrado en Arquitectura y Urbanismo, y alerta a la necesidad emergente de alternativas para la disposición final de los residuos sólidos urbanos, con soluciones que satisfagan las esferas ambientales, sociales

how to quote

LINS, Arthur Eduardo Becker. Resíduos sólidos e a cidade. Uma unidade central de triagem para Balneário Camboriú. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 190.04, Vitruvius, maio 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.190/6026>.


Unidade Central de Triagem – UCT, desenho integrado à paisagem, estudante Arthur Eduardo Becker Lins


A sociedade contemporânea é carregada de conflitos e contradições, disputas pelo poder e desigualdades socioespaciais. O consumo de massa e o progresso tecnológico geram um desequilíbrio socioambiental, que se evidencia através da construção dos espaços urbanos (1). As atividades humanas produtivistas têm causado problemas muitas vezes irreversíveis. As fontes de recursos naturais – renováveis ou não – se esgotam a cada dia face à ampliação da oferta de produtos supérfluos, com bens de consumo cada vez mais descartáveis. A alta geração de resíduos, o lixo, aliado a outros problemas, faz com que as cidades se tornem uma ameaça à sobrevivência humana no planeta. Os desafios lançados pela ideologia da globalização resultam em conflitos locais de difícil superação. Segundo Bauman,

“não se dispõe mais de soluções globais para problemas produzidos localmente, tampouco de escoadouros globais para excesso locais. Todas as localidades têm de suportar as consequências do triunfo global da modernidade. Agora se veem em face de procurar soluções locais para problemas produzidos globalmente” (2).

Em Balneário Camboriú, cidade do litoral norte catarinense, a realidade se confirma, e a Gestão de Resíduos Sólidos não demonstra eficácia. O município – um dos grandes centros turísticos de Santa Catarina – encontra-se a 87 km de Florianópolis, capital do estado, em um território com superfície de 46,4 Km², que abriga uma população de aproximadamente 108.089 habitantes (3), e densidade populacional de 2310 hab/km². Em 2010 esta população produziu total de 48.264 toneladas de resíduos domiciliares depositados no Aterro Sanitário da Canhanduba (4), com apenas 1.742 toneladas de resíduos recicláveis (5).

Unidade Central de Triagem – UCT, desenho integrado à paisagem, estudante Arthur Eduardo Becker Lins

O espaço físico para onde são destinados os resíduos provenientes da coleta seletiva, localizado no bairro Várzea do Ranchinho – área periférica da cidade, permanece sem manutenção. Incendiado no ano de 2009, o atual galpão de triagem de materiais recicláveis foi construído em meados da década de 90. As instalações físicas e as condições de trabalho são precárias e insalubres, sendo que o espaço físico é pequeno e a unidade não comporta o volume de material recolhido na cidade. O amplo terreno deixou de ser aproveitado, e os trabalhadores atuam em um espaço reduzido, totalmente adaptado e não condizente com as reais necessidades para a realização do serviço de triagem. Nas franjas da cidade formalizada remove-se com destreza e eficiência o lixo produzido nas áreas centrais – ato fundamental para a sobrevivência do modo de viver moderno. É imprescindível, portanto, a reestruturação do espaço associada a um modelo de gestão integrada dos Resíduos Sólidos Urbanos - RSU.

Propõe-se mais que um projeto arquitetônico: propõe-se uma Unidade Central de Triagem (UCT) de RSU que faça parte de um sistema de gestão integrada, organizado através de redes de coleta e gerido por cooperativas de catadores - setorizadas por agrupamento de bairros da cidade. Os agrupamentos foram estruturados em quatro zonas, conforme critérios de densidade populacional, produção de resíduos, classificação de renda per capita e número de catadores. Ao todo, são quatro ECO Pontos implementados em cada um das zonas de coleta. Estes estão locados em terrenos estratégicos, próximos de vias principais, facilitando a acessibilidade em relação à recepção dos resíduos e posterior transporte para a UCT.

Unidade Central de Triagem – UCT, apropriação do desnível do terreno para acomodar o programa proposto, estudante Arthur Eduardo Becker Lins

A UCT situa-se ao norte da cidade, nas divisas com as cidades de Itajaí e Camboriú, junto a um Parque Ambiental. Na localidade há a previsão de um novo acesso a Balneário Camboriú, passando pela via principal do bairro, que se conecta ao Binário das Nações, via interurbana já em execução que liga Balneário Camboriú à Itajaí. Este novo acesso, passa próximo ao terreno da UCT, que passará a ter uma conexão direta com a área urbana, além de estar estrategicamente próxima a BR 101 e aos municípios vizinhos.

O projeto propõe um novo padrão para o tratamento dos resíduos, com espaços amplos, confortáveis e sadios para os trabalhadores, tornando digna a atividade profissional. Assentado em uma declividade de aproximadamente dez metros, o edifício explora a gravidade para auxiliar no processo produtivo de triagem dos resíduos, além de realizar mínimo movimento de terra em sua implantação.

A intenção formal foi trabalhar com blocos escalonados, que acompanhassem o desenho natural da paisagem e do entorno. O conjunto é composto por três edifícios distintos: o edifício industrial, o administrativo e um de circulação vertical que faz a integração entre os dois. Em uma área mais privada do terreno, sem relação direta com a rua, os blocos do edifício industrial interagem fisicamente e harmonizam-se visualmente com as áreas verdes do parque, por meio de acessos, terraços de estar e contemplação, e aberturas generosas nas áreas de trabalho. Locado em perpendicular a rua, o setor industrial tangencia as curvas de nível e apropria-se do desnível do terreno para o funcionamento do sistema de triagem. Os resíduos são recebidos na cota mais alta, e o processo de triagem é realizado por etapas, com diferentes funções em cada um dos níveis do edifício. Por fim, o resíduo já processado é expedido na cota mais baixa.

Unidade Central de Triagem – UCT, espaços amplos e salubres para os trabalhadores, estudante Arthur Eduardo Becker Lins

O bloco administrativo, por sua vez, foi implantando em paralelo a rua, recuado, buscando uma relação harmoniosa, conformando os acessos de modo sutil e gradual. A fachada frontal está levemente inclinada a nordeste, assim, ambos os edifícios recebem os ventos predominantes leste e nordeste, garantindo ventilação permanente que qualifica o ar dos ambientes de trabalho. O edifício industrial recebe o sol da manhã, e fica protegido pelo morro da incidência solar oeste, prejudicial devido aos odores gerados pelos resíduos.

O programa prevê a capacidade de processamento da unidade para até 50 toneladas/dia de resíduos secos, com um turno diário de 150 funcionários. É possível ampliar esta capacidade para até 100t/dia através do aumento de turnos. Contempla ainda as necessidades técnicas para a produção, e também setores de apoio ao funcionamento da unidade, além de áreas comuns voltadas ao bem estar dos funcionários – meio de qualificação da atividade profissional e das condições de trabalho.

Com uma arquitetura concisa e racional – modular, o projeto apresenta um sistema construtivo todo baseado em materiais pré-moldados, com estrutura mista em aço e concreto. A solução estrutural buscou flexibilidade, clareza e limpeza dos espaços de trabalho, garantindo grandes áreas livres para instalação de equipamentos e maquinários, passíveis de serem modificadas.

Estratégias ambientais foram pensadas desde a concepção, garantindo uso racional dos recursos naturais e conforto dos ambientes internos. Como um equipamento público, foram valorizados os espaços abertos, a relação com o entorno, acessibilidade, e áreas de convivência para os funcionários e visitantes. O edifício é mais que uma unidade de triagem, é um instrumento de educação ambiental, que visa quebrar paradigmas em relação a produção dos resíduos sólidos urbanos e sua destinação final, visando aproximar a população para a necessidade cada vez mais urgente de racionalizar o consumo e dar novos usos àquilo que é descartado.

notas

1
LINS, Arthur Eduardo Becker. Resíduos Sólidos Urbanos, desigualdades socioespaciais e conflitos ambientais: Reflexões para uma gestão integrada na Região Metropolitana de Florianópolis. Florianópolis, PGAU-Cidade/UFSC, 2015.

2
BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 13.

3
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Censo 2010. Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, 2010.

4
Aterro Sanitário localizado na periferia do município de Itajaí/SC, que compartilha sua infraestrutura com Balneário Camboriú.

5
Ambiental Saneamento e Concessões. Relatório de Produção de Resíduos em Balneário Camboriú – 2001 a 2010. Balneário Camboriú, 2010.

sobre o autor

Arthur Eduardo Becker Lins é arquiteto e Urbanista formado pela UFSC, com mobilidade estudantil na FAUUSP. Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade (PGAU/UFSC), com pesquisa voltada à produção de Resíduos Sólidos Urbanos, sua correlação com o território e desigualdades socioespaciais. Possui experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento Urbano, Projeto Urbano e Projeto Arquitetônico.

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