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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
O movimento insurgente “A Batata Precisa de Você” vai além da simples ocupação deste espaço da cidade. É o reflexo dos anseios de melhoria oriundos dos seus habitantes e o resgate do seu valor através dos cidadãos urbanos.

english
The insurgent movement "A Batata Precisa de Você" goes beyond the simple occupation of this space in the city. It is the reflection of the yearnings of improvement of its inhabitants and the recovery of its value through the urban citizens.

español
El movimento insurgente "a batata precisa de você" va más alla de la simple ocupación de la ciudad. Es un reflejo de la mejora que viene de los anhelos de sus habitantes y el rescate de su valor através de sus ciudadanos.

how to quote

GIANNELLI, Marcio Augusto. A Batata precisa de insurgentes. Minha Cidade, São Paulo, ano 17, n. 199.05, Vitruvius, fev. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/17.199/6426>.


As equipes se organizando para a construção da faixa. À esquerda a equipe de finalização. À direita a equipe de controle de fluxo da via
Foto Marcio Augusto Giannelli


O tema abordado tem o intuito trazer à reflexão no que se refere à forma de apropriação da população de seus espaços públicos, como praças, largos, especialmente os espaços deteriorados das cidades, com vista a requalificá-los, em face de sua simbologia, afetividade e de seu significado cultural. A criação de movimentos sociais e populares aumenta, com a intenção de realizar e reivindicar melhorias junto ao poder público, parcerias público-privado e/ou por meio de ações oriundas dos próprios grupos.

A cidade possui diversos movimentos populares independentes, que se propõem a discutir um tipo de assunto ou ação. Neste contexto, buscaram-se movimentos que possui maior diversidade quanto ao seu engajamento e seus atos. Após estudos, selecionou-se o Largo da Batata, um dos principais ícones urbanos da pauliceia e do bairro de Pinheiros, significado que ostenta desde a sua origem nos tempos coloniais até a atualidade. Cabe destacar, que não se pretende discutir a legalidade de suas ações e sim destacar o que movem grupos a tomarem decisões, para qualificar áreas que julgam ser necessárias ao local.

Com a proposta de salvaguardar a memória e história do Largo a partir de usos mais humanizados, em detrimento às mudanças que vêm sofrendo, nasceu o movimento A Batata precisa de você, frente às novas reformas do local, que o tornou mais descampado e inóspito. Liderado pela arquiteta Laura Cabral, moradora da região há muitos anos, o Movimento foi criado com o objetivo de realizar um conjunto de melhorias, sem descaracterizá-lo ainda mais.

Foram feitos levantamentos e análises de dados, coletas de entrevista, pesquisa na página de Facebook do Movimento, para melhor entender seus conceitos e as suas atuações, assim como, quais as razões que motivaram a sua criação, observando-se o surgimento de alguns movimentos sociais e populares.

Neste processo investigativo foi possível entrevistar e acompanhar o trabalho da arquiteta junto ao grupo, reunindo-se relatos importantes que estão referenciados no decorrer deste texto. Desse contato foi possível vivenciar experiências marcantes, destacando-se o evento para implantação de uma faixa de pedestre mediante a uma ação coletiva no Largo. Durante o percurso, ancorou-se no conceito Um dia na vida extraído da obra Design Thinking de Tim Brown, em que como procedimento da pesquisa realizada:

É uma simulação, por parte do pesquisador, da vida de uma pessoa ou situação estudada. Ou seja, membros da equipe de projeto assumem o papel do usuário e passam um período de tempo agindo sob um diferente ponto de vista e interagindo com os contextos e pessoas com os quais se estaria confrontando no dia a dia (1).

Assim, surgiu a ideia de registrar esse encontro com A Batata precisa de você, por meio deste artigo, salientando a notória diversidade de suas ações, bem como a reunião semanal de seus integrantes no próprio Largo da Batata, criando-se um paradigma diferenciado no que tange o formato do Movimento.

Fotos referentes a sequencia do processo de construção da Batata Faixa
Foto Marcio Augusto Giannelli

O Largo

De local de passagem a espaço simbólico, o Largo teve sua origem vinculada ao núcleo indígena. Localização estratégica da vila colonial foi um dos principais polos de passagem do transporte da economia paulista e de produtos para abastecimento da cidade e de seus arredores. Importante caminho que ligava a Vila de São Paulo ao seu interior, Itu e Sorocaba, seguindo em direção às margens do Rio Pinheiros. Em função disso, no local abriu-se espaço ao intercâmbio de bens e gêneros alimentícios e o nome Largo da Batata se deu a partir da configuração físico-espacial da área, numa alusão a um dos gêneros ali comercializados (2).

Com o crescimento da cidade foram implantadas no Largo, no início do século 20, as linhas de bondes, ligando o bairro de Pinheiros a outros bairros e ao centro da cidade. Com a era automobilística passou por reformulação para dar passagem aos veículos de passeio, caminhões e ônibus, sobrepondo a linha de bonde com nova pavimentação.

A convergência viária, que proporciona acesso a várias ruas e avenidas, favoreceu nos anos 1970, a implantação de terminal de ônibus no Largo, aumentando significativamente o trânsito de pessoas, que se utilizava dos meios de transporte para alcançar o seu destino. Desenvolveram-se ali o comércio e vários tipos de serviços, que se instalaram no casario térreo e assobradado, bem como se instalou o comércio informal ocupando as calçadas e trechos das vias públicas. Aos poucos as construções tiveram suas fachadas cobertas com material de baixa qualidade, sem padrão normativo, com o nome do estabelecimento e propagandas de seus produtos e serviços, poluindo a paisagem local. Com a extensão da Avenida Faria Lima em direção à Avenida Pedroso de Moraes a área prosseguiu o processo crescente de deterioração.

Com a legislação municipal, editada em 2006, que instituiu a cidade limpa, as construções comerciais e de serviços, por conta do cumprimento legal, tiveram que retirar as placas dos seus estabelecimentos, revelando as qualidades construtivas de suas fachadas com seus elementos arquitetônicos da cidade de outrora, como foi o caso do Largo da Batata. A maioria dos edifícios encontrava-se em estado precário, à espera de manutenção e restauro.

Na virada do século 20, o Largo foi palco de muitas discussões quanto a sua requalificação e novas questões se avolumaram quanto ao destino da área. Passou a integrar Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo – PDE, de 2002, revisado em 2014, com a Operação Urbana Faria Lima. A população e o poder público reconheceram a necessidade de reurbanizar e reorganizar os fluxos do tráfego.

“A Operação Urbana Consorciada Faria Lima (Lei 11.732/1995) compreende 650 hectares e está situada na região sudoeste do município de São Paulo. Tem por objetivos principais reorganizar os fluxos de tráfego particular e coletivo ao implantar o prolongamento da Avenida Faria Lima interligando-a as avenidas Pedroso de Moraes e Hélio Pelegrino até alcançar a Avenida República do Líbano, além de construir terminal multimodal junto a estações da CPTM e Metrô. Também são objetivos importantes da Operação promover a reurbanização do Largo da Batata e urbanizar as favelas em seu perímetro, ou entorno imediato. Sua adequação ao Estatuto da Cidade resultou na Lei 13.769/04” (3).

Com prolongamento da Rua Cardeal Arco Verde em direção à Rua Sumidouro com acesso à Marginal Pinheiros na primeira década do século 21, a fim de proporcionar também o acesso direto ao Terminal Pinheiros junto à Estação de mesmo nome e próximo a Estação Faria Lima, estabelecendo-se a conexão com os trens urbanos da Companhia Paulista de Trens Metropolitano – CPTM. Com a inauguração do novo Terminal houve o remanejamento do terminal de ônibus, municipais e intermunicipais, do Largo para o novo equipamento.

Neste contexto, foi realizado pela municipalidade o Concurso de Reconversão Urbana do Largo da Batata, que consistia numa proposta reurbanização, considerando a implantação da Linha 4 – Amarela do Metrô, financiada pelo Estado e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDES. Para o Concurso foi determinado o uso de normas urbanísticas vigentes, que previa a valorização dos espaços públicos, como a circulação, a acessibilidade, o estar, o lazer, a cultura, os fluxos de pedestres e o tratamento paisagístico.

Admitia-se no edital a desapropriação de construções, caso necessário, a reformulação do sistema viário, as propostas/sugestões em espaços públicos ou áreas privadas com a instalação de elementos arquitetônicos marcantes, de modo a constituir um conjunto urbano referencial metropolitano. Previu-se a conexão física e formal dos elementos de infraestrutura, parcelamento do solo, traçado da malha de circulação, espaços abertos e edificações, bem como a hipótese de nova configuração volumétrico-arquitetônica e funcional das quadras lindeiras ao Largo, entre outros itens (4).

Ainda que o Largo da Batata tenha se transformado com o decorrer dos séculos, as ruas Pinheiros e Butantã fazem parte do seu traçado inicial, que atualmente, tem sua delimitação definida pelas confluências da Avenida Brigadeiro Faria e das ruas dos Pinheiros, Butantã, Teodoro Sampaio, Cardeal Arcoverde, Baltazar Martim Carrasco, Chopin Tavares de Lima e Fernão Dias.

No concurso citado três equipes foram premiadas e duas receberam menção honrosa, porém os projetos selecionados não chegaram a ser implantados (5). A região vem sofrendo intervenção, com acelerado processo de demolição de seu casario, que vão sendo substituídos por edifícios verticais, favorecidos pelo aumento dos lotes. Durante as obras do Metrô e de suas estações e do novo Terminal retirou-se o comércio informal, com a migração de alguns ambulantes à Rua Teodoro Sampaio, com predominância comercial e de serviços.

Com o redesenho do Largo trocaram-se os pisos das vias e das calçadas, e o local ganhou espaços vazios que foram denominados “praças”, sem um tratamento paisagístico condizente o local tornou-se hostil. Sobressaem nessa transição a mudanças na paisagem urbana, com novas construções residenciais, comerciais e multifuncionais (corporativos e serviços), bem como, um número significativo de áreas vazias em função das demolições e construções comerciais remanescentes com suas portas fechadas, pichadas e com placas de “vende-se”, favorecendo a especulação imobiliária.

A população se mostra insatisfeita com a intervenção no Largo, porém, admite-se de antemão, que num primeiro momento a ideia de reurbanização parecia plausível, mas com o decorrer do tempo, entenderam que foi apenas uma reforma, para integrar o Metrô e o fluxo viário, sem qualificação projetual.

Apesar do cenário exposto, sem o terminal de ônibus, sem o comércio informal, o Largo tem como característica como local de passagem. Daí a importância do movimento A Batata precisa de você, que passou a interagir com esse espaço trazendo novos usos e diferentes atividades, por exemplo, com exposições temporárias de arte e de livros, feiras com motivos diversos, shows artísticos e outras manifestações culturais, políticas e sociais, algumas vezes eventos associados com a Subprefeitura que contempla a área.

A Batata precisa de você

Laura Sobral, idealizadora de A Batata precisa de você, comenta que iniciaram com sete integrantes, numa reunião de pessoas da região, parentes e amigos. Aos poucos envolveram o comércio local e instituições que acreditam no projeto, como também, alinharam-se a outros movimentos com objetivos afins. As ações sociais e populares do Movimento vêm se fortalecendo com a participação coletiva nas decisões conjuntas que primam por sua manutenção e conservação, com a dignidade que lhe foi tolhida.

Sobral Lembra que passam por ali diariamente milhares de pessoas, em função dos meios de transportes público e privado (metrô, ônibus, veículos e bicicletas), comércio e serviços que a região oferece. Evidencia que as discussões propositivas são embasadas nos anseios da população, para tornar o Largo mais aprazível, com instalações de equipamentos e mobiliários condizentes ao convívio social, considerando a nova demanda.

Laura Sobral (à esquerda, de vermelho) discutindo alguns pontos da implementação com outros colegas do movimento
Foto Marcio Augusto Giannelli

Defende a necessidade de promover atividades, em vários horários do dia, sobretudo à noite, em que o local fica mais deserto. Comenta que são comuns os relatos de pessoas, que transitam a área neste horário e reforçam a falta de segurança. A região conta com a presença de alguns moradores de rua que habitam na área em busca de abrigo. Inclusive, a equipe de manutenção denominada os Batatas Construtores construíram um abrigo com palites e lonas para um dos moradores que vive há muitos anos no Largo.

Equipe dos Batatas Construtores discutindo a criação de um novo mobiliário publico para a praça
Foto Marcio Augusto Giannelli

Sobral, além de pontuar a constante convivência com o local, fala da afetividade que a move e a consciência da preservação, pois o lugar faz parte da história da cidade. A discussão e reflexão do destino dessa região gira em torno de pequenas ações sucessivas que se somam, para transformar o espaço árido em espaço convidativo para as pessoas. Às sextas-feiras, a partir das 18h00, os integrantes apresentam propostas, sugestões e são feitas as votações para os afazeres na semana seguinte. Os avisos da pauta são afixados fisicamente na área às quintas-feiras da semana anterior e divulgadas na página do Movimento no Facebook.

A arquiteta defende que as ações futuras de organização devem ser realizadas em prol do planejamento mais assertivo e dirigidas à população, não como um fato novo, mas visando sobrepor somente o discurso, sem ação. O Movimento é multidisciplinar o que contribui nas tomadas de decisões. Engajada nas ações públicas e coletivas apoia-se na sua visão técnica e na sua experiência em outros movimentos populares que incluem intervenções urbanas.

Em entrevista para Revista Trip, editada em vídeo, em 20 de março de 2015, a Laura Sobral conta um pouco da historia do Movimento, chamando atenção para situações inusitadas. Uma delas diz respeito à tradição matrimonial, que traz depoimentos de casais que vislumbram fazer a festa de casamento numa Praça, assim o dinheiro não seria o impeditivo. Enaltece tal conduta, ao tornar o casamento um evento praticável, que reúne a ação religiosa e o ato popular: “Você pode fazer o que quiser se você tiver uma rede de pessoas, uma rede de amigos” (6).

Conta que o movimento A Batata precisa de você desde o início se apropria de maneira pacifica. Na entrevista comenta:

“Me propus com um grupo de amigos, vizinhos, família e todo mundo que mora por aqui a estar todas as Sextas feiras no Largo para transformar um espaço que foi completamente entregue sem vida e sem estrutura. E agente veio em magnânimas 7 pessoas para o largo da batata. Fez um leiturasso, trouxemos vários livros. Já passou a ser A Batata Precisa de Você, número UM, e eu achei que poderia fazer uma ação regular que eu acredito que é como se transformam os lugares” (7).

O Largo em movimento

Na cidade de São Paulo identificam-se organizações pontuais e movimentos coletivos que vem ganhando maiores proporções, na busca de soluções e alternativas autônomas, sem a espera de medidas do poder público. Essas ações sugerem novas perspectivas de modelos organizacionais dos espaços, num contraponto nos dias atuais, com as decisões que permeiam a relação dos ambientes de grandes empresas.

Em 2013, por exemplo, com as passeatas para protestar o aumento da passagem de transportes coletivos públicos, em que outros estados participaram com resultados favoráveis à população, o Largo da Batata foi ponto de encontro e de concentração de pessoas para esse ato e tem sido também para outros atos políticos em níveis locais e nacionais.

Um acontecimento recorrente, é que aumentam a cada ano o número de bandas e de blocos carnavalescos, que se dirigem à região de Pinheiros e Vila Madalena, ocupando suas vias e praças para atração de seus foliões. Esse evento conta com o apoio da administração pública e passou a fazer parte do calendário da cidade. O Largo em função da sua área livre tem recebido os blocos que passam por ali ou mesmo se instalam por determinado tempo.

Cabe salientar que no Largo tem ocorrido com maior regularidade promoções e manifestações artísticas e culturais, como recentemente acolheu uma feira temporária de livros e periódicos usados com preços acessíveis. Apresentação de grupos de danças e grupos musicais, e músicos renomados ou não. A sua volta conta com alguns bares com características de botecos, Casas do Norte e estabelecimentos dedicados a produtos e pratos típicos populares.

Um dia no Batata

A partir das investigações, como citado acima, e em contato com o grupo, participou-se da pintura da faixa de pedestres, numa das bordas do Largo, em 17 de abril de 2015, iniciando-se às 18h, com duração de 4 horas. Aproveitou-se a oportunidade para realizar registros fotográficos, entrevistas com os coordenadores e promotores do Movimento, moradores e usuários.

A medida foi debatida durante um mês no próprio Largo e divulgada na rede social Facebook, A Batata precisa de você, na mídia e por meio de entrevistas em periódicos, inclusive apresentaram propostas artísticas de como seria o evento na via pública (8). O material utilizado foi doado pelos estabelecimentos comerciais presentes na área e trazido pelos próprios integrantes.

Marcos Moura, pai de Laura Sobral, durante o evento apresentou os feitos executados por eles, como a criação de pequenos ambientes com bancos para duas a quatro pessoas, mesas, rede wi-fi, coletores de água, criação de áreas verdes com mudas de árvores, pequenos arbustos, em local que chamam de praça. Ações executadas pelos Batatas Construtores.

Para construção da faixa de pedestre dividiram-se em três grupos. O primeiro grupo ficou responsável pela marcação da faixa com fitas crepe, o segundo com a orientação do trânsito na via e o terceiro pelo preparo das tintas e pintura das faixas. Dividiram a via em duas partes e ao secar a tinta, o grupo ia liberando a pista ao trânsito.

As equipes se organizando para a construção da faixa. À esquerda a equipe de finalização. À direita a equipe de controle de fluxo da via
Foto Marcio Augusto Giannelli

A pintura da faixa, intitulada, Batata faixa foi feita cerca de 500 m da faixa de pedestre oficial, com a justificativa de que seria melhor para o trânsito de veículos e pessoas. Aliás, A Batata precisa de você criou o padrão para identificar e nomear tudo que são executados por eles, colocando sempre como prefixo a palavra Batata. É como se reconhecem: os Batatas ou Batateiros. O evento mostrou a coesão diante das afinidades do Movimento.

A Batata faixa foi proposta com o argumento de que veículos paravam sobre a sinalização horizontal. Em pesquisa a outras faixas similares notaram que algumas delas havia linha contínua, antes da faixa e em outro sentido, considerando-o esse tipo mais adequado ao local. Sobral rebateu dizendo que “um monte de gente passa por aí. É óbvio que a outra faixa é fora do percurso de travessia. Então ao notar isso decidimos tomar uma ação para evitar atropelamentos”.

Faixa pronta e sendo usada já pelos pedestres no mesmo dia (esquerda). Faixa sendo usados dois dias depois da finalização (direita)
Fotos Marcio Augusto Giannelli

Após a sua implantação algumas pessoas se manifestaram positivamente, especialmente as que passam por ali diariamente como do Sr. Jorge “Nossa, finalmente teremos uma sinalização aqui”. Uma senhora que passava disse “Outro dia vi um atropelamento bem aqui. Ainda bem que tem alguém pensando na gente”.

Ao acompanhar o desfecho pela rede social e conversas com a Laura Sobral e o Marcos Moura, os mesmos comentaram que houve um período de manutenção, enquanto a Batata faixa não fora removida, apesar da repercussão na mídia da ação coletiva dos Batata. A Batata Faixa não era oficial, neste caso teria que ser aprovada e regulamentada. Sobral afirma que enviou diversas mensagens para os responsáveis públicos e recebeu, inúmeras vezes, respostas desoladoras.

Foto postada por uma integrante do grupo após a faixa ser retirada pela CET
Foto divulgação [Movimento A Batata Precisa de Você]

Segundo a visão do grupo a faixa implantada era compatível com as diretrizes das normas municipais vigentes, e acreditam ter se apoiado nas ações de incentivo que permitem melhoria dos espaços urbanos, fundamentando-se Art. 5º – A Operação Urbana Consorciada Faria Lima, que tem como uma das diretrizes urbanísticas, os benefícios para o pedestre e a prioridade do uso de transporte público:

“II – abertura de espaços de uso público, compatíveis com a dinâmica de desenvolvimento da região, dimensionados de forma a possibilitar a criação de áreas de lazer e circulação para pedestres e de vias que permitam a priorização do transporte coletivo sobre o individual” (9).

Conclusão

O Movimento A Batata Precisa de Você pode-se dizer que tem uma proposta inovadora, ao se reunir em espaço geográfico definido, isto é, no próprio Largo da Batata, onde estudam formas e maneiras colaborativas de melhoria daquela área. Acredita que as sugestões oriundas do espaço virtual devem ser discutidas no espaço físico com a presença do criador da ideia, pois somente desta maneira alcançará a legitimidade, transformando a participação num ato social, de cidadão.

Este tipo de deliberação tem implicado em nova perspectiva social, pois revela a importância de criar a identidade do lugar voltado ao consenso coletivo. Sublinha-se a postura de líderes dentro do Movimento (10), que não se posicionam como mandantes para a votação de novas ideias, mas organizadores de todo o processo.

Independente de quaisquer formas de interpretação no quesito de apoio ou desaprovação de suas ações, o acesso às mídias sociais tem dado maior visibilidade ao grupo. No entanto, ao analisar as suas ações, indaga-se se as decisões podem surtir efeitos negativos ao que se pretende, podendo gerar outros problemas, ainda que se busquem soluções.

Ademais, o aparecimento de grupos e movimentos mostra de certa forma a ineficiência do poder público e vem assumindo um papel fundamental ao contribuir com a gestão de espaços da cidade, para os eventos culturais, sociais e políticos, além de atividades esportivas como caminhadas e corridas, ciclismo, exercícios físicos funcionais, artes marciais, movimentos meditativos, entretenimentos e lazer, entre outros feitos que envolva a parceria de todos, o manifesto aqui descrito.

notas

1
SÃO PAULO URBANISMO. Operação Urbana Consorciada Faria Lima. São Paulo, Secretaria de Urbanismo, Prefeitura de São Paulo <www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/sp_urbanismo/operacoes_urbanas/faria_lima/index.php?p=19591>. Acesso em: dez. 2015.

2
LODI, Letícia Takedo. O concurso em no projeto urbanístico. São Paulo 1998-2004. Dissertação de Mestrado. São Paulo, FAU USP, 2008, p. 103.

3
SÃO PAULO URBANISMO. Op. cit.

4
BROWN, Tim. Design Thinking. Uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. São Paulo, Elsevier, 2010. p. 272.

5
PORTAL VITRUVIUS. Concurso Público Nacional Reconversão Urbana do Largo da Batata. Projetos, São Paulo, ano 02, n. 017., Vitruvius, mar. 2002 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/02.017/2143>.

6
Trecho da entrevista dada por Laura Sobral, à revista Trip, 20 de mar. 2015. Na mesma matéria, ela relata a conversa com um morador do Largo: “A gente já mora juntos há quatro anos. E eu queria muito fazer esta festa, porque assim as mulheres sempre querem fazer festa de casamento. E ele falava: ai, mas pra quê? E a gente sempre acreditou que para fazer qualquer coisa dinheiro não é o impeditivo. Você pode fazer o que quiser se você tiver uma rede de pessoas, uma rede de amigos. Ele falou: ah, acho que agora eu topo uma festa. Eu falei, é mais como? Ele falou: Podia ser na praça né? Eu falei: é. Sabia que eu acho que foi ideia dele... lembrando agora, sou capaz de jurar que foi ideia dele”.

7
Idem, ibidem.

8
Apesar de usar a ferramenta virtual para se articular a gente não acredita no cyber ativismo, ativismo de sofá, a gente precisa de gente que faz. Pode dar o palpite que você quiser na internet, ele não vai ser deliberativo se você não vier aqui decidir.

9
SÃO PAULO URBANISMO. Operação Urbana Consorciada Faria Lima. São Paulo, Secretaria de Urbanismo, Prefeitura de São Paulo, 26 de janeiro de 2004 <www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/sp_urbanismo/operacoes_urbanas/faria_lima/index.php?p=19610>. Grifo nosso.

10
O Movimento com líderes como Laura Sobral e o designer de produto e sócio da Questonó, Flavio di Sarno, o Barão.

sobre o autor

Marcio Augusto Giannelli é graduado (FAAP, 2000) e especialista (Istituto Europeo Di Design, 2013) em Desenho Industrial, mestre em Arquitetura e Urbanismo (USJT, 2016). Titular da Hulk Design, é atualmente professor do Istituto Europeo Di Design.

legendas

01. Foto usada na pagina inicial do Facebook do movimento
Foto Laura Sobral

02. Fotos referentes a sequencia do processo de construção da Batata Faixa
Foto Marcio Augusto Giannelli

03. Laura Sobral (à esquerda, de vermelho) discutindo alguns pontos da implementação com outros colegas do movimento
Foto Marcio Augusto Giannelli

04. Equipe dos Batatas Construtores discutindo a criação de um novo mobiliário publico para a praça
Foto Marcio Augusto Giannelli

05. As equipes se organizando para a construção da faixa. À esquerda a equipe de finalização. À direita a equipe de controle de fluxo da via
Foto Marcio Augusto Giannelli

06. Faixa pronta e sendo usada já pelos pedestres no mesmo dia (esquerda). Faixa sendo usados dois dias depois da finalização (direita)
Foto e montagem Marcio Augusto Giannelli

07. Foto postada por uma integrante do grupo após a faixa ser retirada pela CET
Foto divulgação
Fonte: Movimento A Batata Precisa de Você

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