Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
O fechamento da loja da Fnac Pinheiros em São Paulo ameaça o comércio de rua e a própria saúde do espaço público no seu entorno.

how to quote

CALLIARI, Mauro. O fechamento da Fnac Pinheiros expõe a delicada relação entre o comércio de rua e a vitalidade do espaço público. Minha Cidade, São Paulo, ano 18, n. 215.02, Vitruvius, jun. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/18.215/7011>.


Evento na praça dos Omaguás em 2014. Ao fundo, edifício da Fnac (antiga Ática Shopping Cultural), São Paulo, arquitetos Paulo Bruna e Roberto Cerqueira Cesar
Foto Mauro Calliari


A livraria Cultura, que havia comprado as lojas da FNAC no ano passado, confirmou hoje que vai fechar a unidade de Pinheiros.

Inaugurada em 1997, a loja é um marco arquitetônico no bairro e na cidade, em que o prédio “conversa” com a praça em frente através de uma generosa fachada de vidro, num feliz projeto dos arquitetos Paulo Bruna e Roberto Cerqueira Cesar.

O plano da antiga editora Ática era ambicioso: o Ática Shopping Cultural teria todos os livros em catálogo no Brasil, e de fato foi lançado com incríveis 105 mil títulos. O atendimento era feito por pessoas que realmente gostavam de livros – estudantes de letras, amantes de romances, novelas, contos, ficção e até autoajuda. A loja virou um ponto de encontro e eventos rapidamente.

O melhor do novo projeto, porém, era a relação com a praça. A livraria, inundada de luz e de frente para as árvores, praticamente refundou a praça dos Omaguás e transformou-se num ponto turístico e num pequeno oásis na paisagem de Pinheiros.

Mesmo assim, a dinâmica dos negócios editoriais revelou-se implacável. A Editora Ática nunca se recuperou do investimento e foi vendida para o grupo Abril e para a Vivendi. A loja foi comprada pela Fnac em 1998, que diminuiu gradativamente o espaço dos livros e Cd´s para vender equipamentos eletrônicos. Vinte anos depois, insatisfeito com os resultados, o grupo francês decidiu sair do Brasil e vendeu, aparentemente com enormes subsídios, as lojas para a Cultura. A livraria Cultura, assim como outras livrarias no Brasil – e no mundo – também dá sinais de estresse financeiro, atrasando pagamento de fornecedores e ontem confirmou o fechamento da loja.

Mais  do que uma saga de um segmento empresarial, as dificuldades do mercado editorial e das livrarias apresentam uma faceta crucial para a vitalidade da cidade: as lojas são pólos de atração de pessoas, de encontro, de convivência e de criação de espaço público.

O fechamento de qualquer loja causa uma perda para a cidade. O fechamento de uma grande livraria causa uma tristeza ainda maior.

A livraria é um lugar onde pessoas ficam horas, olhando, lendo, conversando, tomando um café. Em algumas delas, ainda há apresentações e debates, como na Martins Fontes da Paulista ou na Livraria da Vila e  principalmente na loja da Cultura no Conjunto Nacional, uma das mais lindas do mundo. A antiga loja da FNAC em Pinheiros, além de bonita, ainda ajudava a manter uma praça viva, oferecendo um ponto de encontro, um cenário, movimento e proteção.

A praça dos Omaguás é, há anos, um dos meus lugares preferidos na cidade.

A livraria gigante gerava movimento para pequenos negócios ao redor da praça, como o 62 graus, uma simpática lojinha de “coisas supérfluas” e comidinhas nada supérfluas e lojas com vista para o jardim da praça, disputada pelos frequentadores da feirinha semanal, moradores de rua, fregueses e foliões no carnaval. Mesmo pequena, a praça é um alívio para o movimento da avenida Pedroso de Moraes, que passa em frente.

A lojinha simpática fechou, as comidinhas acabaram, a loja-conceito da Nike fechou, e, agora, a megaloja linda da Fnac/Cultura vai fechar também, deixando na praça a ACM – Associação Cristã de Moços, que ainda atrai um monte de gente, um restaurante agradável num predinho simpaticíssimo e uma padaria alquebrada, que só espera por um comprador. Semanalmente, ainda acontece uma feirinha de quadros no jardim da praça, que foi reformado recentemente pela prefeitura.

É uma pena que essa loja esteja fechando e que o comércio de rua esteja ameaçado. As lojas de rua têm um papel fundamental na saúde do espaço público. Elas oferecem segurança, manutenção, atração e retenção de pessoas. Agora, além da concorrência com os shopping-centers, elas também estão sofrendo com o e-commerce, que faz com que as pessoas nem precisem mais sair de casa para comprar um celular – ou, para os que ainda leem — um livro.

Na praça dos Omaguás,  há um vácuo que precisa ser preenchido.

sobre o autor

NE – Publicação original do artigo: CALLIARI, Mauro. O fechamento da livraria FNAC Pinheiros expõe a delicada relação entre o comércio de rua e a vitalidade do espaço público. Blog Caminhadas Urbanas, São Paulo, 13 jun. 2018 <https://bit.ly/2ye876o>.

sobre o autor

Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor de organizações.

comments

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided