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PORTAL VITRUVIUS. Prêmio Prestes Maia de Urbanismo / 2006. Projetos, São Paulo, ano 06, n. 067.02, Vitruvius, jul. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/06.067/2689>.


É possível retirar o Minhocão?

O Elevado Presidente Arthur da Costa e Silva é um grande equipamento para o transporte rodoviário, concebido e construído numa época em que a discussão do tráfego expresso pautou o planejamento de muitas cidades, nas décadas de 1960 e 1970, principalmente nos Estados Unidos. Cerca de 40 anos antes, em São Paulo, a priorização das grandes avenidas e eixos viários expressos já era o fio condutor do Plano de Avenidas de Prestes Maia. Desde então, vê-se em diversas iniciativas da administração pública o foco em obras de grandes proporções, que cortam a cidade de maneira inócua e rompem tecidos em nome de um rodoviarismo perverso e de uma jamais alcançada eficiência do transporte motorizado individual.

Recentemente, com a constatação tardia da inadequação do sistema de transporte público de massas, os governos de diversas esferas têm procurado discursos mais coerentes com as necessidades de transporte urbano e metropolitano. O Plano Integrado de Transportes Urbanos para 2020 (PITU2020), que vem sendo gradualmente implantado desde 1995, propõe uma significativa alteração no padrão de transporte de São Paulo. É animadora a incorporação da rede da CPTM pelo Metrô: mais estações, maior freqüência e qualidade dos trens da CPTM significam um aumento proporcional de cerca de 900% na rede de trilhos em São Paulo (comparação ponderada entre extensão das linhas e número de usuários em 2000). No entanto, é provável que jamais deixemos de nos basear no transporte motorizado individual por razões culturais e, mesmo, geográficas da Cidade. Cabe, assim, planejar os inevitáveis grandes equipamentos rodoviários de maneira não só eficiente do ponto de vista do transporte, mas também em consonância com os tecidos e funções que ele atravessa ou alimenta.

O Minhocão tem como característica mais evidente o literal ‘descolamento’ físico em relação ao tecido que atravessa. Foi projetado como componente de um eixo metropolitano (Leste-Oeste), em escala alheia aos bairros. Há poucos acessos e sua interferência ambiental é notoriamente nociva às ruas e edifícios do entorno. Conclui-se, desta maneira, que sua localização é fruto de algum grau de arbitrariedade e que, preservada a função de ligação Leste-Oeste, essa via expressa poderia estar em outro local.

Um fato curioso observado é que, nos horários de pico, o Minhocão fica freqüentemente congestionado, enquanto que as avenidas Gal. Olímpio da Silveira e Amaral Gurgel têm volume sensivelmente menor. Outra característica também bastante inquietante é que o Elevado é destinado exclusivamente ao transporte individual, já que em seu leito não trafegam ônibus. Além do corredor de ônibus, existem na região não menos do que 3 estações de metrô: República (com duas linhas), Mackenzie (em construção) e Marechal Deodoro, além do terminal Barra Funda que pode ser facilmente alcançado através do Memorial da América Latina. É necessário planejar uma real interseção entre o transporte público já existente e as novas funções a serem instaladas na área.

A cidade prescinde do Elevado, mas não dispensa uma via expressa eficiente, que reflita a escala da metrópole. A proposta em que se baseia todo o trabalho exposto nas demais pranchas sugere uma troca: demole-se o Minhocão, e constrói-se uma via expressa num local adequado. Parte do fluxo atual de 80 mil veículos por dia hoje poderá ser absorvida pelas avenidas sob o Minhocão. Esse fluxo poderá ter um caráter metropolitano também, mas será, sobretudo, um tráfego integrado às funções e espaços dos bairros lindeiros. A maior parte do fluxo, ou seja, aquele que apenas cruza o Centro para ligar Leste a Oeste, será desviado para um novo caminho ao longo da linha de trem. A implantação desta via expressa é fácil, uma vez que há espaço disponível ou de uso obsoleto na orla ferroviária. É interessante, também, pois se aproveita de uma outra cicatriz existente que dificilmente será suprimida: a linha do trem. Seria, assim, uma maneira de agrupar os equipamentos mais agressivos, minimizando seu impacto. Outros pontos positivos seriam:

- fácil conexão com o Centro;

- um traçado ainda mais longo que o atual eixo Leste-Oeste (que termina inexplicavelmente nas ruas da Lapa), interligando vias expressas como a Marginal do Tietê e a Av. Alcântara Machado;

- proximidade e paralelismo com o atual eixo Leste-Oeste e com a Marginal do Tietê, redistribuindo o tráfego entre três caminhos de grande porte;

- fácil conexão entre o velho e o novo trecho proposto, através de avenidas importantes, o que promove não somente uma adequada interface entre vias de escala diferente, mas também uma boa capilaridade de acesso aos tecidos próximos.

Para o dimensionamento adequado dessa nova via expressa, será necessário um estudo aprofundado sobre a natureza dos deslocamentos no sentido Leste-Oeste, além de um projeto para os pontos de conexão entre essas vias e as avenidas que ela corta. Essa conexão é importante para a configuração de um verdadeiro sistema viário de múltipla escala. Haverá necessariamente um projeto detalhado trecho a trecho, de forma a incorporar as singularidades de cada bairro que atravessa. Não se deve repetir a mesma irresponsabilidade evidenciada no planejamento do próprio Minhocão.

No bairro da Luz, por exemplo, especial atenção deverá ser tomada para que a via expressa não prejudique ainda mais o bairro. Entre a estação Júlio Prestes e o pátio de manobras do Pari prevê-se um trecho subterrâneo. Considerando-se a importância arquitetônica, urbanística e funcional da região da Luz, a instalação de uma nova via expressa acentuaria ainda mais os problemas hoje verificados no bairro: é uma região de altíssima acessibilidade (com a incorporação das linhas da CPTM ao metrô, só a Estação da Luz terá um acréscimo de 600% a 1000% de passageiros nos próximos 15 anos. Além disso, o bairro é cortado pelas avenidas Tiradentes e do Estado, importantes vias de alto tráfego), mas não reflete no tecido a vitalidade possível. A trincheira formada pelas linhas de trem neste trecho, associada à configuração de via expressa da Av. Tiradentes divide a região em 4 quadrantes, extremamente mal-relacionados entre si. Hoje, pode-se de dizer que o bairro é um grande nó de transporte, mas não resulta num lugar adequado (em termos de qualidade espacial e funções econômica e social).

Em resumo, a presente proposta contempla as seguintes observações e alternativas para a questão do tráfego:

1. O Elevado não é imprescindível como equipamento para transporte;

2. A função de ligação Leste-Oeste poderá ser melhor desempenhada por uma via expressa junto à linha do trem, com menor impacto ambiental;

3. Mantêm-se as avenidas existentes sob o elevado, caracterizando um eixo de alta capacidade, porém com uma relação direta com os bairros que corta;

4. Prioriza-se a relação atualmente frágil entre os bairros dos dois lados do Minhocão, hoje segregados;

5. A nova via expressa, juntamente com o antigo eixo (que passará a ter escala mais local), formará um sistema de múltiplas escalas no sentido Leste-Oeste, com relação direta com o Centro e outras vias importantes.

É interessante desmontar o Minhocão?

O Minhocão exerce hoje uma péssima influência sobre os bairros que corta. Os negros tentáculos do Elevado têm diferentes alcances:

- na área de influência imediata, existe sombra eterna e falta de ventilação no nível da rua. O Minhocão transforma as ruas onde passa num grande subterrâneo soturno e insalubre.

- passando tão próximo dos edifícios quanto 3 metros em alguns trechos, criam condições desumanas para se morar ou trabalhar: barulho e sujeira são completados pela cômica-não-fosse-triste abertura das janelas dos segundos andares dos prédios diretamente na altura dos carros, cujos motoristas assistem ao cotidiano das famílias enquanto estão parados nos freqüentes engarrafamentos. Os primeiros andares, abaixo do nível dos carros, não têm sequer a chance de ver o sol.

- vários quarteirões a partir do Minhocão têm patente a desvalorização dos imóveis, sendo mais grave a situação dos edifícios mais próximos da via Elevada. A perda de interesse imobiliário resulta em imóveis maltratados, baixa densidade, má conservação e usos em dissonância com a oferta de infra-estrutura, como galpões industriais obsoletos ou subutilizados.

- é indiscutível que, apesar de se tratar de uma via elevada e não constituir um obstáculo físico de circulação entre seus dois lados, existe uma clara diferenciação no padrão dos bairros a Nordeste e a Sudoeste do Elevado. É um símbolo dessa divisão e impede que bairros como Campos Elíseos, com suas belas casas do café e grandes lotes, participem da dinâmica de Santa Cecília ou Higienópolis.

No entanto, não existem somente pontos negativos na região, pelo contrário: observa-se grande quantidade de estabelecimentos de ensino, tanto públicos quanto privados. Hospitais, bibliotecas, teatros e importantes praças estão também presentes no entorno do Elevado. Estão todos, no entanto, perfeitamente desarticulados e isolados uns dos outros. As 4 estações de Metrô existentes podem significar um importante acesso à região, junto das importantes avenidas que estão presentes: Angélica, São João, Pacaembu, Consolação, Amaral Gurgel, Duque de Caxias etc.

Como desmontar o Minhocão?

O projeto de transformação do Elevado Costa e Silva deve ser entendido como parte de um projeto mais amplo de requalificação de toda a região central de São Paulo. É o entendimento de que esta cicatriz destrói o tecido urbano e de que somente com a compreensão da real extensão além-Minhocão poderá resultar um projeto eficaz. Desta maneira, a proposta apresentada trata não apenas do viaduto em si, como também das áreas imediatas e dos bairros adjacentes, num esforço de entender toda a dinâmica do Centro.

Um dos pontos mais expressivos da proposta é a demolição parcial do Elevado, como se poderá ver em maiores detalhes na prancha 3. Os trechos a serem mantidos estão em local estratégico, de forma que os equipamentos públicos previstos para esses trechos se tornem articuladores da transformação esperada. Eles coincidem também com os locais onde a existência do viaduto não prejudica necessariamente o espaço urbano: próximo a praças, largos, entroncamentos e longe dos edifícios. Os equipamentos públicos previstos deverão dialogar com as funções do entorno, de forma que o próprio Minhocão seja o responsável pela reversão da degradação que ele causou.

Entre a avenida Amaral Gurgel e o metrô Marechal Deodoro será aberto um grande Jardim Linear, conectando áreas verdes já existentes próximo ao Largo Santa Cecília e na própria praça Marechal Deodoro. Serão construídos três equipamentos propostos para o Minhocão neste espaço, cada um com uma função diferente. A idéia é que esses equipamentos validem a existência do Jardim com funções que ‘costurem’ os dois lados, criem perspectivas interessantes e absorvam o potencial tráfego de pedestres que o metrô e os ônibus já trazem para a região. Para que esse Jardim seja possível, será demolida parte dos imóveis hoje existentes no trecho, mantendo-se os maiores edifícios envoltos pelo Jardim. A população retirada será transferida para novos imóveis a serem construídos no entorno imediato do Jardim.

A Nordeste do Jardim existem áreas de baixa densidade e uso incoerente com a infra-estrutura disponível, passíveis de desapropriação. Nesta área poderão ser construídos conjuntos habitacionais para os moradores que teriam de ser retirados dos prédios demolidos no Jardim Linear. Como a área é bastante ampla, sugere-se a elaboração de concursos públicos para o projeto dos novos edifícios, evitando-se criar um grande gueto de pobreza onde edifícios precários não contribuam para a renovação da região. Outras áreas de habitação popular, mescladas a serviços e comércio estão também previstas próximo ao Arouche, especialmente na zona englobada pela Operação Urbana (O.U.). Na área da atual O.U. são propostas alterações nos miolos de quadra, com a intenção de prever maior permeabilidade do solo e passagens verdes. Estas, que deverão ocorrer também em áreas não participantes da O.U., pretendem integrar de maneira mais eficaz espaços verdes e articular funções, como é o caso da Santa Casa e do Posto de Saúde sobre o Arouche (ver prancha 3).

Com as iniciativas propostas na zona de O.U., poderá ser transferido potencial construtivo para a área delimitada pelas avenidas Angélica, Pacaembu e Gal. O. da Silveira, a Nordeste do Elevado. Prevê-se uma continuidade natural do tecido residencial já consolidado na Barra Funda (porção Sudoeste do Minhocão), e que deverá ser beneficiado pela integração espacial e funcional proposta para o Memorial da América Latina. Importante motor de transformação, este deverá ser integrado à nova área através de uma grande praça entre as avenidas Gal. O. da Silveira, Pacaembu e rua Mario de Andrade. Essa praça será coroada pela criação de um novo equipamento, a ser construído num trecho mantido do Elevado, que vinculará as atividades artísticas do Memorial a um espaço para exposições, cursos, concertos etc. Passarelas estão previstas para transpor o tráfego da avenida Pacaembu.

Outras idéias compõem o vasto leque de atividades que poderão ser executadas gradualmente: uma praça suspensa no nível da rua da Consolação, com passarela de interligação com a Praça Roosevelt, será um grande mirante da área em transformação e vinculará a praça ao movimento de renovação da região; aberturas de miolos de quadra poderão interligar a Praça Roosevelt ao terreno hoje desocupado da antiga Sedes Sapientiae, na esquina das ruas Augusta e Caio Prado etc.

Mais que plantar jardins suspensos, o projeto propõe funções mistas que subsidiarão a criação de uma nova dinâmica urbana para a área. São elas que irão determinar o sucesso da recuperação dos bairros lindeiros ao elevado através de um novo sistema de espaços e usos harmônicos.

Não é um projeto ousado. Propondo pequenas intervenções pontuais e coerentes, é um projeto de fácil execução e de grande impacto funcional. Mais que transformar a área pela implantação de grandes edifícios mirabolantes, é importante dar condições para que ela se transforme sozinha.

O que fazer com a estrutura existente?

O elevado hoje é um elemento de grande obstrução visual. A partir do momento em que separa visualmente áreas vizinhas, ele promove a segregação entre espaços da cidade, desvalorizando grandes áreas. A degradação ambiental sob o viaduto é clara, a sombra eterna que causa no nível do térreo é danosa e a desvalorização dos edifícios próximos ao viaduto é notável.

O projeto propõe a derrubada da maior parte do Elevado Costa e Silva. As áreas restantes serão tratadas como elementos articuladores do tecido urbano a ser re-vitalizado e abrigarão edifícios públicos que complementem os serviços existentes nas áreas lindeiras. A retirada de grande parte do elevado tem como um dos objetivos promover a ligação entre os dois lados da via. Os trechos remanescentes funcionam como praças elevadas, além de articular as áreas verdes existentes e as novas áreas verdes criadas a rés do chão. Estes edifícios serão novos marcos urbanos que funcionam ao mesmo tempo como memória do viaduto que um dia existiu e como elementos articuladores de um novo espaço.

A demolição parcial do Elevado se baseia em alguns critérios-chave: onde a sua presença é necessariamente negativa (muito próximo aos edifícios, enclausurando a rua que passa embaixo), será demolido; nos locais onde há mais espaço, melhor perspectiva e possibilidade de um ‘magnetismo’ funcional, sua estrutura será mantida para receber novas atividades, sempre públicas.

É um trabalho de evolução urbana que não nega o pré-existente, mas transforma o espaço urbano positivamente. Os trechos mantidos se transformam em equipamentos e permitem a leitura do antigo conjunto, mostrando para a Cidade que ela pode conviver de forma positiva com seus antigos fantasmas. Este processo é fundamental não só para a memória do que um dia existiu, mas para que, dessa forma, o elevado simbolize a requalificação da região que ele próprio deteriorou. É uma característica muito evidente o fato de que o Elevado não se integra ao tecido em que foi introduzido. O princípio da intervenção é, portanto, inverter esse aspecto, ou seja, fazer com que os trechos restantes sejam elementos articuladores do tecido destruído e arbitrariamente desconectado.

Para a escolha das áreas a serem mantidas ou derrubadas foram analisados os espaços e funções do entorno. No total, quatro trechos foram mantidos. Estes se encontram nos locais onde a distância entre a via elevada e os prédios é maior e onde há praças, áreas verdes ou outros equipamentos urbanos que poderão se integrar a esses novos edifícios elevados.

O primeiro trecho mantido fica na altura do inicio da Rua Jaguaribe. Este ponto foi escolhido pela proximidade com o Largo do Arouche, com a Santa Casa, com uma série de equipamentos de Higienópolis e com as importantes áreas do centro da cidade. A idéia é que com a retirada do elevado, a integração entre o triângulo formado pela Praça da República, Largo do Arouche e o atual início do Minhocão, na Rua da Consolação e a área da Santa Casa, Biblioteca Monteiro Lobato e adjacências, rica em equipamentos culturais e de saúde, seja incrementada. É proposto para este trecho um Posto de Saúde para a população local que complemente as atividades da Santa Casa e dos edifícios próximos dedicados aos serviços de saúde.

O segundo trecho conservado se situa próximo ao encontro das avenidas São João e Amaral Gurgel. Com a intervenção proposta para as quadras entre a Av. das Palmeiras e a Av. São João, uma grande área verde é formada com a junção de toda a área entre a Praça Marechal Deodoro e a Av. Amaral Gurgel. Um jardim linear em que os edifícios maiores são mantidos e a permeabilidade conseguida requalifica a quadra deteriorada. Este ponto articula os dois lados do elevado através da integração visual e física entre esta grande área verde criada, o Largo de Sta. Cecília, a Av. São João (que faz a ligação com o centro da cidade) e os galpões ociosos dos Campos Elíseos, para os quais é proposta a instalação de habitações de interesse social (inclusive para receber os moradores que serão removidos dos prédios demolidos do novo jardim linear) e outros equipamentos que se juntem aos atuais, como os teatros ali existentes. Neste trecho funcionará uma Praça Elevada de Esportes, o que amplia as áreas livres da cidade e introduz um novo uso para a região, carente de espaços do gênero. O grande eixo visual da Av. São João é recuperado, uma vez que a parte do elevado que se situa sobre esta avenida será demolido.

Junto à Pça. Marechal Deodoro e à Av. Angélica, se situa o terceiro trecho mantido do elevado. A importância deste local se dá pela praça em si (que agora é ampliada, indo até a Av. Amaral Gurgel) e pela estação do metrô, alimentadora de pedestres para a área e pela proximidade com toda a região da Barra Funda. Também por haver espaço mais amplo e generoso, uma parte do elevado poderá ser mantida para receber um novo equipamento articulador. A retirada do elevado tende a aproximar os bairros de Higienópolis, Sta. Cecília e Barra Funda e, para este último, é esperada uma intensa verticalização. Esta área é provida de satisfatória infra-estrutura de transporte público, além de possuir faculdades, teatros e escolas e estar muito próxima a bairros de alto poder aquisitivo. O trecho mantido funcionará como Biblioteca Pública e Telecentro, complementando os serviços de caráter cultural presentes na região e dando apoio às diversas escolas e faculdades próximas. O elemento mantido ocupa o espaço, atuando como elemento de articulação entre os dois lados da Av. São João.

O último trecho mantido do elevado fica junto ao encontro da Av. General Olímpio da Silveira e Rua Mário de Andrade. Este ponto, também com razoável distanciamento dos prédios vizinhos, marca o final do elevado. É o último trecho mantido e busca integrar as regiões de Perdizes, Higienópolis e Barra Funda à área hoje esmagada entre o elevado e a linha férrea e o Memorial da América Latina. É buscada uma integração efetiva com o Memorial, que se conectará muito mais facilmente ao tecido urbano. O espaço compreendido entre a avenida Pacaembu e o elevado é mais uma grande área de ocupação amorfa e inexpressiva que poderá ter sua ocupação alterada e o seu uso incrementado com a transformação de toda essa região. Neste ponto, uma praça será formada a partir da desapropriação de alguns poucos edifícios de baixo gabarito e, sobre o trecho de via mantido, será instalado um Espaço Destinado às Artes, com palco, escola de dança, música, e atividades correlatas, como uma continuidade natural das atividades do Memorial da América Latina.

A manutenção destes trechos do elevado se fará através da permanência da estrutura existente nestes locais. A estrutura, por ser pré-moldada de concreto, pode ser facilmente desmontada. As peças que forem retiradas poderão ser reutilizadas em outras obras da cidade, como na construção de pontilhões e outras construções do gênero, e também para a própria construção dos equipamentos previstos sobre os trechos remanescentes. Será feito um tratamento sob os espaços mantidos da via elevada para que se transformem em grandes pontos de ônibus cobertos e para que deixem de causar a atual interferência visual. Sobre a estrutura serão construídos edifícios adequados às atividades propostas e um tratamento paisagístico adequado garantirá a qualidade ambiental do novo conjunto construído.

Implantação do projeto

Para a implantação de todo o projeto para a área do elevado Costa e Silva é previsto preliminarmente um período de 4 a 5 anos.

Um aspecto interessante do projeto proposto é o fato da implantação da via expressa ao longo da linha férrea não causar praticamente nenhum transtorno para a cidade durante sua construção, permitindo que a nova via seja criada sem o desmantelamento imediato do elevado Costa e Silva. Dessa forma, os cidadãos não sofreriam o habitual tráfego causado por obras de considerável porte, e a mudança de via expressa aconteceria literalmente de “um dia para o outro”.

Após a construção da nova via expressa, ocorreria a demolição dos trechos do elevado, de acordo com a proposta apresentada e os impactos desagradáveis dessa obra ocorreriam em locais pontuados, durante período relativamente curto.

Como o projeto é extenso e abrange intervenções de diversos âmbitos, várias frentes de trabalho são previstas, como pode ser observado no cronograma de barras preliminar abaixo.  É proposta inicialmente uma divisão em grandes fases de execução. Em cada uma dessas fases ocorrem diversas intervenções diferentes, devido à própria natureza da proposta. Em uma etapa posterior de projeto estas fases deverão ser minuciosamente detalhadas. São as fases:

Fase 1A primeira fase é composta basicamente por desapropriações e questões legais. Nesta etapa é necessária a desapropriação de trechos ao longo da orla ferroviária, acordos com a CPTM para a utilização de trechos ao longo da via férrea, desapropriações lindeiras ao elevado, e ainda as desapropriações de trechos para construções de conjuntos habitacionais, praças, entre outros (equipamentos e operações satélites ao elevado).

Fase 2A segunda fase é composta pela construção da nova via expressa. No primeiro momento desta fase é necessário o inicio das obras do trecho subterrâneo sob a região da estação da Luz, que é a obra mais complexa e demorada da proposta. Em um segundo momento desta etapa deve ser realizada a construção da via expressa ao longo da linha de trem e, finalmente, a adequação das vias secundárias e de acesso da via expressa, quanto a sinalização, sentido de tráfego, etc.

Fase 3Após a conclusão das obras da via expressa, e preparação das vias secundárias para a mudança de tráfego, a inversão de tráfego expresso deve ocorrer sem maiores problemas. Uma vez resolvida a questão da via expressa leste-oeste, são iniciados os trabalhos de demolição da maior parte do elevado que, a partir desse momento, perde todo o sentido prático.

Fase 4A fase quatro acontece, em parte, concomitantemente à fase 3 e é composta pela transformação dos trechos do elevado que se tornarão equipamentos públicos de diversas naturezas. Em conjunto com a implantação desses equipamentos, é realizado o tratamento urbano das ruas por onde o elevado passa atualmente, em termos de mobiliário, pavimentação e iluminação.

Fase 5A ultima etapa de implantação do projeto, é referente à instalação dos sistemas periféricos à desativação do elevado, como abertura dos miolos de quadra na região da Vila Buarque, implantação de edifícios residenciais populares nos Campos Elíseos, abertura de praças em Santa Cecília, passarelas no memorial da América Latina, e assim por diante. Esta fase não necessita, necessariamente, aguardar pela conclusão das outras etapas, e já pode ser iniciada logo após o término dos processos de desapropriação.

Uma vez iniciada a remoção do elevado, ou mesmo após a conclusão da via expressa ao longo da via férrea, é prevista certa especulação imobiliária na região, com uma abrupta alta dos preços em função do novo caráter do tecido urbano, objetivo central do projeto. A fim de se evitar onerar os contribuintes com esse inevitável aspecto sugere-se adiantar ao máximo as desapropriações necessárias na primeira fase de implantação do projeto e privilegiar, dentro do possível, as populações lindeiras ao elevado com os benefícios propostos.

O problema financeiro da implantação proposta é, sem dúvida, bastante considerável. No entanto, a proposta evita ao máximo intervenções de grande porte como as “soluções faraônicas” do passado, sendo assim bastante precisa em seu custo-benefício. Os maiores investimentos da operação seriam a instalação do trecho subterrâneo sob a luz, obra da maior importância, as desapropriações dos equipamentos próximos à região do elevado e a própria demolição do minhocão.

Um aspecto importante da proposta é a de que ela é composta por diversas funções articuladas, podendo ser entendida como um conjunto de ações com certo grau de independência quanto à sua implantação, que pode ser feita por etapas e ao longo do tempo, absorvendo os novos condicionantes vindouros de maneira flexível.

ficha técnica

AutoresForte, Gimenes & Marcondes Ferraz (Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz)

ColaboradoresAdriana Junqueira, André Malheiros, Bruno Balthazar, Ivo Magaldi, Luiz Florence, Paloma Delgado, Renata Davi, Renata Góes

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