O Paço e a Praça
A praça é, por excelência, o símbolo máximo do lugar público: ágora, assembléia, ponto de trocas e convivência, ponto de convergência e dissipação de idéias, lugar de conflitos, busca de entendimento entre os diferentes, espaço do sonho de uma ‘vida conversável’ como queria Fernando Pessoa.
Optamos por colocar o cidadão no centro dos acontecimentos, fisica e simbolicamente. Este é o início e o fim de nosso projeto: os três poderes constituídos da República mediados pela sociedade civil e pela cultura.
Uma grande praça quadrada (70 x 70 m), em cascalho fino drenante, definida por uma marquise de concreto, organiza e articula todas as funções do Paço Municipal de Hortolândia. De um lado a Prefeitura com suas secretarias, do outro a Câmara de Vereadores e o Fórum; ao centro a biblioteca e o teatro debruçado sobre a praça através de seu palco, que se estende sobre a laje da marquise, transformando-a também em palco da praça/platéia.
Cinema ao ar livre, teatro aberto, shows, manifestações públicas, festas, ou simples espaço contemplativa: PRAÇA.
A água
Uma cidade jovem, fundada no limiar do século XXI deve ter o espaço de seu Paço Municipal pautado nas relações contemporâneas Homem + Natureza e não Homem x Natureza. Assim, a água estará presente em vários espaços do conjunto, começando por um fio, como numa nascente, junto à entrada Norte. Acompanhando a declividade do terreno ela será um elemento fundamental: na definição dos caminhos; na entrada através do jardim/pomar; em toda a volta da praça a reforçar o quadrado junto à marquise; na cobertura da biblioteca, formando um espelho raso a refletir o teatro suspenso; e finalizando em um jardim aquático na entrada Sul, ponto mais baixo do terreno.
Os materiais
O concreto é o material básico de todo o conjunto: pré-moldado, moldado in loco, pigmentado, branco, cinza.
Nos blocos da Prefeitura, Câmara e Fórum propomos uma estrutura mista de concreto convencional moldado in loco e concreto pré-moldado. Um grande muro em concreto pré-moldado pigmentado com cores terrosas – do palha ao quase preto – fará a proteção da insolação Norte. Entre este grande muro e os escritórios, um jardim de paus ferro ajudará a criar um microclima agradável aos espaços de trabalho. Um pano de vidro abre estas mesmas áreas para a direção Sul, livre da insolação direta. Entre este grande caixilho e as diversas lajes, desenhadas com liberdade, quebrando-se em balanços variados e unidas por escadas que cortam o espaço em diferentes sentidos, abre-se um grande saguão de altura total, que oferece a visão panorâmica de todas as áreas de trabalho. Ao Sul, a vista se abre para a paisagem.
Para o conjunto formado pelo teatro e biblioteca definimos o concreto branco moldado in loco como elemento estrutural e de fechamento, por suas características técnicas e expressivas. O teatro se apóia em duas placas de concreto que libera o vão transversal total, fazendo de seu foyer uma extensão da praça e privilegiado belvedere para a paisagem. Acompanhando a declividade do terreno e sob o teatro, a biblioteca é um prisma de vidro solto do entroncamento que arrima a praça, no qual se entremeia um jardim de bromeliáceas e orquidáceas.
O bloco teatro/biblioteca é cortado por um eixo central de circulação, que se origina na entrada Norte, passa pelo jardim pomar, cruza a praça, mergulha na biblioteca, cruza o jardim aquático e se liga à entrada Sul.
ficha técnica
Arquitetos responsáveis
Francisco de Paiva Fanucci, Marcelo Carvalho Ferraz
Arquitetos colaboradores
Anne Dieterich, Carol Silva Moreira, Cícero Ferraz Cruz, Fabiana Fernandes Paiva, Gabriel Rodrigues Geinspum, Luciana Dornellas, Otavio Bressane Lopes, Pedro Del Guerra e Vinicius Spira