Todos sob o mesmo teto – Casas Escalonadas
Introdução: “Todos sob o mesmo teto”
Como resposta ao Concurso Público Nacional de Arquitetura para Tipologias de Habitação de Interesse Social Sustentável, apresentamos a proposta “Sob o mesmo Teto”, para a categoria “Casas Escalonadas”.
O objetivo dessa proposta é especular sobre como transportar para as tipologias de habitação do CDHU a ideia de Sustentabilidade.
Cabe aqui adiantar que essa proposta visa uma interpretação mais ampla do que seria uma tipologia sustentável.
A tipologia sustentável não é apenas aquela com desempenho energético eficiente, um orçamento enxuto, plano de coleta setetiva, ou mesmo com reaproveitamento do calor do sol e da água das chuvas. A tipologia sustentável é aquela que faz parte de um organismo maior, ela também é cidade.
Sendo assim, é necessário que essa tipologia sustentável seja dinâmica e flexível, atributos essenciais ao meio urbano de hoje.
Esse é o ponto de partida dessa proposta.
Para desenvolver essa lógica, é necessário um rompimento com as estratégias habitacionais predominantemente correntes. As tipologias habitacionais, hoje, tendem a se manter monofuncionais, estáticas e ausentes do conceito de lugar e identidade, o que é um equívoco e se opõe à idéia de sustentabilidade urbana. Como consequência, essas tipologias geram ausência de urbanidade e diversidade, quesitos tão desejados em todas as cidades e em qualquer território delas.
Projeto
tipologia e topografia
O projeto tem 3 tipologias de casa: a casa aclive, a casa declive e a casa-ponte.
A intenção foi destacar no projeto a relação entre a edificação e a topografia.
As tipologias são adaptadas à diferentes situações topográficas, incluindo as de terrenos mais acidentados, situação muito comum à se enfrentar em projetos de habitação social.
Todas são acessíveis por duas cotas de nível cuja diferença nesse projeto não ultrapassa 1,5 metros. Esses dois níveis geram adaptações das tipologias à diferentes topografias. A escada é adaptada para o desnível necessário.
Através de diferentes composições e permutações entre as tipologias, é gerado um desenho urbano dinâmico, uma paisagem com situações singulares e de fácil adaptação a contextos diferentes.
O Telhado, cuja inclinação pode ser modificada para acompanhar a topografia reforça a ideia da tipologia.
Implantação
A implantação das tipologias foi orientada no sentido de obter a densidade de 150 hab/ha.
Foram considerados os recuos vizinhos, áreas verdes, e taludes com declividade imprópria para ocupação. A lógica da implantação pode ser sistematizada da seguinte forma:
- levantamento da área de ocupação máxima;
- inserção do campo de futebol como referência central e ordenadora do conjunto habitacional;
patios coletivos
definido pelo agrupamento das 3 tipologias, são implantados numa mesma cota de nível para permitir a acessibilidade universal às tipologias e definindo a escala próxima de vizinhaça, responsáveis pela sua manutenção. Esses pátios contam com marquises, geradas a partir da disposição da casa ponte em conjunto com as casas aclive e declive.
patios internos
o patio interno social potencializa a escala íntima da familía formando um espaço social, contínuo e integrado. O patio interno de serviços permite a acessibilidade ao telhado multifuncional, que abriga a infra-estrutura sustentável da casa.
- a implantação das 3 tipologias de casas escalonadas considerando a sua disposição geográfica, sua acomodação na topografia, os aspectos individuais de cada tipologia e as dferentes situações geradas pela combinação entre elas.
- o alpêndre marca o acesso das tipologias e também abriga os medidores e a caixa de correio das unidades.
Casa Patio
A casa com pátio é uma solução urbana conveniente. O modelo de casa pátio como casa urbana auxilia o assentamento em contextos de alta densidade, garantindo as exigencias de conforto ambiental em tais situações.
O patio é o espaço que determina o vazio das tipologias, que nunca deverá ser ocupado uuma vez que garante a iluminação e ventilação, além de, neste caso, gerar o acesso ao teto multifuncional.
A intenção de adotar a casa com pátio foi influenciada pela própria localização do terreno proposto – Campos do Jordão – que possui clima particular e agradável. No entanto a tipologia se aplica perfeitamente em outros contextos, desde que levando em consideração os atributos geográficos especifícos do lugar de implantação a fim de alcançar o melhor desempenho do edifício.
Espaços Flexíveis
Os espaços flexíveis permitem um programa aberto à ampliações futuras com usos distintos, criando espaços, deixando espaços, criando diversidade e urbanidade.
São áreas adicionais ao programa habitacional básico dentro das próprias unidades. Tais áreas são cobertas e pré-delimitadas e permitem, além da própria ampliação da moradia em si, a acomodação de funções urbanas, tais como comércio, serviços, entre outros.
Ao inserir o conceito de espaços flexíveis na tipologia de Casas Escalonadas do CDHU, rompemos com a banalização da paisagem monofuncional em prol de uma paisagem dinâmica e diversificada e fornecemos um espaço de oferta para a comunidade: uma oportunidade de gerar manifestações de lugares específicos, adequados a situações especificas. Sendo assim, a ampliação admite a interpretação e assume sua identidade pelo uso.
Teto Multifuncional
O teto multifuncional é a instrumentalização da cobertura como infra-estrutura básica da moradia. O teto acolhe as funções sustentáveis da edificação e faz a comunicação dela com as instalações urbanas.
O desenho do telhado busca um maior desempenho da captação de água pluvial. Coletado através de calhas – floreras, a água pluvial coletada é reutilizada na própria tipologia.
O desenho do telhado busca também a face norte para disposição dos painéis solares para aquecimento de água. O painel solar é o próprio telhado, não havendo sobreposição de materiais.
Conforto Ambiental
O projeto contempla:
- Iluminação e ventilação pelos pátios- todos os cômodos bem ventilados;
- localização do reservatório e boiler e sua ligação com o painel solar. O painel é a própria cobertura, eliminando a redundância de duas coberturas;
- calha pluvial com plantas, que contribuem para a filtragem da água de reuso, além de reter a água em dias de fortes chuvas;
- parede de pedra e lareira (pedra local, artesanal), no caso especifico de Campos do Jordão, por ser frio. Em outras situações a lareira pode ser trocada por uma churrasqueira ou outro elemento útil à cada situação, e a pedra também pode ser trocada por outro revestimento local;
- telha cerâmica: desempenho energético eficiente em Campos do Jordão por gerar inércia térmica na cobertura. Em climas mais quentes, pode ser coberto po vegetal formando um telhado verde;
- janelas piso-teto nos quartos, protegidas visualmente por plantas;
- porta balcão nos pátios, permitindo maior ventilação e iluminação para a casa;
- depósito de lixo reciclável.
Casa Aclive - Particularidades
Sua ampliação ocorre na cota inferior.
A casa aclive possui grande possibilidades de ampliação, sendo favorável para o aumento de pessoas na família, além de ter grande potencial para abrigar funções urbanas (comércio, serviços, entre outros).
Casa Declive – Particularidades
Sua ampliação ocorre na cota superior.
A casa em declive possui três pátios em diferentes cotas de nível. Na cota superior o pátio quando descoberto pode ser usado como área de lazer e quando coberto transforma-se em um cômodo a mais, sendo assim é favorável para o aumento do número de pessoas na família.
Casa Ponte – Particularidades
Possui a propriedade de articular as outras duas tipologias. Sua acomodação no terreno tem como objetivo gerar na cota de nível inferior uma marquise coletiva e um espaço coberto para descanço.
A planta da casa ponte remete à disposição de quartos da planta bandeirista. É uma tipologia favorável para receber hóspedes ou sublocar seus cômodos. Essa planta gera a possibilidade de entradas independentes para os seus três dormitórios. A ampliação perto da passagem é conveniente para pequenos comércios.
ficha técnica
Autores
“Zoom” – arquitetura, urbanismo e design
Augusto Aneas
Fernão Morato
Guilherme Gambier Ortenblad
Colaboradores
Aline Ollertz (pesquisa),
Nova Engenharia: Mauro Zaidan (orçamento)
Werner Sobek: Jörg Spangenberg