Perspectiva Aérea [divulgação]

O horizonte conceitual que norteou o desenvolvimento desse projeto relaciona-se aos fundamentos do campo disciplinar do Paisagismo: a associação entre um desempenho ambiental, infra-estrutural e social para a cidade, profundamente ligado à construção de uma percepção, um certo olhar que qualifique esse espaço, transformando-o em um lugar referencial para a população.

O projeto de um parque no distrito federal impunha considerações acerca da qualidade do partido empregado: a opção de firmar uma chave contemporânea relaciona-se especialmente à expectativa de gerar um lugar de grande capacidade significativa; novo, não apenas no que diz respeito à proposta dos equipamentos e arquiteturas, mas também por procurar agregar a essas edificações uma espacialidade que provocasse uma singular experiência, deslocada das concepções de parques mais comuns, sem descuidar, contudo, de questões caras à arquitetura da paisagem como as condições de relevo, corpos de água e fitogeografia.

A presença do afloramento de águas, suas intermitências e a suave declividade do território suscitaram um projeto no qual o caminho das águas acontece em linhas transversais que, ora tornam a água visível, ora a canalizam, transformando em desenho aquilo que se apresentava naturalmente. De fato, outro motor do projeto foi uma das idéias que acompanha a atividade relacionada à paisagem desde seus primórdios: a relação de congruência e contraponto estabelecida entre natureza e artifício.

Croqui Conceptivo [divulgação]

A idéia foi gerar uma implantação na qual um suposto eixo de água, nublado pelo ir e vir de seus canais, desse origem a uma ocupação em gradientes: nas proximidades dos afloramentos de água e áreas brejosas, lugares mais naturalizados e de menor impacto ambiental, marcados pela presença de buritis, palmáceas que denotam a presença de água à distância na paisagem. Nas bordas, próximas ao urbano já consolidado, a maior presença das arquiteturas, ocupações de maior densidade e uso. Nas regiões intermediárias, modulações dessas ambiências, zonas de transição nas quais conviveriam qualidades de uma e outra parte.

Implantação Geral [divulgação]

Um eixo transversal articula a malha viária circundante no sentido SE - NO, ele liga dois lados da cidade do Gama que a área destinada ao parque a princípio separa. Essa ligação procura trazer para dentro do parque um deslocamento funcional entre partes sob outra perspectiva: o caminhar aqui se desenvolve em percurso diferenciado e arborizado, uma experiência que visualiza diferentes espacialidades, da pista de skate e playground, a sudeste, passando por visuais mais naturalizadas e ligadas ao Bioma do Cerrado, angicos, barrigudas e mulungus, entre outras, e às pré-existências, como os murundus.

Implantação Urbana [divulgação]

Esse eixo articula uma segunda narrativa relacionada aos corpos de água em um registro mais artificioso em suas duas extremidades: um percurso que passa por aspersores que ladeiam o playground propondo uma atmosfera mais intimista e lúdica, e o contraponto, na finalização do eixo em grande esplanada, circunferência marcada por espelho de água e a praça dos aspersores, capazes de criar diferentes imagens e ambiências. Esse lugar, que configura o espaço proposto para encontros e eventos, tem escala e magnitude para diferentes usos que podem ir da prática do aeromodelismo a apresentações, recebendo para essa qualificação a presença de palco e apoio sob a forma de edificação destinada a sanitários, sala de ensaios, camarins e guarita.

Eixo Transversal [divulgação]

Praça Cívica – Anfiteatro [divulgação]

Praça Cívica - Espelho D'Água [divulgação]

Praça Cívica - Aspersores D'Água [divulgação]

No extremo sudoeste localizou-se o estacionamento que estrategicamente supre as vagas necessárias ao parque, e que poderá funcionar como apoio a atividades existentes nessa parte da cidade, (como a Feira Permanente do Gama, fora da área do parque, ou às atividades que resultarem de ocupações anteriores, igrejas e loja maçônica).

Estacionamento [divulgação]

Vizinhas ao estacionamento, na direção norte, estão as quadras e campos, referendando uma utilização original, ampliadas e devidamente supridas de apoios, como sanitários e lanchonete. A ciclovia ladeia essas implantações, porém nessa parte do percurso a percepção estará mais próxima da cidade, na seqüência é proposta uma dupla possibilidade que apresenta a experiência de pedalar nos interiores do parque, uma delas se desenvolve pela parte mais naturalizada, adensada em espécies vegetais e sombras, e uma segunda que, vizinha ao eixo transversal, se configura como potencial parte dos deslocamentos urbanos futuros: é a via que corta o parque unindo lados da cidade.

Campo e Quadras Esportivas [divulgação]

O Bioma do Cerrado contempla um complexo de formações vegetais de grande variabilidade em seus cenários, indo de fisionomias mais campestres, os chamados campos limpos, às florestais, conhecidas como cerradões, passando pelos campos de cerrados stricto senso, os campos sujos. Essa mistura de espécies, com desenvolvido estrato herbáceo, forma verdadeiro mosaico ecológico. Essas qualidades deram ao projeto a oportunidade de experimentar diferentes ambiências, em estreito diálogo com a matriz do Bioma. O conceito de gradiente, que norteou a implantação, indo de ambientes mais naturalizados aos mais artificiais, orientou a disposição da vegetação.

A escolha das espécies obedece à fitogeografia da área, mas procura, contudo, provocar certas associações de elevado valor estético que potencializam a formação de um peculiar olhar para essa parte da cidade. A passagem das estações suscita uma modificação nessa fisionomia, ampliando assim o espectro de percepções; a experiência desses muitos lugares favorece as condições de criação de um espaço livre público que se torne referencial para a população.

Quadro Arborização [divulgação]

Florescimento Verão [divulgação]

Florescimento Outono [divulgação]

Florescimento Inverno [divulgação]

Florescimento Primavera [divulgação]

O projeto procurou agregar qualidades à proposta de implantação das PECs (Pontos de Encontros Culturais), assim, as Associações de Idosos teve seu programa incluído no corpo das novas arquiteturas do parque, participando dos blocos destinados à administração e pólo cultural. Tal decisão deve-se ao fato dessa ação representar um real ganho no que diz respeito à proximidade entre edificações e lugares destinados às atividades de convivência e exercício para a terceira idade. Falar sobre o partido da arquitetura proposta: cobertura que contempla o programa com varandas, gerando convívio com qualidades ambientais: exposições, leitura, horta comunitária, espaço multiuso (EM).

Centro Administrativo Cultural [divulgação]

Praça Comunitária [divulgação]

Espaço Atividades Acessíveis [divulgação]

A localização do playground, associada a um dos extremos do eixo transversal, torna seu acesso fácil em relação ao urbano circundante, mas ainda assim, busca construir um lugar a salvo do contato direto com os carros. A implantação tira partido do modelado do relevo, procurando gerar uma situação de proteção que dispensasse grades e alambrados.

Playground [divulgação]

A questão da continuidade visual foi um elemento sempre presente no desenvolvimento do projeto, alambrados, muros e cercas foram evitados sempre que possível, assim, o espaço proposto para o skate, prática que ganha maior número de adeptos, e que se torna parte do programa de parques e praças na atualidade, foi elaborado especialmente sob a forma de concavidades que passam a compor a paisagem não mais como obstáculos. Sua localização, nas proximidades da rua, procura por esse contato mais urbano que a atividade inspira.

Skate [divulgação]

As Placas de Sinalização foram concebidas através do arranjo de planos de chapas metálicas. O recorte e a disposição geométrica de tais planos resultaram em peças cuja espacialidade escultórica se remete ao partido arquitetônico do parque, reiterando sua própria linguagem. Em termos de categorias de informação, foram elencadas três qualidades de placas. A primeira, de maior porte, será munida de planta geral do complexo e identificará a localização dos seus principais equipamentos. A segunda intermediária orientará o usuário quanto à localização de equipamentos próximos. A terceira, menor, presta-se para informações específicas, como por exemplo, para a identificação de espécies arbóreas, viabilizando assim pontuações relativas a trilhas interpretativas.

Placas Sinalização [divulgação]

Qualificar através de um projeto e sua construção esse território urbano constitui ação de grande potencial em termos ambientais e humanos. Os parques nascem como resposta à cidade insalubre e densa no século XIX, mas com o passar dos tempos adquirem novas características. A par de suas qualidades infra-estruturais e ambientais: drenagem, renovação dos ares, salvaguarda dos corpos de água, participação no clima, existiram desde os projetos pioneiros diretrizes de uso coletivo de um espaço livre público, um lugar de encontro e lazer dos cidadãos. Essas qualidades em tempos contemporâneos passam a ser relacionadas à percepção da paisagem como algo que se constrói culturalmente, ativando novas perspectivas projetuais. Assim, o parque proposto procura unir ao programa apresentado uma paisagem memorável, capaz de conduzir à população do Gama a sua percepção como espaço vital no cotidiano da cidade.

Viveiro de Mudas [divulgação]

ficha técnica

Autores
Leandro Rodolfo Schenk
Luciana Bongiovanni Martins Schenk
Mailton Sevilha
Lisandra dos Santos Casagrande
Michel Platini Barbosa

Foto Equipe [divulgação]