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projects ISSN 2595-4245


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Neste terceiro artigo da série sobre projetos brasileiros selecionados para o Prêmio Rogelio Salmona 2014, Mauro Calliari visitou a Escola Projeto Viver, do escritório FGMF, vencedor da premiação.

how to quote

CALLIARI, Mauro. Escola Projeto Viver. A criação de um espaço de uso coletivo a partir de uma escola. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 164.01, Vitruvius, ago. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.164/5265>.


[projeto]
[ficha técnica]

"Espaços incríveis [...] nos fazem sentir algo na boca do estômago. É uma sensação de espanto e satisfação".

"se tivermos sorte, os edifícios com que convivemos nos envolvem com uma combinação de estímulos e de conforto, vibração e serenidade, além de nos oferecerem suas maiores dádivas em silêncio, sem que sequer saibamos" .

As palavras do crítico de arquitetura Paul Goldberger (1) poderiam se aplicar ao Projeto Viver, o ganhador da primeira edição do Prêmio Rogelio Salmona, divulgado no dia 21 de agosto de 2014. Se à distância, as fotos e ilustrações do projeto premiado já prenunciavam algo especial, a visita ao local em uso, aberto ao entorno, cheio de crianças e adolescentes, usufruindo dos diferentes ambientes ao mesmo tempo, só confirma essa impressão. O Espaço Viver Melhor é mesmo um projeto arquitetônico incrível.

O contexto

O complexo de favelas de Paraisópolis começou com a ocupação de um loteamento pouco habitado e ganhou força na década de 1970, atraindo os trabalhadores da construção civil. O Jardim Colombo, no lado oposto da Av. Giovanni Gronchi, tem hoje aproximadamente 18 mil habitantes.

O Jardim Colombo no “complexo” Paraisópolis
Imagem divulgação [website Prefeitura Municipal de São Paulo]

O contraste entre essas comunidades e a cidade formal dos bairros vizinhos tem sido objeto de estudos e a imagem clássica da favela ao lado do prédio com piscinas individuais em cada varanda correu o mundo. Programas de reurbanização das favelas desenvolvidos pela prefeitura são uma tentativa de melhorar as condições físicas desses ambientes, mas o reconhecimento do direito à moradia esbarra na falta de regularização fundiária; 90% das moradias são irregulares, segundo a. Ao mesmo tempo, é notável o número de ONGs formadas por moradores e funcionários de empresas do entorno. Estima-se que haja mais de 54 só em Paraisópolis.

Imediações do Projeto Viver
Foto Mauro Calliari

A Associação Viver em Família para um Futuro Melhor foi criada em 2001, por funcionários do Banco Votorantim, com sede no Morumbi, para formalizar a aproximação com a comunidade do Jardim Colombo e sua União de Moradores.  Em 2004, decidiu-se pela construção de um Centro Comunitário, que abrigasse as atividades desenvolvidas com as crianças. O local escolhido para o início das atividades comunitárias da ONG foi um terreno particular em meio à favela, que combinava descarte de lixo e um campinho de futebol. O projeto ficou a cargo do escritório paulista FGMF, liderado pelos arquitetos Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz (2).

Escola Projeto Viver, vista do pátio, São Paulo, Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo
Foto Mauro Calliari

O projeto

Se nas imagens e desenhos o projeto parece agradável, funcional e bonito, em uso a impressão de funcionalidade se intensifica. No dia da visita, mais de uma centena de crianças e adolescentes circulavam com desenvoltura pelas dependências, aproveitando os ambientes criados para atividades diversas: futebol, palco de teatro, salas de aula, biblioteca, cobertura jardim, refeitório, numa mistura de uso formal e informal. A questão fundamental é a criação de um espaço de uso coletivo tendo como mote a construção de uma escola.

Escola Projeto Viver, quadra esportiva, São Paulo, Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo
Foto Mauro Calliari

Diariamente, o espaço é frequentado pelos 160 alunos regulares do “Projeto Viver” (de 6 a 14 anos, que fazem aula de artes, esportes, informática) e os 120 do projeto “Caminhando” (entre 15 e 18 anos) e ainda por quem mais aparecer – as portas ficam abertas até as 22h. Uma menina de uns quatro ou cinco anos vem andando pela rua sozinha e entra, rindo. A coordenadora explica que ela “é de casa”. Durante todo o tempo a biblioteca é aberta para os moradores da comunidade. À noite, adultos jogam futebol na quadrazinha, construída exatamente onde já aconteciam os jogos no terreno original. A flexibilidade do uso se manifesta a todo momento: com tempo seco, os professores preferiram levar os alunos até a cobertura; lá, adolescentes traçavam em suas “linhas do tempo” seus objetivos de vida para os próximos anos. Enquanto isso, em outro bloco, crianças menores faziam sua aula de teatro.

Escola Projeto Viver, biblioteca, São Paulo, Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo
Foto Mauro Calliari

Funcionalidade

O aclive do terreno foi enfrentado logo na entrada, criando um possível anfiteatro externo. O prédio inteiro está no mesmo plano.

As muitas atividades acontecem simultaneamente em uma área relativamente pequena sem que uma atrapalhe a outra. A circulação acontece por fora dos prédios, através de passarelas de metal, o que economiza espaço interno. Além dos alunos, trinta funcionários dividem o espaço.

Escola Projeto Viver, passarelas externas, São Paulo, Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo
Foto Mauro Calliari

Desde a construção, alguns usos foram modificados, como a disposição das salas de aula e o aumento da cozinha para servir almoço para os alunos. A ONG oferece o complemento à escola, em horários alternados. Quem estuda de manhã, frequenta o Projeto Viver à tarde e vice-versa. Para ambas as turmas, é oferecido almoço.

Escola Projeto Viver, refeitório, São Paulo, Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo
Foto Mauro Calliari

Contudo, mesmo sendo bem resolvido nos aspectos funcionais, ao menos duas questões precisariam ser resolvidas: o isolamento térmico e a acessibilidade. Há um certo desconforto por causa do calor, principalmente nas salas voltadas para o oeste, como a sala onde trabalham os funcionários administrativos, que não é solucionado pelas janelas basculantes. Além disso, o prédio vai ter que ser adaptado para melhorar a acessibilidade aos andares superiores, que hoje só são alcançados por escadas, impedindo a frequência por portadores de deficiência de locomoção provisória ou permanente.

Integração com o entorno

O projeto inicial previa ausência de muros. As grades estão lá hoje, por razões de segurança, mas não atrapalham a ideia da integração com o entorno e os portões estão sempre abertos.

Lourenço Gimenes, um dos arquitetos enfatizou esse ponto em uma entrevista: “arquitetura e cidade é uma coisa só” (3). Pode-se dizer que a arquitetura do prédio contribuiu para a construção de cidade e se inseriu com rara felicidade no ambiente, abrindo-se para o entorno e participando dele.

Escola Projeto Viver passarelas de conexão entre os blocos, São Paulo, Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo
Foto Mauro Calliari

O prédio é aberto, os vidros permitem que os moradores vislumbrem o que acontece nas salas de aula – e vice-versa. A paisagem onipresente são as casas de alvenaria, muitas em construção, janelas, gente, corredores, passagens, numa composição de alta densidade cercada pelos muros da cidade formal: os condomínios, o cemitério Getshêmani.

A escola fica aberta nos finais de semana e abriga eventos com até mil pessoas em datas especiais, como Natal, Páscoa e em campanhas como a da vacinação contra gripe. Ainda oferece as instalações para eventos da comunidade como a Festa Junina, e até casamentos.

O resultado é, definitivamente, um espaço público. Com regras de funcionamento e códigos de conduta. Mas, aberto, de usufruto público.

Recursos

O êxito da iniciativa pode ser medido pela fila de espera para inscrições, que é atendida por critérios ligados à renda e à necessidade. Os custos de funcionamento e o pagamento dos trinta funcionários são cobertos parcialmente com convênios com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social. Para fechar as contas, no segundo andar da cozinha industrial a ONG produz lanches, que são vendidos para empresas. Editais contribuem com receitas pontuais e doações completam as fontes de recursos (4).

E terminamos como começamos, com as palavras de Paul Goldberger (5):

"Estudar a construção de escolas, é, em parte, estudar a educação"

"não há nada que demonstre maior compromisso com o futuro do que a arquitetura".

Escola Projeto Viver, entrada, São Paulo, Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo
Foto Mauro Calliari

notas

NA – Agradecimento a Gládis Andréia de Oliveira, gestora do Espaço Viver Melhor, pela entrevista e visita ao projeto.

NE – Esse é o terceiro de uma série de cinco artigos, publicados mensalmente, sobre os cinco projetos brasileiros selecionados para a primeira edição do Prêmio Rogelio Salmona, criado pela fundação leva o nome do arquiteto colombiano, morto em 2003, para reconhecer projetos latino-americanos que contemplam arquiteturas que geram espaços abertos /coletivos. Os projetos escolhidos do Brasil são os seguintes: Parque da Juventude, Terminal da Lapa, Praça Victor Civita, Escola Projeto Viver (vencedor geral), em São Paulo; e Terminal Digital do Ensino, em São Caetano. Além de focar seu interesse na criação, o prêmio prioriza projetos testados por pelo menos cinco anos, o que justifica o período temporal entre os anos 2000 e 2008 dos projetos selecionados. O júri do Prêmio Rogelio Salmona 2014 foi composto por Silvia Arango (Região Andina), Fernando Diez (Região Cone Sul), Ruth Verde Zein (Região Brasil), Louise Noelle Gras (Região México, América Central e Caribe) e Hiroshi Naito. Os artigos publicados são os seguintes:

CALLIARI, Mauro. O Parque da Juventude. O poder da ressignificação. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 162.03, Vitruvius, jun. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.162/5213>.

CALLIARI, Mauro. Terminal de ônibus da Lapa. Arquiteturizando a infraestrutura. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 163.03, Vitruvius, jul. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.163/5252>.

CALLIARI, Mauro. Espaço Viver Melhor – Projeto Viver. A criação de um espaço de uso coletivo a partir de uma escola. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 164.01, Vitruvius, ago. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.164/5265>.

CALLIARI, Mauro. Terminal Digital do Ensino, São Caetano do Sul. Um prédio que conversa com a cidade. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 164.01, Vitruvius, set. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.165/5303>.

CALLIARI, Mauro. Praça Victor Civita. Um espaço público de qualidade numa antiga área degradada. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 163.02, Vitruvius, out. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.166/5354>.

1
GOLDBERGER, Paul. A relevância da arquitetura. São Paulo, Bei, 2009, p. 132 e 176.

2
Informações complementares sobre o projeto podem ser encontradas no memorial disponível no website oficial do escritório: www.fgmf.com.br/fgmf.html.

3
HELM, Joanna. AD Brasil Entrevista: Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz – FGMF Arquitetos. Arch Daily Brasil, 15 abr. 2013 <www.archdaily.com.br/br/01-108753/ad-brasil-entrevista-forte-gimenes-e-marcondes-ferraz-fgmf-arquitetos>.

4
Doações podem ser feitas pelo website http://www.projetoviver.org.br/doacoes/. No mesmo espaço virtual podem ser encontradas diversas outras informações sobre a instituição.

5
GOLDBERGER, Paul. Op. cit., p. 57 e 59.

sobre o autor

Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor de organizações.

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