A casa SM se localiza em área rural, que se encontra em fase de urbanização acelerada sob forma de condomínios residenciais, a 10Km do centro de Caxias do Sul, cidade da serra gaúcha.
Tais urbanizações estão destruindo a já rarefeita mata nativa subtropical, vestígio do bioma mata Atlântica, uma vez que a cultura herdada da imigração italiana na região sempre considerou o “mato” como um inimigo a subjugar, talvez pela dureza de condição de vida que ali encontrou, ao se instalar.
É muito comum as novas residências arrasarem e nivelarem os terrenos, eliminando a mata existente, replantando somente árvores frutíferas ou ornamentais, consideradas “úteis”.
Em contraposição a essa abordagem, os arquitetos conceberam essa casa como um objeto que pousa sobre a topografia íngreme (inclinação de 45 graus) e assenta-se entre as árvores significativas, sendo a principal uma “açoita-cavalo” (Luehea sp) centenária, que determinou a posição definitiva da casa, após um estudo baseado na menor quantidade de árvores a suprimir (apenas três, médias, numa área de 250m2de obra). Também a movimentação de terreno foi mínima (uma manhã de retroescavadeira pequena).
A associação com “pousar” no terreno levou a uma forma de telhado borboleta.
A entrada é feita pela porção superior do lote, frente sul (muito fria na serra gaúcha), o que determinou, também pela privacidade (em função do ângulo de visualização), uma fachada praticamente opaca, sem aberturas, de onde se vê a cobertura verde que cobre o “piano nobile” (pavimento superior, “social”), isolando-o do frio.
Em uma inversão do padrão tradicional de residências, o setor íntimo foi posicionado abaixo, semienterrado, funcionando o escavo resultante (acoplamento da residência ao terreno) como isolante térmico do frio do inverno (os porões das casas da imigração italiana, na região, sempre foram os compartimentos mais estáveis termicamente), assim eliminando toda uma fachada que estaria sujeita perdas térmicas no inverno, e abrindo esse pavimento à orientação Norte. Esse tipo de configuração (social superior/íntimo inferior) e a escada em forma de “acesso à tumba” também cria uma associação de “descida ao reino do mundo inferior”, onde vivia Hypnos, deus grego do sono (onde vivia com seu irmão gêmeo Thanatos)...
Essa configuração invertida (área íntima e dormitórios) foi concebida como uma caixa que desliza para fora do corpo principal, como se fosse uma gaveta, apoiando-se apenas nas duas extremidades, um vão sem apoios de 12,5m, funcionando as lajes do pavimento, teto e as partições verticais como uma viga Vierendeel, afastando-se do chão 3m para preservar a segurança dos dormitórios. Na parte superior deste volume, os pilares das extremidades tornam-se uma viga horizontal deitada, que serve de assento para o deck no terraço social.
A opção por cobertura vegetal revelou-se um excelente isolante térmico para as duas placas de telhado (laje cogumelo), que, em função da inércia térmica do solo vegetal, apresentam pouca dilatação térmica, evitando trincas de movimentação e prolongando a vida útil da impermeabilização.
Os arquitetos, após esse primeiro protótipo de cobertura verde, passaram a recomendar esse sistema a posteriores clientes.
ficha técnica
projeto
Residência SM (Casa Borboleta)
localização
Brasil, Caxias do Sul RS
datas
projeto: 10/09/2007
início obra: 07/01/2008
fim obra: 31/10/2008
autores
Arquiteto Fernando dos Santos Rocha Machado
Arquiteta Rovena Maria Schumacher
colaboradores
Arquiteta Daniela Cattani
Engenheiro civil Eduardo Ekman (estrutura concreto armado)
Engenheiro elétrico Bruno Nora (instalações)
superfície total
278,03 m2
fotografia
Joel Jordani e Bruno Kriger