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OLLERTZ, Aline. Avenida São Luis em São Paulo: passado, presente e futuro. Resenhas Online, São Paulo, ano 05, n. 058.03, Vitruvius, out. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/05.058/3126>.


A Avenida São Luís é objeto de estudo de importantes trabalhos acadêmicos realizados pelos arquitetos e professores José Eduardo de Assis Lefèvre e Nádia Cahen. Apesar de tratarem do mesmo objeto, cada trabalho possui propósitos bem diferentes. O trabalho de Lefèvre conta a história da Avenida São Luis através de um levantamento precioso de projetos que ali foram construídos, muitos já demolidos, mas que ajudam o autor a remontar a história da avenida através de sua arquitetura. O trabalho de Cahen avalia o processo de evolução recente da avenida, a partir de sua verticalização, com um caráter especulativo e propositivo.

O livro de José Eduardo Lefèvre – “destinado preliminarmente a ser tese de doutorado”, conforme nos avisa Benedito Lima de Toledo, no prefácio – traz em si um árduo levantamento de dados da evolução da atual Avenida São Luís e uma crítica aos problemas sociais enfrentados atualmente pela rua. É uma obra importante para os estudos acadêmicos e para uma tentativa de compreensão e interpretação dessa Avenida, já que compila em um só trabalho bases cartográficas, plantas e fotos, que contam a história desse ícone da cidade de São Paulo.

Lefèvre estuda as várias etapas históricas da área em questão, desde a divisão das terras da família Souza Queiroz no século XIX, até sua verticalização, iniciada em meados da década de 40, apontando em cada etapa quais são os agentes e os interesses vigentes.

Primeiramente identificadas como terras do Coronel Luiz Antônio de Souza, a faixa de terras onde hoje se situa a Avenida São Luís foi identificada em planta em 1810. O primeiro caminho a cortar as terras do Coronel era chamado de Beco Comprido. Por volta de 1890 as terras do Coronel são divididas entre a família, o que foi uma peculiaridade, já que naquela época os loteamentos de chácaras tinham um caráter comercial. Com a morte do Coronel e em seguida o falecimento de sua viúva, os lotes da família se subdividiram sucessivamente, chegando ao total de 16 lotes em 1920. Já em 1930, a rua São Luiz contava com 17 palacetes isolados das divisas, duas casas geminadas e uma vila normanda.

Em 1940 com a implantação do Anel de Irradiação do Plano de Avenidas de Prestes Maia, a rua São Luiz sofre um processo de alargamento, passando de 13 para 33 metros. Para Lefèvre esse é um momento importante de inflexão da história da Rua, já que essa perde seu caráter de quase exclusividade de seus moradores e passa a exercer maior influência na região. A partir de então, a rua se transformou totalmente, sendo muitos de seus palacetes demolidos para a construção de novos prédios. Inicia-se então o processo de verticalização da rua, que, apesar disso, manteve como característica ser local para a moradia de uma população de alto poder aquisitivo.

Por volta de 1970, conseqüência do processo de verticalização e do adensamento não só da São Luiz, mas da área central como um todo, a Rua perde seu caráter residencial de luxo, cedendo lugar a muitos escritórios e salas comerciais. Isso gerou um grande inchaço na área central, resultando em péssimas condições ambientais, grandes congestionamentos e falta de locais para estacionar os veículos. É a partir desse momento, que a rua passa a entrar em decadência, visto que já não é mais desejada pelo mercado imobiliário nem mais assistida pelo Poder público.

Lefèvre mostra com seu trabalho, as diferentes etapas de interesse pela Rua. Primeiramente era uma questão de herança familiar, depois passou a ser uma área de atração de cafeicultores e fazendeiros que passaram a se instalar na área central de São Paulo, carregando essa área de valores de luxo e status. A partir dessa valorização, entra em cena o Poder público, trazendo melhorias para a área, beneficiando camadas sociais importantes da cidade. Após as melhorias do local inicia-se um processo de especulação imobiliária, que é levada às últimas conseqüências, até o ponto de saturação da avenida em meados da década de 70, momento no qual, também é deixada de lado pelos interesses públicos por não mais configurar o interesse de alguma classe específica de interesse.

Em sua conclusão, Lefèvre afirma que hoje não há um grande interesse pela área a não ser por quem tem alguma relação direta com a mesma, seja por lá possuir um imóvel, ou um trabalho ou ainda por possuir um simples vínculo afetivo ou cultural. E isso não caracteriza um interesse suficiente para chamar a atenção do Poder público que não realiza mais que algumas ações isoladas no centro, não reconfigurando seu espaço, conseqüentemente não o qualificando.

Nádia Cahen, em sua dissertação de mestrado, prioriza o processo de evolução urbana da Avenida São Luís, levantando fatos importantes como sua modernização e verticalização entre as décadas de 40 e 60 e seu processo de decadência a partir de meados de 1970. Hoje, apesar de não ter mais seu vigor anterior, estudiosos afirmam ser esta uma das avenidas com maior concentração de qualidade de arquitetura por metro quadrado na cidade de São Paulo. Diante disso e do quadro atual da Avenida, a autora faz um levantamento das plantas de todos os edifícios da Avenida e de algumas ruas ao redor e elabora um projeto de requalificação da área, priorizando seus espaços coletivos a partir de intervenções que levem os edifícios a ter elevado potencial urbano, que articulem espaços e construam a identidade urbana do lugar.

Segundo Nadia Cahen, após uma análise do processo evolutivo da Avenida, é a partir das intervenções propostas pelo Perímetro de Irradiação, do Plano Prestes Maia, e com a Lei do Inquilinato que a rua sofre uma grande transformação. Com seu alargamento de 13 para 33 metros e com o congelamento dos aluguéis, o mercado de locação passa a buscar na verticalização a maximização do lucro fundiário, esse processo se estende da década de 40 a de 70.

Com essa era da verticalização, novas técnicas de construção e novas questões estéticas foram exploradas. Visto que os grandes consumidores dessa nova arquitetura era a elite, naturalmente optou-se pela construção de apartamentos residenciais de alto padrão. Aliás a qualidade da área era flagrante, pois além dos apartamentos de luxo, a Avenida contava com a biblioteca Mario de Andrade, com um comércio caracterizado por livrarias, butiques, bares e agências de viagens, o que criava um ambiente de franca efervescência cultural.

No entanto, a partir dos anos 60, com a expansão da mancha urbana, o surgimento de novos bairros luxo e o espraiamento das áreas residenciais, a elite passa a deixar o centro e ir morar em bairros mais afastados das áreas centrais, altera-se, então, a característica dos apartamentos das áreas centrais, passando de residenciais para serviços. Em um curto prazo, isso acabou criando problemas para a região, já que esta não comportou as necessidades desse novo uso, apontando para uma falta de estacionamentos, excesso de congestionamento e má qualidade ambiental. A partir de então o patrimônio constituído na Avenida passa a ser (em alguns casos) subutilizados, depredados ou desvalorizados, por falta de manutenção e interesse.

Diante desse quadro de desvalorização e até de certa decadência, a autora propõe um projeto que prevê a requalificação da Avenida a partir de intervenções que intensifiquem e reorganizem fluxos e diversifique percursos, de forma a dinamizar esse eixo tão rico do centro novo. Com essas diretrizes, Nádia Cahen sugere a ampliação da Biblioteca Mario de Andrade, cria estacionamentos subterrâneos, abre galerias que interligam edifícios e ruas, diversificando percursos, abrindo novas possibilidades, intensificando o uso da Avenida de forma a lhe conferir uma vitalidade de maior qualidade.

O trabalho de Nádia Cahen volta-se para a situação do centro hoje, tão discutida pelos arquitetos e urbanistas, mas pouco assistida pelo Poder Público. Mostra-se assim importante, não só por resgatar a história da Avenida, mas também pelo esforço na elaboração de um projeto de intervenção, reiterando o valor emblemático da Avenida para a cidade de São Paulo.

É interessante notar como dois trabalhos investigativos sobre um mesmo objeto podem apontar para trabalhos tão diferentes e ainda que ambos tenham demarcado os mesmos momentos de inflexão na história da Avenida, diferem em interpretações e apontam para diferentes fatos ocorridos em uma mesma época. Cada autor identifica a partir de seu ponto de vista diferentes agentes e interesses na sua história.

Ainda ambos os atores concluem seus trabalhos de maneira distinta. Lefèvre busca uma razão social para os problemas enfrentados pela avenida hoje, identifica e critica os responsáveis por essa questão. Nádia projeta uma sugestão de intervenção área, tentando resgatar sua qualidade e propondo o que ela ainda pode ser. Assim, são trabalhos com visões e pontos de vista que oras se tocam, oras correm em paralelo, mas que de maneira muito rica se completam.

sobre o autor

Aline Ollertz é estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e membro do Grupo de Pesquisa O Desenho da cidade e a verticalização: São Paulo de 1940 a 1957.

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