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RIGHETTO, Sergio Pastana. Arquitetura e lógica: análise e métodos computacionais generativos. Resenhas Online, São Paulo, ano 06, n. 067.01, Vitruvius, jul. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/06.067/3110>.


Às vezes deparamos com algumas oportunidades que nos surgem para que, a partir da leitura de um livro, nossa concepção sobre determinado assunto passe por transformações que nos fazem reavaliar posturas há tempos adotadas sobre arquitetura, teoria e método de projetar. Pode-se dizer que esta obra de William Mitchell é um destes livros, que pode contribuir muito na reavaliação do que entendemos como qualidade em obras de arquitetura. Afinal, já que o objetivo do autor é apresentar uma maneira sistemática de se avaliar a qualidade de uma obra arquitetônica, melhor seria constatar mesmo como isto pode se dar, pois a crítica sobre o que é bom em arquitetura muitas vezes pode ser vazia pela falta de uma estrutura lógica que considere organizadamente todos os parâmetros de qualidade.

Outro aspecto que chama a atenção nessa importante obra é a presença de bases teóricas do “computational design” com o objetivo de oferecer suporte ao desenvolvimento de programas destinados a auxiliar o arquiteto no processo de projeto. Termo causador de grande confusão, “computational” nos leva automaticamente a considerá-la somente no uso do computador, quando pode ser também entendida no sentido de uso de operações lógico-matemáticas para se atingir determinado objetivo em “design” (palavra também de espectro muito amplo, que pode variar desde a criação de uma caneta até a concepção de toda uma cidade).

A partir da clássica discussão sobre a forma e a função dos edifícios – advinda da também clássica frase de Louis Sullivan de que “a forma deveria seguir a função”, onde nem forma, função ou seguir são termos precisos –, o autor pretende definir melhor esses termos, elucidando assim a estrutura do pensamento arquitetônico.

Como? Mostrando como as linguagens arquitetônicas podem ser estabelecidas, interpretadas e interligadas. Não apenas no aspecto funcional, o que pode tornar o ato de projetar em simplesmente construir edifícios, mas também com uma intenção retórica e uma preocupação com qualidades formais, o que torna o ato de projetar em também fazer arquitetura. Daí o interesse do autor pelos usos práticos e poéticos das linguagens arquitetônicas.

A abordagem do autor parte de algumas idéias da lógica moderna, acrescentando informações sobre pesquisas em Inteligência Artificial e Ciência Cognitiva. No início, o autor demonstra como os edifícios podem ser descritos com palavras e como essas descrições podem formalizar-se com a utilização da notação de cálculo de predicados de primeira ordem, objetivando a busca de uma linguagem crítica na descrição da qualidade dos edifícios. Também é abordada a questão da representação por meio de desenhos e maquetes, desenvolvendo a questão de mundos projetuais de acordo com determinadas regras gramaticais.

Como o próprio autor afirma na introdução do livro, e parece ser esta a essência da obra, o processo projetual é apresentado como “um processo de operações lógicas dentro de mundos projetuais, tendo como objetivo satisfazer predicados de forma e função declaradas em uma linguagem crítica”.

As três partes principais de sua tese estruturam-se de forma que, em primeiro lugar propõe-se que a relação entre crítica e projeto arquitetônico seja entendida como uma questão de semântica de uma linguagem crítica em um mundo projetual, semântica verdadeira e funcional. Depois o autor demonstra como mundos projetuais podem ser especificados por gramáticas formais. E em terceiro lugar demonstra que “as regras de tais gramáticas são uma codificação da maneira de se gerar edifícios que funcionam adequadamente, mostrando desta forma que a relação entre forma e função é fortemente influenciada pelas regras sintáticas e semânticas sobre as quais o projetista opera”, conforme palavras do autor no prefácio do livro.

Como objetivo de ordem mais prática, o autor levanta algumas questões relevantes no sentido de se desenvolver uma teoria computacional do projeto que seja mais abrangente e rigorosa para fornecer uma base adequada para o desenvolvimento de implementações, em contraponto às atuais bases teóricas do CADD (Computer Aided Architectural Design) que são raramente explicitadas, ou quando o são, acontecem de forma frágil e inconsistente.

A preocupação em alicerçar fundamentos teóricos na área de arquitetura e design é evidente, porém, ao contrário do que é afirmado na introdução do livro, o conhecimento prévio de conceitos de lógica (de antiga origem na filosofia e que atualmente aproxima-se muito da matemática), de Inteligência Artificial, de Ciência Cognitiva e de Computação Gráfica, ajuda muito na clara compreensão dos conceitos apresentados. Nas referências acrescentadas ao final de cada capítulo encontram-se ricas informações que possibilitam ao leitor se aprofundar nos temas referidos. Se por um lado certo conhecimento prévio destes temas é desejável, o problema fica resolvido nas notas de tradução introduzidas a medida que surgem termos que requerem algum conhecimento prévio que são de muita valia na compreensão e aprofundamento do livro (1).

Percebe-se também a intenção didática ao citar como exemplos, acompanhado de fartas ilustrações, as linguagens aplicadas a edifícios clássicos como templos gregos e romanos, assim com as vilas Paladianas. São exemplos onde o autor demonstra e sistematiza as intenções de projeto, além de também mostrar como elas se repetem como repertório aplicado às obras de determinados arquitetos. No capítulo final o autor chega até a citar a obra de Le Corbusier, numa demonstração de que a arquitetura moderna e contemporânea também possui regras de composição arquitetônica.

Do estilo literário adotado pelo autor, complementado por ilustrações as vezes simples porém precisas, conclui-se que há formas criativas de escrever sobre temas usualmente difíceis de serem tratados apenas com palavras. Pode-se afirmar então que a interação entre texto e imagens favorecem a atingir os objetivos a serem alcançados pelo autor. A leitura flui e ao mesmo tempo nos faz buscar as figuras para ilustrar o que se lê, além da busca pelas referências sugeridas.

Quanto à contribuição desta obra à teoria arquitetônica no que diz respeito ao ensino da arquitetura no Brasil, vem ocupar um espaço muito pouco explorado por nossos pesquisadores e que abre campo àqueles que desejem aprofundar mais os estudos da lógica na arquitetura e também, considero mais importante ainda, àqueles que queiram explorar mais a fundo a questão do uso da Computação Gráfica na produção arquitetônica nacional, a qual ainda se manifesta de forma muito primitiva em comparação à produção internacional que faz uso da Computação Gráfica de forma intensa e generativa, em contrapartida à produção nacional que na sua maioria ainda faz uso da Computação Gráfica de forma representativa apenas.

Uma amostra da contribuição que este livro de Mitchell pode dar ao desenvolvimento do uso mais intenso da tecnologia informatizada na produção nacional, está nas imagens do projeto de visual topológico que ilustram esta resenha, de autoria do escritório norte-americano Eric Owen Moss Architects. Um exemplo de arquiteto escultor que parece reforçar a via escultural de seus projetos com o uso intenso da tecnologia informática, conforme observado por James Steele em seu livro Arquitectura y revolucion digital (2).

Arquitetos escultores de qualidade o país já possui. Imagina-se com as ferramentas informatizadas de desenho e manufatura de modelos disponíveis ou a serem desenvolvidas, como se enriqueceria a arquitetura da já qualificada produção nacional.

notas

1
A resenha foi feita para a disciplina “Lógica do Projeto Arquitetônico IC-058”, do curso de pós-graduação da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, a partir da tradução inédita da professora responsável pela disciplina, Gabriela Cellani.

2
STEELE, James. Arquitectura y revolucion digital. Barcelona, Gustavo Gilli, 2001.

sobre o autor

Sergio Pastana Righetto é arquiteto formado pela FAU PUC-Campinas

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