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"Brasília: Antologia Crítica" é o livro organizado por Alberto Xavier e Julio Katinsky, com um conjunto de 67 textos sobre a capital federal. Cidade que ambicionou transformar as estruturas da sociedade brasileira e da arquitetura nacional e internacional

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PERROTTA-BOSCH, Francesco. Brasília: Antologia Crítica. Resenhas Online, São Paulo, ano 12, n. 136.03, Vitruvius, abr. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/12.136/4731>.


Terceiro livro da trilogia de Brasília na Cosac Naify e mais recente título da coleção Face Norte, Brasília: Antologia crítica, organizado pelos professores Alberto Xavier e Julio Katinsky, é uma compilação de 67 textos sobre a capital federal brasileira, produzidos por distintos autores ao longo do tempo de existência da cidade. A grande variedade de textos – escritos por ensaístas, arquitetos, urbanistas, engenheiros, historiadores, sociólogos, políticos, escritores etc. – mostra o quanto Brasília suscita incômodo e encantamento àqueles que se propõem a refletir sobre ela.

Organizada segundo uma lógica cronológica, esta antologia revela o mesmo estudo de caso a partir de distintos enfoques dos observadores, de acordo com questões prementes a cada época. A divisão do conjunto de textos é feita em cinco blocos e tem como principais cortes temporais o ano em que se instituiu a ditadura militar (1964) e o reconhecimento de Brasília como Patrimônio da Humanidade pela Unesco (1987).No centro quase inóspito do país implantou-se Brasília, cidade que reivindicou para si a identificação como monumento civil da modernidade no imaginário coletivo. Projetada e fundada há pouco mais de cinquenta anos com a função de substituir o Rio de Janeiro como nova capital do Brasil, sua concepção é fruto de uma estratégia do Estado brasileiro de criar uma cidade que encarnasse e simbolizasse a renovação política, econômica e cultural: a imagem do futuro, expressão de uma nova tradição e da nova identidade nacional perante os próprios brasileiros e o mundo. A cidade, implantada para ser polo de atração e desenvolvimento no interior do Brasil, revertendo a lógica de ocupação restrita à faixa próxima ao litoral, foi, também, a tabula rasa tão almejada pelos modernos da primeira metade do século xx, cuja crença residia na transformação da sociedade por meio da arquitetura e do projeto urbano.

O primeiro bloco de textos, “Os projetos e a crítica (1956-64)”, é constituído por registros do período de construção da capital e sua inauguração, com posturas que variam entre a esperança e o ceticismo da empreitada que transcorria no planalto central. O debate e as reflexões giravam em torno da política de desenvolvimento nacional, que tinha o deslocamento da capital como principal motor das transformações sociais esperadas, do concurso para escolha do plano da construção, com seus custos econômicos, da grande migração de trabalhadores para o gigantesco canteiro de obras que era Brasília e das impressões iniciais da primeira grande urbe constituída a partir dos fundamentos modernos elaborados nos quarenta anos que precederam sua existência. Os escritos de Mário Pedrosa, Bruno Zevi, Sigfried Giedion, Alberto Moravia, Max Bense, Lina Bo Bardi e Milton Santos, entre outros, retratam bem a reação imediata ao peculiar momento histórico de grandes transformações que se davam no Brasil.

Em tom de resposta às críticas que recebiam, a parte seguinte da publicação, “Pronunciamento dos autores”, corresponde ao posicionamento dos autores que protagonizaram a invenção de Brasília. Juscelino Kubitschek, numa escrita em forma de discurso político envolvido de teor quase místico, reitera e esclarece os argumentos que justificaram e viabilizaram a transferência da capital. A explicação de Lucio Costa, autor do projeto urbano da cidade, defende os pontos que desenvolveu na ”Memória descritiva do plano piloto”, apresentada na ocasião do concurso. Sua franca filiação aos princípios urbanísticos modernos, com ênfase em matriz de pensamento lançada por Le Corbusier, mas conjugada a um elaborado senso pessoal com relação à questão da monumentalidade, fundamentada em diversas referências de períodos históricos mais remotos, confere certo lirismo ao projeto. Finalizam este bloco dois importantes depoimentos de Oscar Niemeyer, que, para além das justificativas projetuais para seus edifícios em Brasília, expunha abertamente um momento de reflexão pessoal sobre modificações em seu modo de projetar e contribuir para a sociedade, muito impactado pelo que experimentava no canteiro de obras da capital federal.

A seção seguinte do livro, “A consolidação da cidade (1964-87)”, retrata o período da ditadura militar e o da democratização do país, que coincidem com estabelecimento e fortalecimento da crítica pós-moderna na arquitetura. Começam a se observar com maior clareza as similitudes e diferenças entre o plano elaborado por Lucio Costa e a cidade em implantação. Problemas como o surgimento das cidades satélites são explicitados, expondo a limitação do projeto moderno como transformador da estrutura da sociedade perante as desigualdades sociais. Clarice Lispector sobressai na reflexão poética acerca das incertezas e complexidade próprias a uma cidade concebida para determinado futuro mas cujo processo de crescimento fugia à ordem preestabelecida no seu plano original.

O penúltimo bloco, “Brasília estabelecida”, toma a cidade em termos simbólicos, habitacionais e de patrimônio. Das reflexões de Umberto Eco sobre o que a cidade prometeu e o que de fato é como símbolo – “da cidade socialista que deveria ser, Brasília tornou-se a própria imagem da diferença social” –, passando pelas inúmeras especulações sobre o vanguardismo da ideia de superquadra e unidade de vizinhança (e os problemas que vêm junto), este bloco finda com a celebração de Brasília como Patrimônio – da explicação do parecer de defesa de Italo Campofiorito à provocação de James Holston, segundo o qual o tombamento congela a melhor característica da cidade: sua vontade de constante inovação, o “espírito de Brasília”.   

A última parte é composta por um olhar contemporâneo para a cidade, cujo distanciamento permite ver Brasília como um fato consumado, arrefecendo certas posições politicamente apaixonadas, e, como no texto de Adrián Gorelik, inserindo a cidade e explicando seu papel na história da arquitetura moderna brasileira. Aqui também podemos encontrar textos como o de Sylvia Ficher, que priorizam a situação atual do Distrito Federal, ou como o de Sophia S. Telles, que parecem inventar novas qualificações para aspectos da concepção original implementada no plano piloto. 

Brasília: Antologia crítica não se pretende uma compilação conclusiva ou definitiva para a discussão em torno da cidade. Contudo, ao oferecer uma rica e significativa reconstrução de um conjunto de reflexões sobre Brasília ao longo do tempo, exprime amplamente as virtudes e os problemas do plano original e as contradições contidas na complexa realidade da capital do país, contribuindo, assim, para expandir o debate sobre questões prementes à sociedade brasileira e à arquitetura nacional e internacional a partir da cidade que ambicionou transformar essas estruturas. 

sobre os organizadores do livro

Alberto Xavier (1936) Arquiteto, é professor desde 2004 do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e da Universidade São Judas Tadeu. Lecionou na unb, na usp e na Universidade Católica de Santos. É organizador da primeira coletânea de textos de Lucio Costa, intitulada Lucio Costa – Sobre arquitetura (1962/2007), de Depoimento de uma geração (1987/2003) e de Brasília e arquitetura moderna brasileira – Bibliografia selecionada (1974). É autor de Arquitetura moderna em Curitiba (1982) e coautor de Arquitetura moderna paulistana (1983), Arquitetura moderna em Porto Alegre (1987) e Arquitetura moderna no Rio de Janeiro (1991).

Julio Katinsky (1932) Arquiteto, pós-doutor pela fau-usp, onde foi professor da graduação e da pós de 1962 até aposentar-se em 2002, além de ter dirigido a instituição entre 1995 e 98. É autor de inúmeros trabalhos acadêmicos, com destaque para Casas bandeiristas (1976), Leituras de arquitetura, viagens, projetos (1989), Brasília em três tempos (1991) e Renascença – Estudos periféricos (2002). Produziu ainda uma série de artigos publicados em periódicos, capítulos de livros, textos para jornais e trabalhos em anais de congressos, além de ter participado em bancas, comissões e eventos, e recebido prêmios e menções honrosas.

sobre o autor da resenha

Francesco Perrotta-Bosch é arquiteto e ensaísta. Foi editor assistente do portal Vitruvius entre 2012 e 2014. Vencedor do Prêmio de ensaísmo da revista Serrote em 2013, com o texto "A arquitetura dos intervalos". Coautor do livro Entre: entrevistas com arquitetos (Viana e Mosley, 2012). Pesquisador da X Bienal de Arquitetura de São Paulo,em 2013. Colaborou com os escritórios de Christian de Portzamparc e SIAA. 

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