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A arquiteta Letícia de Carvalho Santos narra sua experiência como mediadora do educativo da 14ª edição da Bienal Naïfs do Brasil, ocorrida no Sesc Piracicaba em 2018.

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SANTOS, Letícia de Carvalho. A expografia como obra de arte. 14ª edição da Bienal Naïfs do Brasil no Sesc Piracicaba. Resenhas Online, São Paulo, ano 18, n. 215.02, Vitruvius, nov. 2019 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/18.215/7534>.


Estagiar na 14ª edição da Bienal Naïfs do Brasil (1), cujo tema foi Daquilo que escapa, me proporcionou um contato com a arte de forma única como nunca havia experimentado antes. A começar pela espacialidade da exposição, mas retomaremos isso mais tarde.

Foram cerca de 1.200 obras inscritas (2) de 583 artistas, de 24 estados, dos quais 107 artistas foram selecionados, além de 14 artistas convidados, compondo mais de 200 obras expostas, contemplando assim 22 estados do Brasil.

Após três meses de mediação (3) com diversos grupos, de vários contextos, podíamos – nós, mediadores (4) – dizer que as obras faziam parte do nosso ser. Durante o trajeto em meio às conversas com o público, se tornava difícil distinguir quem estava falando para as pessoas, se era a obra através da minha mediação, ou eu, falando através da obra.

Mediação com uma turma de crianças, educativo da Bienal Naifs do Brasil 2018, Sesc Piracicaba
Foto Letícia de Carvalho Santos

Essa vivência possibilitou guiar o público dentre questionamentos sobre os mais variados assuntos, graças ao recorte que a curadoria fez com base no tema e também ao projeto expográfico, que contribuiu muito para essa experiência sensorial e visual na exposição.

O projeto expográfico idealizado pela arquiteta Claudia Afonso fez com que nos sentíssemos em casa: aconchegante, acolhendo todas as obras de forma que tudo parece compor uma única obra de arte.

Imagine-se visitando um artista. De qualquer idade, em qualquer lugar, que tenha qualquer produção artística. Agora, imagine-se sendo convidado a adentrar a sua casa, sentar-se na sala. Uma conversa acontece, e ele te convida para um café na cozinha. Andando pelos corredores, as paredes possuem quadros, e esses quadros compõem juntos uma leitura. Essa leitura também pode ser feita com as obras da sala, e agora da cozinha. Já sentado à mesa, você contempla o jardim lá fora, pela janela, que também permite que você visualize a rua. O jardim é repleto de plantas, e elas também se fazem presentes por toda a casa.

Ofertas de São Benedito, de Albina de Oliveira
Imagem divulgação [Bienal Naifs do Brasil 2018/Sesc Piracicaba]

Assim se fez a Bienal que existiu por alguns meses no Sesc Piracicaba (5). Lar de várias pessoas e nosso lar também. Chão de madeira, remetendo aos pisos vermelhos de casas antigas; paredes que não iam até o teto nos lembrando das casas que não tinham laje; a pintura, caiada. Enfim, são vários elementos, que contribuíram positivamente para que a atmosfera do espaço fosse única e sincera. Atmosfera essa, que tem um porquê, uma razão de ser.

O projeto expográfico era composto por duas partes. Como a Bienal é um dos maiores eventos realizado pela unidade do Sesc São Paulo em Piracicaba, ela demanda bastante espaço para abrigar todas as obras, que possuem tamanhos variados, desde pequenos cadernos, projeções no chão, a telas de com mais de dois metros de comprimento.

Essas duas partes podem ser divididas entre área interna e externa da casa, adotando aqui o partido arquitetônico utilizado no projeto. A área interna se refere a uma parte já destinada a receber as exposições. Já a área externa, foi o próprio hall de entrada do Sesc.

Sem título – Da série: Jumento City, de Sebá Neto Foto divulgação
Imagem divulgação [Bienal Naifs do Brasil 2018/Sesc Piracicaba]

Foi preciso ocupar essas duas áreas devido a quantidade de obras escolhidas para a mostra. Porém, o modo como os curadores organizaram as obras e os eixos temáticos se relacionou muito bem com o modo com que a arquiteta desenhou o projeto da exposição.

Área externa

Logo na entrada do Sesc, no hall, algumas obras da Bienal já nos recebiam. Tínhamos ali, um núcleo temático, de artistas relacionados com hospitais/clínicas psiquiátricos. Essas obras estavam “fora da casa”, isso já nos dava abertura para uma reflexão com o público. Será que esses artistas ainda não são aceitos? Ainda não são reconhecidos? Continuando, uma das obras representavam os carros do Bope (6). Da mesma forma que os carros andam na rua, a polícia está na rua. Na Bienal, aconteceu da mesma maneira, essa obra, estava, do lado de fora da casa, outro ponto muito reflexivo da exposição. Mas tínhamos também ali fora, a obra de Toninho Guimarães (7), que trazia uma série de fatos do cotidiano atual e do passado, como a expansão das cidades, queima das florestas, o uso do celular, comportamento social, entre outros.

A banana comendo o macaco / Onça avança no pescador (2017), de Toninho Guimarães
Imagem divulgação [Bienal Naifs do Brasil 2018/Sesc Piracicaba]

Ainda sobre a espacialidade da área externa, o projeto trouxe para o hall de entrada, alguns bancos/arquibancada se assemelhando a degrau de entrada das casas, que permitiam que o público se sentasse, conversasse, apreciasse as obras. Essa ambientação foi pensada para remeter as entradas das casas mais antigas, na qual as pessoas se sentavam na calçada e conversavam horas a fio. Além dos bancos, plantas estavam dispostas em frente à “casa”... e não eram quaisquer plantas, eram plantas de proteção, aquelas que encontramos em casas de vó, mais comumente, mas também encontramos nas nossas casas às vezes. Pimenta, manjericão, alecrim, arruda, entre outras formando um conjunto de sete ervas de proteção muito conhecidas na cultura popular. Acima na parede principal, uma janela, completa o visual de uma fachada. Agora que já conhecemos a casa, vamos entrar?

Área interna

A área interna que representa efetivamente o interior dessa casa, era composta por seis corredores, espaços que chamávamos de sala, pois era assim que entendíamos os ambientes. Cada uma dessas salas abrigava um tema não evidenciado pela curadoria, mas subliminar na alocação das obras: Religião; Indígena; Paisagens e Lugares; Política; Gênero e Afeto e Bichos Fantásticos. Mas os temas não se restringiam às suas salas. Com várias obras era possível estabelecer um diálogo entre os assuntos e assim, a exposição ia tomando forma na mediação.

Logo que entramos, o piso de madeira já nos anunciava para o espaço, devido ao barulho que produzia. E durante a exposição, perdi as contas de quantas crianças perguntaram: Tia, o chão vai cair? O piso, como citei anteriormente, se remetia aos pisos vermelhos encontrados nas casas mais antigas. E por mais que o da exposição fosse de madeira, e não fosse vermelho (ele era azul), assim que falávamos, todos mudavam a expressão, como quem se recorda de algo com carinho. O mesmo acontecia para as paredes, a pintura caiada. Ali dentro, assim como no lado de fora, as plantinhas se faziam presente. E a janela, era quase que uma obra a parte. Todos paravam para observar por ela. Curioso como que às vezes até a iluminação falhava (por alguma falha técnica local), mas em que casa, às vezes, não falta energia?

Tantas semelhanças com uma casa, que até mesmo os quadros pareciam terem sido colocados nas paredes como se estivessem mesmo em uma casa. Alguns até tem um alinhamento, outros, no entanto, estão pendurados meio que de forma aparentemente aleatória. Mas nada é por acaso. Até a bagunça às vezes tem um porquê. Em que casa os quadros encontram-se tão alinhados? Talvez essa disposição quisesse ser mais um desses atributos que ajudaram a materializar essa ideia? Se pensarmos no processo curatorial, entendemos que teve intencionalidade nas escolhas.

O juízo final, de Rosângela Politano
Imagem divulgação [Bienal Naifs do Brasil 2018/Sesc Piracicaba]

Durante o processo de seleção das obras, os curadores (8) estiveram em contato com vários artistas, por meio de visita aos ateliês, que muitas vezes eram a própria casa do artista. A casa ateliê. Espaço onde a arte e o artista vivem em plena harmonia. E foi assim, tão bem representado por meio do projeto de Afonso, que essa casa foi, durante os três meses que existiu, lar de muitas pessoas e pensamentos. Lar de produção de conhecimento e cultura.

Até mesmo uma estante (9) com mais de sessenta peças em cerâmica se fez presente como obra. E não tinha como passar por ela de modo indiferente. As plantas de proteção, as janelas do projeto. Por fim, essa casa que recebeu tantas pessoas queridas, foi lar do Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho), Raquel Trindade, Shoko Suzuki, e tantos outros, de artistas com dezenove anos a artistas com quase noventa anos, foi embora, para que em 2020, novamente, se instale renovada, e nos receba mais uma vez em seu espaço, na sua 15ª edição, na qual completará trinta anos de Bienal Naifs do Brasil.

notas

1
Bienal Naifs do Brasil 2018 – Daquilo que escapa, curadoria de Ricardo Resende. Sesc Piracicaba, 18 de agosto a 25 de novembro de 2018 <https://bienalnaifs2018.sescsp.org.br>. A Bienal Naifs do Brasil ocorre desde 1992, no Sesc Piracicaba.

2
As inscrições para participar da 14ª Edição da Bienal Naifs ocorreram entre 16 de janeiro a 13 de março de 2018. Para participar, as obras inscritas devem ser feitas até dois anos antes do ano do evento.

3
O trabalho de mediação consistia no acompanhamento feito pelos estagiários em visitas agendadas ou grupos espontâneos. Alguns trajetos estão disponíveis no website do evento: <https://bienalnaifs.sescsp.org.br/pt/educativo>.

4
Bianca Moniche (Ciências Sociais, Ufscar), Gabriel Ferreira (História, Unimep), Giulia Zen (Artes Visuais, Faal), Letícia Carvalho (Arquitetura e Urbanismo, Unimep), Lucas Pessuti (Cinema, Unimep), Luis Henrique Carboni (História, Unimep), Luiza Limongi (Psicologia, FHO), Maria Julia Caprecci (Cinema, Unimep), Rayana Leal (História, Unesp) e Vitor Lovatto(Psicologia, Unimep).

5
Serviço Social do Comércio – Sesc Piracicaba. Rua Ipiranga 155, Centro, Piracicaba SP, CEP 13400-480 <https://www.sescsp.org.br/unidades/18_PIRACICABA>.

6
Arlindo de Oliveira, 1951. Obra sem título/ Não corra que eu vim buscar sua alma. (S/d). Madeira, tinta acrílica, plástico, metal acrílico e cabo de aço. Artista convidado.

7
Toninho Guimarães, 1964. A banana comendo o macaco/Onça avança no pescador(2017). Acrílica sobre tela.

8
Armando Queiroz, Juliana Okuda Campaneli e Ricardo Resende

9
Carmela Pereira, 1936. Estante de esculturas, 1998-2008. Mista. Artista Convidada.

sobre a autora

Letícia de Carvalho Santos é arquiteta e urbanista (Feau Unimep, 2018), possui grande interesse em patrimônio histórico, tendo abordado o tema no trabalho final de graduação "Reabilitação do prédio da antiga Machina São Paulo”, e também sobre tecnologia e inovação na profissão. Foi estagiária no Sesc Piracicaba como educadora das exposições Rios Des.Cobertos e na 14ª Bienal Naifs.

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